Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (46)

5.11. Sejam primeiramente experimentados

 “Também sejam estes primeiramente experimentados (dokima/zw); e, se se mostrarem irrepreensíveis (a)ne/gklhtoj) (= inculpável), exerçam o diaconato” (1Tm 3.10).

O verbo tem o sentido de provar,[1] examinar,[2] experimentar,[3] aprovar,[4] julgar,[5]apurar,[6] interpretar,[7] discernir.[8] O verbo está no imperativo presente, indicando a necessidade contínua do diácono e seu trabalho serem avaliados.

Os desafios são múltiplos. Portanto, faz-se necessário  um contínuo exame de suas atitudes, quer antes de ser eleito, quer depois, já no exercício de seu ofício.

Quero pontuar algumas questões. Submeter continuamente o diácono à prova não visa fazê-lo tropeçar, antes estimular o seu crescimento. A prova visa ao crescimento e amadurecimentos desses irmãos para que possam crescer em sua fé e edificar a igreja dentro de sua esfera de serviço.

A palavra dokima/zw era aplicada para se referir ao teste dos metais preciosos para avaliar a sua qualidade, ressalta o aspecto positivo de “provar” para “aprovar”, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4).[9]

Calvino comenta:

Numa palavra, a designação de diáconos não deve consistir de escolha precipitada e fortuita de alguém que se encontra à mão, senão que a escolha deve ter por base homens que se recomendem por sua anterior maneira de viver, de tal forma que, depois de serem submetidos a um interrogatório, sejam investigados profundamente antes que sejam declarados aptos.[10]

A conduta do diácono deve ser tão boa que ninguém tenha do que o acusar; seja irrepreensível (a)ne/gklhtoj)[11] (1Tm 3.10). Este reconhecimento deve ser por parte da Igreja e também dos “de fora” (1Tm 3.7).

Na constituição de diáconos não é necessário ter uma pressa que atropelaria todo o processo. O senso de urgência é proveitoso dentro do que é pela sua própria natureza urgente. Fora disso a nossa urgência pode não passar de precipitação. Muitas vezes é preciso ir devagar porque temos pressa.

Muitas congregações na pressa de se organizarem como igreja local, em busca de sua “autonomia”, têm se precipitado. Elas têm propriedade adequada, número de pessoas suficientes e condições financeiras para se tornarem igrejas, contudo, não têm irmãos habilitadas para o diaconato, o presbiterato e para assumir a liderança da igreja em cargos chaves. Desta forma, há uma precipitação que vai comprometer a sua constituição. Deus sabe os prejuízos que isto poderá trazer ao seu crescimento espiritual. Igrejas com pessoas imaturas espiritualmente ‒ independentemente de sua idade, funções e prestígio que possam ter granjeado em nível social, intelectual ou econômico ‒ trazem males sem conta à vida da igreja e, com frequência, doenças crônicas dificilmente resolvidas ao longo da história. Por vezes o fascínio pelas estatísticas ou desejos políticos de criações de novos presbitérios – com a consequente “maior representatividade” política – contribuem para esse mal. Que Deus tenha misericórdia de todos nós.

Maringá, 22 de agosto de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] 1Co 3.13; 2Co 8.8; 13.5; Gl 6.4; 1Jo 4.1.

[2] 1Co 11.28.

[3] Lc 14.19; Rm 12.2; 2Co 8.22.

[4] Rm 2.18; 14.22; Fp 1.10.

[5] 1Ts 5.21.

[6] 1Pe 1.7.

[7] Lc 12.56.

[8] Lc 12.56.

[9] Para um estudo mais detalhado da palavra, vejam-se: H. Seesemann, peira/w: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 6, p. 23; H. Haarbeck, Tentar (dókimos):  In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 4, p. 599; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan:  Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 278ss.; Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.

[10]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.10), p. 94.

[11] *1Co 1.8; Cl 1.22; Tt 1.6,7.

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