A Pessoa e Obra do Espírito Santo (474)

7.8. Fortalece-nos (Continuação)

Salmo 10

    No salmo 10, convivendo em uma sociedade totalmente corrompida, cujos valores representam um ateísmo teórico e prático, se materializando em perseguição e ridicularização, o  salmista revela a sua experiência e fé no cuidado do Deus que ouve as suas orações: “Tens ouvido ([m;v’) (shama), SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás (!WK) (kûn)[1] o coração e lhes acudirás (bv;q’) (qashab)(Sl 10.17).

            Ao cultivarmos a certeza de que Deus nos ouve, Deus mesmo firma os nossos corações para que não sejamos levados pelas circunstâncias e precipitadamente pela aparência dos fatos. “É uma bênção singular a que Deus nos confere quando, em meio às tentações, Ele nutre nossos corações, não os deixando retroceder dele, nem buscando em outra fonte algum outro apoio e livramento”, escreve Calvino.[2]

   Deus fortalece os nossos corações para nos firmar os passos:

Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou (!WK) (kûn) os passos. (Sl 40.2).

O Senhor firma (!WK) (kûn) os passos do homem bom, e no seu caminho se compraz.(Sl 37.23).

Firme (!WK) (kûn) está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme (!WK) (kûn); cantarei e entoarei louvores. (Sl 57.7).

           Quando nosso coração é firmado pelo Senhor nas suas promessas nos dispomos a entoar-lhe louvores com integridade:Firme (!WK) (kûn) está o meu coração, ó Deus! Cantarei e entoarei louvores de toda a minha alma” (Sl 108.1).

Deus ouve as nossas orações e fortalece o nosso coração com as suas promessas. As suas palavras não são vazias, antes, são os fundamentos de sua ação: Ele nos acode, nos socorre de fato.

            Portanto, devemos ter cautela em nossos juízos a respeito do silêncio de Deus. O aparente silêncio não é indiferença ou incapacidade. Pode ser uma manifestação de longanimidade dentro de seu propósito pedagógico (Sl 10.1).

Aqui o salmista se vale de um sinônimo para reforçar a mesma ideia. Deus nos tem ouvido ([m;v’) (shama) e, por isso, nos acode (bv;q’) (qashab) em nossas reais necessidades. Ele dá atenção a nós e à nossa súplica.

            Ainda que nem sempre sejamos ouvidos pelos nossos pares em suas limitações, incluindo a sua pesada agenda, o Senhor mantem-se próximo de nós e ouve com atenção as nossas súplicas.

            É o que revela o salmista Davi, confessando a sua ansiedade e como foi ela vencida pela fidelidade abençoadora de Deus: “Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste ([m;v‘) (shama) a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro” (Sl 31.22/Sl 10.17).[3]   

            Deus nos ouve até mesmo quando estamos sofrendo devido à nossa desobediência. Portanto, mesmo sob disciplina, podemos e devemos orar a Deus. Ele é misericordioso.

A disciplina divina não cria uma barreira de contenção, onde ficamos em um lugar totalmente isolado e incomunicável.

A nossa oração pode soar totalmente fantasiosa se o que peço a Deus nada tem a ver com a minha postura. Se peço a Deus discernimento devo me colocar atento aos sinais da instrução de Deus.

O que fazemos após orarmos revela muito a respeito da seriedade do que pedimos e como encaramos este privilégio de poder falar com Deus.

O salmista narra que orava ao Senhor e permanecia vigilante à sua resposta: “De manhã, SENHOR, ouves ([m;v’) (shama) a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Sl 5.3).

            Devemos aprender a confiar em Deus, expor-lhe em oração as nossas angústias[4] e aguardar com fé a sua resposta. Ele entende as nossas necessidades e nos responde em sua misericórdia.[5] Não tenhamos a pretensão de estabelecer para Deus o caminho da justiça.

            Não podemos deixar que as nossas experiências mutáveis se constituam apressadamente em parâmetros para a nossa teologia que deve ser proveniente das Escrituras. As Escrituras é que devem avaliar, instruir e corrigir as nossas experiências.[6]

            Oramos ao nosso Pai que é glorioso e, também, Todo-Poderoso. Paulo destaca o poder do Pai na ressurreição de Jesus Cristo o glorificando, conforme o próprio Jesus orara antes de sua entrega em favor de seu povo (Jo 17.4-5).[7] 

            Escreve o apóstolo:

19E qual a suprema (u(perba/llw) grandeza (me/geqoj) do seu poder (du/namij) para com os que cremos (pisteu/w), segundo a eficácia (e)ne/rgeia) da força (kra/toj) do seu poder (i)sxu/j) 20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais. (Ef 1.19-20).

O Senhor Jesus, desacreditado por quase todos, cruelmente torturado e morto desumanamente como um criminoso da pior espécie, é o glorioso Filho de Deus, Aquele que inverte a sentença de condenação para um ato de vitória e glória: a ressurreição do nosso Senhor.[8]

Na ressurreição de Jesus Cristo temos a poderosa manifestação pública de sua filiação divina, da aprovação de seu Ministério e a demonstração de sua glória.[9]

            O Pai glorificou o Filho na ressurreição: “Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Hb 5.5).

            O Deus a quem oramos é o Senhor das coisas que podem parecer impossíveis a homens, demônios e anjos, mas, não Àquele que é a razão e fundamento da existência de todas as coisas: O Deus soberano.

Maringá, 08 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa



[1]A palavra tem o sentido de estabelecer, firmar, manter-se reto.

[2] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 10.17), p. 230.

[3]8Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o SENHOR ouviu ([m;v’) (shama) a voz do meu lamento; 9 o SENHOR ouviu ([m;v’) (shama) a minha súplica; o SENHOR acolhe a minha oração” (Sl 6.8-9).

[4]“Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu ([m;v’)(shama) a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos” (Sl 18.6).

[5]“Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve ([m;v’)(shama) a minha oração” (Sl 4.1/Sl 4.3). “Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu ([m;v’) (shama), quando lhe gritou por socorro” (Sl 22.24). Ouve ([m;v’) (shama), SENHOR, a minha voz; eu clamo; compadece-te de mim e responde-me” (Sl 27.7). (Vejam-se também: Sl 28.2,6; 34.6,17; 39.12; 40.1; 54.2; 55.17; 61.1; 116.1; 119.149; 130.2 143.1; 145.19).

[6]“A teologia cristã oferece uma estrutura pela qual as ambiguidades da experiência podem ser interpretadas. A teologia visa interpretar a experiência. É como uma rede que podemos lançar sobre a experiência, a fim de capturar seu sentido. A experiência é vista como algo para ser interpretado, em vez de algo que em si é capaz de interpretar. A teologia cristã visa assim a dirigir-se a, interpretar e transformar a experiência humana” (Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 66-67).

[7]4Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; 5e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.4-5).

[8]“A ressurreição é a inversão divina da sentença que o mundo impôs a Jesus” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática,Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 405).

[9] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.7), p. 68-69. “A ressurreição é o ponto que marca o começo de uma nova época na existência do Filho de Deus. “Sendo antes Filho de Deus em debilidade e humilhação, pela ressurreição torna-se o Filho de Deus em poder” (Anders Nygren, Commentary on Romans, 5. ed. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 51). “Por meio de sua gloriosa ressurreição, sua investidura com poder não só foi realçada, mas também começou a resplandecer em toda sua glória” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 1.4), p. 58-59). “Gerar [Sl 2.7], aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. (…) Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um poder verdadeiramente celestial, ou, seja, o poder do Espírito, quando Ele ressuscitou dos mortos” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 1.4), p. 39,40).

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