A Pessoa e Obra do Espírito Santo (394)

3) O fundamento da santidade da Igreja

A Igreja é Santa porque o seu cabeça é santo e santificador. A santificação do Filho é em favor da Igreja (Jo 17.19). A Obra de Cristo é o fundamento da santidade da Igreja. Cristo se entregou pelo seu povo a fim de nos santificar:

Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito. (Ef 5.25-27). 

          A santificação é algo tão vital para a Igreja, que Cristo se entregou por nós, a fim de que sejamos santos. Ele não se limitou a exigir isto de nós. Cristo se entregou para que este propósito fosse possível. Entre a realidade terrível de nosso pecado e um alvo, que poderia ser etéreo, Cristo se entrega por nós para que a nossa realidade seja transformada, cumprindo assim, o seu propósito de santificação em nós. Jesus Cristo tornou-se também, para nós, o exemplo perfeito de santificação, o qual devemos perseguir (Hb 12.2/1Pe 2.21; 1Jo 2.6).

          A santidade da Igreja repousa na santidade de Cristo e no valor eterno dos seus merecimentos. “A eternidade do valor do sacrifício de Cristo, é decorrente da dignidade daquele que se ofereceu a si mesmo por nós.  Hb 4.15; 5.6; 6.20; 7.3,17, 21-26).

Lloyd-Jones (1899-1981) comenta de forma bíblica e enfática:

Aqui está a Igreja em seus farrapos, em sua imundície e vileza! Cristo morreu por ela, salvou-a da condenação. Ele a toma de onde estava e a separa para Si (…). Ela é removida do mundo para a posição especial que, como Igreja, deve ocupar.[1]

Enquanto a Igreja caminha neste mundo de pecado e vergonha, ela se suja de lama e lodo. Portanto, há manchas e nódoas nela. E é muito difícil livrar-se delas. Todos os medicamentos que conhecemos, todos os produtos de limpeza são incapazes de remover estas manchas e nódoas. A Igreja não é limpa aqui, não é pura; embora esteja sendo purificada, ainda há muitas manchas nela.

Entretanto, quando ela chegar àquele estado de glória e glorificação, ficará sem uma única mancha; não haverá nódoa alguma nela. Quando Ele a apresentar a Si mesmo, com todos os principados e poderes, e com todas as compactas fileiras de potestades celestes e contemplar esta coisa maravilhosa, a sondá-la e a examiná-la, não haverá nela nenhuma mácula, nenhuma nódoa. O exame mais cuidadoso não será capaz de detectar a menor partícula de indignidade ou de pecado.[2]

          A Palavra de Deus demonstra que por meio da única e suficiente oferta de Cristo, fomos santificados: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas (…). Porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10.10,14). “Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).

          A Santidade de Cristo em favor da Igreja, é-nos comunicada pelo Espírito Santo. Ingressar na Igreja significa fazer parte constitutiva do Corpo de Cristo: Aquele que é Santo. 

          Quando olhamos para nós mesmos, vemos os nossos pecados e a nossa depravação que nos distancia de Deus; quando, porém, olhamos para a obra vitoriosa de Cristo, conseguimos, então, enxergar a Igreja Santa, por intermédio da Sua Obra redentora e santificadora.

          Como vimos, segundo Calvino (1509-1564), a santidade e firmeza da Igreja repousam principalmente em “três coisas”, a saber: “doutrina, disciplina e sacramentos vindo em quarto lugar as cerimônias para exercitar o povo no dever da piedade”.[3]

          O exercício da santidade consiste em obedecer a Deus e usar dos meios concedidos por Ele mesmo para a nossa santificação: A Palavra e os Sacramentos. Como bem diz o Catecismo Menor de Westminster(1647), Deus exige de nós, os crentes, “o uso diligente de todos os meios exteriores pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos da salvação”. [4] Calvino arremata: “A aqueles que pensam que os filósofos têm um sistema melhor de conduta, lhes pediria que nos mostrem um plano mais excelente que obedecer e seguir a Cristo”.[5]

Maringá, 30 de janeiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 119.

[2] D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho,p. 137-138.

[3] Juan Calvino, Respuesta al Cardeal Sadoleto,p. 32.

[4] Catecismo Menor de Westminster,Pergunta, 85 In: A Confissão de Fé, O Catecismo Maior e o Breve Catecismo,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991, (Edição Especial), p. 431 (Veja-se também a Pergunta, 88).

[5]John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, p. 14.

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