Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (47)

5.12. Seja marido de uma só mulher

 “O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa” (1Tm 3.12).

 

Aqui não se estabelece uma regra dizendo que os diáconos devem ser casados. A questão civil não parece estar em foco. O que se diz é que eles, sendo casados, devem ser “maridos de uma só mulher”, devotado a ela com exclusividade em seu amor conjugal, carinho e cuidado.

 

Portanto, aqui não se cogita da questão da poligamia, visto que um polígamo, nem sequer poderia ser membro da igreja.

 

Contudo, devemos nos lembrar, que mesmo as Escrituras combatendo tal prática (Gn 2.24; Mt 19.5-6; Mc 10.6-9; Ef 5.31), a poligamia era praticada no primeiro século, inclusive entre os judeus.

 

Além do mais, não devemos nos esquecer de que os pecados sexuais eram comuns por parte de judeus e de gentios (Rm 1.27; 7.3; 1Co 5.1,8; 6.9-11; 7.2; Gl 5.19; 1Tm 4.3-8). O que Paulo está dizendo, é que tanto o bispo (= presbítero) (1Tm 3.2) como o diácono (1Tm 3.12) “deve ser um homem de moralidade inquestionável, que seja inteiramente fiel e leal à sua única e exclusiva esposa; que, sendo casado, não se põe, segundo o costume dos pagãos, em uma relação imoral com outra mulher”.[1]

 

5.13. Que governe bem seus filhos e sua própria casa

 

Em seu próprio lar, o pai da família é considerado o rei. Portanto, ele reflete a glória de Deus, por causa do controle que se acha em suas mãos. (…) Se o homem não conserva sua posição, e não se põe sob a autoridade de Cristo, de maneira a exercer sua própria autoridade na chefia de sua família, ele está, em certo sentido, obscurecendo a glória de Cristo, a qual é refletida na ordem bem constituída do matrimônio. – João Calvino.[2]

 

“O diácono seja marido de uma só mulher e governe (proi/sthmi) (= liderar, dirigir, proteger) bem (kalw=j) seus filhos e a própria casa” (1Tm 3.12).

 

O governo de sua família deve ser bom. A palavra tem o sentido de algo essencialmente bom, tendo como ingrediente, o senso de honradez e beleza. O diácono deve ser um bom pai e marido. A sua direção deve ser conduzida com dignidade, não simplesmente pela força. Essa liderança deve ser no Senhor; ou seja, conforme os preceitos bíblicos.

 

Dediquemos um pouco mais de espaço a esse assunto.

 

Em nossa época, quando o padrão bíblico de família – mesmo no seu sentido mais elementar e natural, como constituído de um homem e uma mulher – tem sido esquecido, desprezado e vilipendiado, tendo como propósito fazer ruir os valores éticos da sociedade e, assim, torná-la mais vulnerável a todo tipo de absolutismo, a responsabilidade do marido tem sido escanteada e escarnecida sem nenhum pejo.

 

Hendriksen (1900-1982) faz um comentário pertinente: “Nenhuma instituição sobre a face da terra é tão sagrada quanto a família. Nenhuma é tão básica. Segundo a atmosfera moral e religiosa da família, assim será na igreja, na nação e na sociedade em geral”.[3]

 

Concentremos a nossa atenção na família cristã, já que está é constituída por pessoas que amam a Deus e desejam obter uma maior compreensão do propósito de Deus expresso em sua Palavra (Ef 5.17).[4]

 

O enchimento do Espírito pressupõe o selo e o batismo definitivos do Espírito. Por isso mesmo, não se confunde com eles (Ef 1.13; 4.30; 1Co 12.13).[5] O batismo e o selo do Espírito são realidades efetivas para todos os crentes em Cristo;[6] já o enchimento é um dever de cada cristão que reconhece a sua eleição eterna para a salvação em santificação (Ef 1.4/2Ts 2.13).

 

A plenitude do Espírito, à qual todos os crentes devem buscar (Ef 5.18), também traz responsabilidades para os homens na condição de maridos e pais. Os princípios da Palavra de Deus são sempre amplos e multifacetados. As suas prescrições nunca são isoladas, casuísticas, ou apenas caminham em mão única. Antes, estabelecem orientações para todos, seja em que área for, em quaisquer situações que nos encontremos.

 

A história bíblica é uma demonstração prática de quão a sério devemos considerar as Escrituras, já que nas suas narrativas gradativamente vamos percebendo os frutos de uma vida que tem apreço por obedecer a Deus e os resultados da desobediência à Lei do Senhor.

 

Os mandamentos de Deus corretamente entendidos e praticados, não são penosos, ainda que amiúde nos deparemos com dificuldades resultantes dos nossos pecados (inclusive a falta de fé) e de outros, daí o exercício constante do aprendizado com Deus por intermédio da sua Palavra, que é suficiente para nos instruir, corrigir e educar (2Tm 3.16).

 

Portanto, quando esposas e maridos cumprem adequadamente os preceitos bíblicos, estes deveres passam a ser privilégios, motivos de satisfação, harmonia e crescimento para ambos.

 

Os maridos são comparados a Cristo, que se deu pela Igreja para preservá-la e, continuamente dela cuida, auxiliando-a inclusive, em sua santificação. Cabe aos maridos amar as suas esposas de forma que procure sempre o seu bem-estar, dispostos ao sacrifício se necessário para que o objeto do seu amor permaneça saudável seja em que aspecto for. “É somente quando compreendemos a verdade sobre a relação de Cristo com a Igreja, que podemos realmente agir como os maridos cristãos devem agir”, acentua Lloyd-Jones.[7]

 

Aqui, surge um outro ponto: quando o marido assim procede para com a sua esposa, quando ele consegue sair de si mesmo para objetivar prioritariamente o seu amor, está cuidando de si mesmo; os dois são uma só carne e, é impossível ser feliz fazendo o outro infeliz. Daí percebermos a relação essencial dos dois princípios: a mulher é submissa e respeita o seu marido que a quer feliz e dela cuida prioritariamente.

 

O marido, por sua vez, esquece-se de si em prol de sua esposa que, por ser-lhe submissa, está sempre à procura de melhor agradar-lhe. Assim, as Escrituras apresentam uma cadeia perfeita de relação: ambos são uma só carne, que se ama, preserva e protege. Deste ponto, fica ainda mais evidente as dificuldades inerentes a um matrimônio com jugo desigual (2Co 6.14-18).[8]

 

Maringá, 22 de agosto de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


[1]William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (1Tm 3.2-7), p. 153. Veja-se: Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 769. Para um panorama das interpretações, consulte: Gordon D. Fee,  Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: 1 e 2 Timóteo, Tito, Deerfield, Florida: Vida, 1994, p. 91-92.

[2] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 11.4), p. 331.

[3]William Hendriksen, Exposição de Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 5.22), p. 308.

[4] É necessário discernimento para interpretar as doutrinas que nos são transmitidas a fim de saber se são de Deus ou não (Jo 7.17). Portanto, devemos desejar conhecer a vontade de Deus (Ef 5.17). Paulo orava para que os colossenses “transbordassem” (plhrwqh=te). A voz passiva indica aqui a ação de Deus; para que ”Deus encha vocês” deste genuíno conhecimento (Cl 1.9/Cl 4.12/Hb 13.21).

[5]“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13). “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12.13).

[6]“A essência do cristianismo é que o Espírito Santo nos é dado, está em nós, quer tenhamos consciência dele quer não” (D. Martyn Lloyd-Jones, O combate cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 123).

[7]D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: no casamento, no lar e no trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 108.

[8] Admito que o texto de 2 Coríntios não esteja se referindo diretamente ao matrimônio; no entanto, temos de convir que este assunto ali está incluído (Veja-se: João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995,especialmente p. 139).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *