A Pessoa e Obra do Espírito Santo (393)

6.4.10.2.2. Comunidade de pecadores regenerados

1) A Santidade da Igreja

À primeira vista parece estranho falar da santidade da Igreja, visto ela ser composta por homens pecadores. Como já fizemos menção, a Confissão de Westminster (1647), acertadamente diz:

As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; não obstante, haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele.(XXV.5).[1]

           De fato, entre os doze apóstolos de Cristo, havia um traidor. A Igreja primitiva, com toda a sua vitalidade e testemunho, tinha em seu seio Ananias e Safira; a Igreja presente, não é diferente: Ela também não é perfeita!

          A Igreja é santa e pecadora; este é um dos paradoxos da Igreja. Com isto não queremos dizer que a Igreja Santa seja apenas uma abstração de nossa mente e, que a Igreja Pecadora seja de fato a única realidade histórica. Não. A santidade e a pecaminosidade fazem parte da vida da Igreja, não simplesmente como ideal, mas como algo real e concreto.

          Conforme já tratamos mais detalhadamente no capítulo sobre santificação, a santidade da Igreja não pode ser negada pelo fato dela não estar demonstrando isto. A Igreja é santa porque foi santificada, separada para si por Cristo Jesus.

          A santidade é um dom de Deus, resultante de nossa comunhão com Ele (santidade posicional).[2] Por outro lado, o fracasso da Igreja em viver santamente, aponta para a necessidade de buscar a santidade, sendo coerente com a sua natureza e vocação.

          Fomos santificados em Cristo para crescermos, progredirmos em nossa fé (santificação processual ou progressiva). O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). A santidade posicional requer necessariamente a santidade existencial!

          É deste modo que Paulo saúda a igreja de Roma: “A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7).[3]

2) A Santidade da Igreja e a Graça

 “À Igreja se atribui a santidade, sem que ela seja uma qualidade da Igreja”.[4] De fato, a Igreja é composta por pecadores regenerados (Jo 3.3; Tt 3.5). O pecado já não tem domínio sobre nós (Rm 6.14), todavia, ainda exerce a sua influência; por isso, o apóstolo João escreveu: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8).

          Assim, a Igreja Santa, que é composta por pecadores, revela o triunfo da graça de Deus sobre o poder do pecado. A graça é que começa, aperfeiçoa e conclui a obra da salvação em nós (Fp 1.6). Como bem disse Spurgeon (1834-1892): “A graça começa, continua e termina a obra da salvação no coração de uma pessoa”.[5] Aquele que nos regenerou e justificou, também nos santifica, modelando-nos conforme a imagem de Cristo (Rm 8.29).[6]

          Falar da Santidade da Igreja, significa declarar os atos salvadores de Deus em Cristo Jesus, o qual morreu pelo seu povo, amando-o apesar dos seus pecados (Rm 5.8; 1Jo 4.10).

          Deus olhou para nós, vendo a nossa nudez e miséria espirituais, vestiu-nos com as vestes da sua justiça e santidade manifestas em Cristo. Deste modo, a nossa santidade consiste na participação da retidão de Cristo.[7]

          A Santidade da Igreja realça a graça de Deus em Cristo. “Graça (…) é o amor de Deus em poder e formosura, brilhando contra o obscuro fundo do demérito humano”. [8]

Maringá, 30 de janeiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: J. Calvino, As Institutas,IV.1.2,7.

[2] Que Hoekema chama de “santificação definitiva” (Anthony A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 215).

[3] Veja-se: Bill J. Leonard, La Natureza de la Iglesia,Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1989, p. 126ss.

[4] Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, São Paulo: ASTE, 1965, p. 30.

[5] C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 45.

[6] Veja-se: Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo,São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 156.

[7] Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, A Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 139.

[8]James Moffatt, Grace in The New Testament, New York: Ray Long & Richard R. Smith Inc. 1932, p. 5.

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