A Pessoa e Obra do Espírito Santo (373)

3) Falarem mal

E “…. mentindo (yeu/domai), disserem todo mal (ponhro/j) contra vós” (Mt 5.11). Jesus Cristo afirma que com falsidade e mentira seremos injuriados, falarão coisas maldosas, impiedosas e perversas a nosso respeito. Aqui nos deparamos com algo mais difícil. Nós seremos, por exemplo, acusados de dizer e fazer coisas que não dissemos e não fazemos. Como é difícil suportar isso. A calúnia e difamação são formas altamente dolorosas de perseguição e alienação que estamos sujeitos por nossa fidelidade a Deus.

          Os cristãos primitivos, por exemplo, foram acusados de canibalismo devido às palavras da Ceia (“comei e bebei”); orgias (Devido à “festa do amor”, “agápe”, quando os cristãos se saudavam com ósculo santo); incendiários (devido à pregação escatológica); dissolução familiar (divisão na família quando nem todos se convertiam ao cristianismo) e rebeldia (não participavam do culto ao imperador, instrumento político de manutenção da unidade do império).[1] Todas estas acusações foram fermentando, criando, gradativamente uma atmosfera de indisposição, de senso comum avesso aos cristãos.

          Tais pessoas, em suas calúnias, refletiam a sua própria natureza: “Porque do coração procedem maus (ponhro/j) desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19/Mt 7.17-18/Mt 12.33-35).

          Essa atitude pecaminosa revela a perversidade da estrutura mundana da qual fomos libertos (Gl 1.4/1Jo 5.19).[2] “Todas as virtudes do caráter das bem-aventuranças são intoleráveis em um mundo perverso”, conclui MacArthur.[3]

          O Senhor nos diz que por causa do nosso testemunho a seu respeito seremos considerados indignos: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno (ponhro/j), por causa do Filho do Homem” (Lc 6.22).

          No Novo Testamento podemos constatar que os judeus, cheios de maldade, se valeram de homens ímpios para sublevarem a multidão em Tessalônica para perseguirem a Paulo e Silas: “Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus (ponhro/j) dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do povo” (At 17.5).

          Porque somos seus filhos, Deus nos guarda do mal (2Tm 4.18; 1Jo 5.18).[4] Mas, também, devemos orar neste sentido, intercedendo uns pelos outros: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; 2 e para que sejamos livres dos homens perversos e maus (ponhro/j); porque a fé não é de todos. 3Todavia, o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno (ponhro/j) (2Ts 3.1-3).

          Jesus orou ao Pai neste sentido: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal (ponhro/j) (Jo 17.15). Ele mesmo, evidenciando a maldade de satanás, a nossa limitação e a soberania de Deus, nos ensinou a orar deste modo: “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal (ponhro/j), pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!” (Mt 6.13).[5]

          Portanto, enquanto filhos de Deus, devemos ter horror ao mal, nos apegando ao bem: “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal (ponhro/j), apegando-vos ao bem” (Rm 12.9), rejeitando toda e qualquer expressão de mal: “Abstende-vos de toda forma de mal (ponhro/j)(1Ts 5.22).

4) Perseguição

 “10Bem-aventurados os perseguidos (diw/kw) por causa da justiça (dikaiosu/nh), porque deles é o reino dos céus. 11Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem (o)neidi/zw), e vos perseguirem (diw/kw), e, mentindo (yeu/domai), disserem todo mal (ponhro/j) contra vós. 12Regozijai-vos (xai/rw) e exultai (a)gallia/w), porque é grande o vosso galardão (misqo/j) nos céus; pois assim perseguiram (diw/kw) aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12).

          A perseguição é a síntese e o clímax do que foi exposto acima. O injuriar, mentir e falar mal são formas de perseguição e uma justificativa à perseguição mais intensa. Aquelas atitudes são formas de pressão e, também, se constituem em meios de se criar um clima de má vontade para com os cristãos. Desse modo, quando a perseguição de fato for deflagrada, encontrará eco nos corações já formatados por ouvir dizer dos males praticados pelos cristãos. O injuriar, mentir e falar mal são preparativos para intensificar a perseguição contra os discípulos de Cristo.

          O substantivo “perseguição” (Diwgmo/j = “caça”, “pôr em fuga”, “correr atrás”) dá a entender a figura simbólica de um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia. Esta palavra denota mais especificamente as perseguições promovidas pelos inimigos do Evangelho. Ela se refere sempre à perseguição por motivos religiosos (Vejam-se: Mc 4.17; At 8.1; 13.50; Rm 8.35; 2Tm 3.11).

          O verbo diw/()kw é utilizado sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc 21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para descrever a perseguição que Paulo efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp 3.6), sendo também a palavra utilizada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de sua perseguição (At 9.4-5/At 22.4,7-8/At 26.14-15/1Tm 1.13). Paulo diz que antes perseguia a igreja (Fp 3.6), mas, agora, prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14). O escritor de Hebreus enfatizando a sua intensidade, diz que devemos perseguir a paz e a santificação (Hb 12.14). Pedro ensina o mesmo a respeito da paz (1Pe 3.11).

          Jesus Cristo diz que devemos orar pelos que nos perseguem (Mt 5.44).[6] Paulo, da mesma forma, nos ensina a abençoá-los (Rm 12.14).[7]

          Jesus Cristo nos adverte quanto ao fato de que, assim iguais a ele, seremos perseguidos: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram (diw/kw) a mim, também perseguirão (diw/kw) a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo 15.20/Mt 10.23; 23.34).

          De igual modo, Paulo, com ampla experiência, estando inclusive preso devido ao seu testemunho, escreve ao jovem Timóteo: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (diw/kw) (2Tm 3.12).

          Há o risco de, sob pressão, escondermos ou racionalizarmos a nossa fé a fim de não sermos perseguidos (Gl 6.12).[8] A perseguição pode também evidenciar a superficialidade de alguns quanto a sua fé. Muitos negam-na na perseguição (Mt 13.21/Mc 4.17).[9]

          Segundo Paulo, o desafio para nós é para que suportemos com paciência as ofensas, humilhações e perseguições. Paulo, como vimos, se descreveu como sendo o último entre todos os humilhados:

9Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo (Qea/tron) ao mundo, tanto a anjos, como a homens. 10 Nós somos loucos (mwro/j) por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos (a)sqenh/j), e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis (a)/timoj). 11 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, 12 e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos (diw/kw), suportamos; 13 quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo (perika/qarma) do mundo, escória (peri/yhma) de todos (1Co 4.9-13).

          A nossa certeza deve ser a mesma de Paulo. Perseguição não significa o desamparo de Deus: 8 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; 9perseguidos (diw/kw), porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (2Co 4.8-9).

Maringá, 08 de janeiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 1, (Mt 5.10-12), p. 123-125.

[2]“O qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso (ponhro/j), segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1.4). “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno (ponhro/j) (1Jo 5.19).

[3] John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 167.

[4] “O Senhor me livrará também de toda obra maligna (ponhro/j) e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2Tm 4.18). “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno (ponhro/j) não lhe toca” (1Jo 5.18).

[5] Sobre esta petição, veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

[6]“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (diw/kw) (Mt 5.44).

[7]“Abençoai os que vos perseguem (diw/kw), abençoai e não amaldiçoeis” (Rm 12.14).

[8] “Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos (diw/kw) por causa da cruz de Cristo” (Gl 6.12).

[9]20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; 21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição (diwgmo/j) por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt 13.20-21). “Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição (diwgmo/j) por causa da palavra, logo se escandalizam” (Mc 4.17).

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