Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (62)

11.2. Serviço

 

Como já vimos, um dos propósitos da eleição, é que sirvamos a Deus. O privilégio da eleição é um chamado urgente e indissolúvel ao serviço.[1] O eleito de Deus é, entre outras coisas, aquele que serve a Deus e ao seu irmão (Ef 2.10; 2Tm 2.21; 1Pe 1.2).

 

Paulo dá graças a Deus pela operosidade da fé dos tessalonicenses: “e)/rgwn th=j pi/stewj” (1Ts 1.3). A fé não é algo simplesmente contemplativo, ela se manifesta em atos. A palavra empregada por Paulo, traduzida por “operosidade” (e)/rgon), tem o sentido tanto de trabalho ativo, como de resultado do trabalho feito.

 

Paulo diz ter sido confortado com as notícias trazidas por Silas concernentes ao fato de que os tessalonicenses, mesmo sob forte tribulação, permaneciam firmes na fé (1Ts 2.14/1Ts 3.7).

 

Ainda que de passagem, vemos que o nosso trabalho deve ser guiado pela fé e, a fé, se materializa no trabalho. A Igreja de Corinto era fruto do trabalho de Paulo (1Co 9.1).

 

Tiago diz que “a fé sem obras é morta” (“pi/stij xwri\j e)/rgwn nekra/ e)sti/n”) (Tg 2.26). Ou seja, a verdadeira fé se manifesta em atos de obediência. A fé operosa é aquela que obedece aos mandamentos de Deus.

 

A fé dos tessalonicenses era tão ativa, que já se repercutira nas regiões da Macedônia e Acaia (1Ts 1.7-9). Um fato que se tornou notório foi a sua conversão a Deus e o abandono da idolatria (1Ts 1.9). O mesmo aconteceria posteriormente com a Igreja de Roma. Paulo então escreveu: “Dou graças a meu Deus mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque em todo mundo é proclamada a vossa fé” (Rm 1.8).

 

A nossa eleição revela-se em nosso serviço: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra (e)/rgon) do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho (ko/poj) não é vão” (1Co 15.58).

 

Neste sentido, Paulo instrui a Tito quanto ao que deveria ensinar:

 

Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido (pepisteuko/tej)  em Deus sejam solícitos na prática de boas obras (kalw=n[2] e)/rgwn). Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens. (Tt 3.8).

 

Afinal, fomos criados em Cristo para as boas obras: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras (e)/rgoij a)gaqoi=j[3]), as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

 

Nós agradamos a Deus quando cumprimos em nós o propósito da eterna eleição. Paulo diz que devemos viver de modo agradável a Deus, “frutificando em toda boa obra (e)/rgw a)gaqw=) e crescendo no pleno conhecimento de Deus” (Cl 1.10). O crescimento e fortalecimento da nossa fé é demonstrado por intermédio de nossa operosidade (1Ts 1.3,8).

 

11.3. Amor laborioso

 Paulo, realçando as virtudes dos tessalonicenses, dá graças a Deus pela eleição daqueles irmãos, destacando em sua cotidianidade, a “abnegação do vosso amor” (ko/pou[4] th=j a)ga/phj) (1Ts 1.3).[5]

 

O apóstolo enfatiza a atividade laboriosa de amor que, também, pode ter o aspecto da abnegação; contudo, não é exclusivamente isso. A ideia da expressão é de um amor que não teme ser importunado; sabe que o amor envolve compromissos, preocupações, labor, fadiga, importunação. O amor revelado pelos tessalonicenses não era simplesmente declarativo; ele se manifestava em atos concretos que exigiam esforços, dificuldades e exaustão.

 

Curiosamente, Paulo é quem mais utiliza esta palavra para se referir ao seu ministério: “….em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos (ko/poj)(2Co 6.4-5).(Ver: 2Co 11.23,27). Paulo trouxe à memória dos tessalonicenses, a lembrança do seu labor, de como ele se esforçou por pregar o Evangelho sem depender financeiramente daqueles irmãos: “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor (ko/poj) e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus” (1Ts 2.9/2Ts 3.8; At 20.35; 1Co 4.12; 15.10).

 

Paulo também relembra aos irmãos que quando teve de partir de Tessalônica devido à perseguição que se moveu contra ele, manteve-se preocupado com a Igreja. Assim, tendo enviado Silas e Timóteo para verificar o estado da Igreja, aguardou-os num primeiro momento em Atenas: “Foi por isso que, já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor (ko/poj) (1Ts 3.5).

 

Escrevendo aos Romanos, destaca algumas irmãs que se exauriam no trabalho de Deus: “Saudai a Maria que muito trabalhou (kopia/w) por vós” (Rm 16.6). “Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalhavam (kopia/w) no Senhor. Saudai a estimada Pérside que também muito trabalhou (kopia/w) no Senhor” (Rm 16.12).

 

Ao Anjo da Igreja de Éfeso, o Senhor diz: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor (ko/poj) como a tua perseverança….” (Ap 2.2). Na visão do Apocalipse, João registra a palavra vinda do céu: “Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas (ko/poj), pois as suas obras (e)/rgon) os acompanham” (Ap 14.13).

 

O nosso amor laborioso e operante para com o nosso próximo, é uma evidência de nossa eleição. Esta evidência deve ser vista pelo crente como sua responsabilidade e privilégio

 

São Paulo, 28 de maio de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

 

 *Leia esta série completa aqui.

 


[1]Ver: Gordon J. Spykman, Teología Reformacional: Un Nuevo Paradigma para Hacer la Dogmática, Jenison, Michigan: The Evangelical Literature League, 1994, p. 394.

[2]Kalo/j, “bom”, “útil” A palavra grega indica algo que é essencialmente bom, formoso – a ideia de beleza estética está classicamente presente nesta palavra –, útil e honroso.

[3]A)gaqo/j, denota o que é moral e praticamente bom. A vontade de Deus é boa (a)gaqo/j) (Rm 12.2) porque Ele é bom. (Lc 18.19).

[4]O verbo kopia/w e o substantivo ko/poj (“aflição”, “dificuldade”, “trabalho”, “labuta”) descrevem um trabalho estafante, difícil, árduo, trabalhar até à exaustão.

[5] ECR (Trinitariana) traduz melhor: “trabalho do amor”; também a BJ: “esforço da vossa caridade”.

3 thoughts on “Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (62)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *