Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (13)

5.5. É Irresistível

Deus exerce a Sua influência sobre o homem eleito, quebrando a sua indisposição espiritual, levando-o a desejar a salvação e a abraçá-la pela fé em Cristo (Sl 110.3; Fp 2.13; At 16.14).

Deus determina os fins e os meios: Deus elege os Seus e no tempo próprio os regenera, dando-lhes um novo coração, os atraindo de forma graciosa e irresistível para Si, capacitando-os a responder com fé à sua vocação. Como escreve Calvino: “Na verdade, o Senhor chama eficazmente só os eleitos”.[1]

 

5.6. É pessoal

 

A eleição não é abstrata; é concreta. Falar de povo de Deus ou Igreja sem falarmos de pessoas individuais, é pura abstração. Deus, no entanto, escolheu pessoas individualmente para constituírem o Seu povo, conferindo-lhes bênçãos, arrolando seus nomes no “livro da vida” (Ml 1.2; Rm 8.29; 9.10-12; Gl 1.15; Ef 1.4; 2Ts 2.13/At 13.48/Fp 4.3; Hb 12.23).[2]

 

Ninguém será salvo por proximidade genealógica, afetiva ou espacial. A eleição de Deus é pessoal e intransferível, conduzindo cada eleito à transformação espiritual pelo Espírito. Contudo, a eleição pessoal não é dispersiva; fomos predestinados para nos constituir no Corpo de Cristo, visto que fomos eleitos nele, em Cristo Jesus (Ef 1.4). Portanto, a Igreja é a comunidade daqueles que foram eleitos por Deus, tendo seus nomes escritos no livro da vida (Is 4.3; Dn 12.1; Lc 10.20; Fp 4.3; Ap 3.5).[3]

 

Deus prazerosamente manifesta a sua glória na igreja,[4] reunindo e congregando pecadores eleitos, constituindo-os em sua família, a família de Deus (Ef 2.19), santificada em Cristo Jesus (1Co 1.2).

 

Bavinck (1854-1921) enfatiza a importância da igreja na reunião e aperfeiçoamento dos santos para glorificar a Deus:

 

O propósito da igreja como instituição consiste em reunir os eleitos, edificar o corpo de Cristo, aperfeiçoar os santos e, assim, glorificar a Deus (Ef 4.11). Deus, certamente, também, poderia ter conduzido seu povo à salvação sem os meios da igreja ou do ofício, da palavra ou dos sacramentos, mas foi do seu agrado reunir seus eleitos por meio do ministério de seres humanos. O propósito da igreja é a salvação dos eleitos. Os ofícios da igreja são necessários em virtude dessa hipótese (necessitate hypothetica).[5]

 

 

Maringá, 7 de abril de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.

 


[1]João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 6.4), p. 153.

[2] “Eu vos tenho amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de Jacó? — disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó” (Ml 1.2). “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). “E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai.  E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço” (Rm 9.10-12). “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve” (Gl 1.15). “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2Ts 2.13). “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48). “A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida” (Fp 4.3). “E igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).

[3]Vejam-se: João Calvino, As Institutas, III.21.7; Herman Bavinck, Reformed Dogmatics,  Grand Rapids, Michigan: Baker Academic, 2004, v. 2, p. 402-403.

[4] Veja-se: João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.17), p. 100.

[5]Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 382.

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