A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (36)

Implicações doutrinárias e práticas

 

  1. A verdadeira fé é aquela que ouve a Palavra de Deus e descansa perseverantemente nas Suas promessas.

 

Analisando a paciência de Davi revelada no salmo 40, Calvino extrai uma “preciosa” lição:

 

Embora Deus não se apresse em surgir em nosso socorro, no entanto propositadamente nos mantém em suspenso e perplexidade; entretanto, não devemos perder a coragem, já que a fé não é totalmente provada senão pela longa espera.

 

Continua:

 

É possível que Deus nos socorra mais lentamente do que gostaríamos, mas quando parece não tomar ele conhecimento de nossa condição, ou, se é que podemos usar tal expressão, quando parece inativo e a dormitar, isso é totalmente diferente de enganar; pois se somos incapazes de suportar, mediante o vigor e o poder invencíveis da fé, o tempo oportuno de nosso livramento por fim se manifestará.[1]

 

  1. A fé salvadora encontra o seu momento de decisão, quando o pecador tocado pelo Espírito, diz na integridade de seu ser: “Eu creio Senhor”.

 

  1. A fé salvadora é a boa obra do Espírito Santo em nós, baseando-se nos feitos do Pai e do Filho: A fé é resultado do ministério da Trindade em favor do Seu Povo.

 

  1. “Se o caminho para Deus só é aberto para a fé, segue-se que todos quantos se encontram fora da fé não podem agradar a Deus”, constata Calvino.[2]

 

  1. A fé em Deus se revela eloquentemente em nosso modo de viver, agir, falar e decidir. (1Ts 1.3,8). Em outras palavras: “A fé não é alguma espécie de crença intelectual que vocês carregam consigo numa mochila, não é algo que vocês manipulam, põem e dispõem, quando quiserem, mas é algo que se assenhoreia de todo o ser de vocês”, ensina Lloyd-Jones. [3]

 

  1. Pela fé Deus nos capacita a vencer as tentações e as armadilhas de Satanás (1Pe 5.8,9; 1Jo 5.4,5).

 

  1. A doutrina da justificação pela graça mediante a fé, como centro[4] e fundamento da fé cristã, amparada na perfeita satisfação propiciada por Cristo às exigências do Pai,[5] de nenhum modo exclui a responsabilidade que temos de viver de modo prático a nossa fé. A fé deve ser evidenciada pelos seus frutos resultantes da sincera obediência a Deus.

 

  1. A genuína teologia cristã é compreensível, transformadora e operante. A Igreja como manifestação histórica do Reino é desafiada a apresentar em sua fé operante (práxis)[6] a eficácia da ética de Jesus Cristo e, a demonstrar o quanto a igreja leva a sério o seu Senhor.

 

  1. “Indubitavelmente, olhar para Deus é uma propriedade da fé, mesmo nas circunstâncias mais tentadoras, e pacientemente esperar pelo socorro que lhe fora prometido por Deus”, estimula-nos Calvino.[7] 
  2.  O culto que prestamos a Deus deve ser a manifestação de uma alma crente que pela fé conhece o seu Senhor, a Quem adora. (2Pe 3.18).

 

  1. O Senhor conhece a nossa fé (Ap 2.13,19). Usemos, pois, dos meios fornecidos por Deus para o nosso alimento espiritual e, assim, vivamos em comunhão com Ele (Hb 11.4-7). A fé faz parte de nossa responsabilidade.[8]

 

Finalmente, orienta-nos o escritor inspirado:

 

22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. 23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. 25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar. (Tg 1.22-25).

 

Temos, portanto, que nos apegar à verdade ouvida para que não nos desviemos dela. O escritor de Hebreus após falar a respeito da superioridade de Cristo sobre todas as coisas exorta-nos a dar atenção à sua Palavra, para que não nos desviemos, por negligência, em nossa rota de obediência a ele: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas (a)kou/w), para que delas jamais nos desviemos” (Hb 2.1).

 

São Paulo, 26 de março de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Este post faz parte de uma série. Acesse aqui a série completa

 

 


 

[1]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.1), p. 215.

[2]João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 11.6), p. 304.

[3] D. Martyn Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo, p. 189.

[4]Veja-se: Franklin Ferreira; Alan Myatt, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual, São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 812.

[5]Veja-se: Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 264.

[6] Jeremias denomina isso de “fé vivencial” (J. Jeremias, O Sermão do Monte, 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1980, p. 57).

[7]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 25.5), p. 543.

[8] Veja-se: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 126.

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