A Pessoa e Obra do Espírito Santo (400)

4) A Santidade como meta (Continuação)

Todo o viver da Igreja é “no meio de uma geração pervertida (Skolio/j) e corrupta (Diastre/fw) (15)

a) Pervertida: (skolio/j).[1] Tem o sentido literal de: “torto”, “encurvado”. Sentido figurado: perverso, malvado, desonesto, inescrupuloso.  A palavra se referia primariamente aos caminhos dos rios, “tortuoso”, ao movimento das serpentes, ao cabelo encaracolado. Por analogia passou a significar o que está torcido, pervertido.

b) Corrupta: (diastre/fw).[2]  Tem o sentido literal de: “entortar”. Sentido figurado: Pervertido, depravado, distorcido, dividido, frustrado, dividido, arruinado, extraviado. Denota uma situação anormal.

          Os filipenses deveriam ter uma vida singular no meio de uma sociedade dissimulante, com uma ética tortuosa e, por isso mesmo, perversa.

          Esse contraste de comportamento evidenciaria a diferença da igreja: “na qual resplandeceis como luzeiros (fwsth/r) no mundo” (15). Fwsth/r,[3] estrela, esplendor, radiância, brilho, luminário. O tempo presente indica a ação contínua. A palavra originalmente está associada ao brilho do sol (Ap 22.5: à luz das lâmpadas (Lc 8.6; 11.33; 15.8; At 16.29), ao calor da fogueira (Mc 14.54; Lc 22.56).[4]

          Paulo diz então, que o nosso comportamento deve refletir como estrelas no firmamento (Gn 1.14). O mundo jaz nas trevas. Hoje estamos na luz, porque Cristo nos resgatou: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”(Cl 1.13). Somos filhos da luz: “Vós todos sois filhos da luz (fw=j) e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas” (1Ts 5.5).

          Se somos filhos da luz, devemos andar como tais: “Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz (fw=j) no Senhor; andai como filhos da luz (fw=j) porque o fruto da luz (fw=j) consiste em toda bondade, e justiça, e verdade”(Ef 5.8-9).

          É nosso dever, resultante de nossa nova natureza, brilhar no mundo apontando como um sinal luminoso o caminho de Cristo: A Igreja tem uma responsabilidade missionária para com o mundo:“Vós sois a luz (fw=j) do mundo. (…) brilhe também a vossa luz (fw=j) diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.14,16).

          Do mesmo modo, Pedro escreve às igrejas: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (fw=j) (1Pe 2.9).

          Os filipenses, portanto, deveriam continuar incansavelmente sendo as “grandes luzes” no meio daquela geração pervertida e corrompida. A Igreja como a comunidade dos filhos de Deus, é conclamada a viver de forma distinta, refletindo no meio de uma geração pervertida e alienada de Deus a glória do seu Senhor (Mt 5.14-16; Jo 17.10; 2Ts 1.10-12/Dt 32.5).

          “Como as estrelas espantam a escuridão física, assim os crentes afugentam as trevas espirituais e morais. Como as estrelas iluminam o firmamento, assim os crentes alumiam os corações e vida dos homens”, conclui Hendriksen.[5]

A nossa obediência a Deus lhe agradável. O operar de Deus em nossa vontade, tem o propósito santo de nos harmonizar com a Sua vontade prazerosa que é perfeita, sábia e santa: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (eu)doki/a)[6] (Fp 2.13).

          Spurgeon (1834-1892) faz uma relevante pergunta: “De que maneira, pois, as pessoas podem manifestar gratidão para com Aquele que se ofereceu em sacrifício a não ser pela santificação?” À qual responde: “Agora, motivados pelo sacrifício redentor, somos avivados para o zelo intenso e a devoção”.[7]

          Toda esta nossa responsabilidade encontra em Cristo, o modelo perfeito. Sejamos como Paulo em sua imitação de Cristo: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós” (Fp 3.17). “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1). Só podemos imitar aquilo ou aquele a quem conheçamos bem. Prossigamos em conhecer o Senhor (2Pe 3.18).

Maringá, 02 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa  


[1] *Lc 3.5; At 2.40; Fp 2.15; 1Pe 2.18. É desta palavra que vem o termo “escoliose”. “Um desvio da curvatura da espinha, que foi denominado apropriadamente, uma vez que o termo grego descreve algo que está fora do alinhamento normal e se devia do padrão” (John F. MacArthur Jr.,  Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001,  p. 98).

[2] * Mt 17.17; Lc 9.41; 23.2; At 13.8,10; 20.30; Fp 2.15.

[3] Fwsth/r (*Fp 2.15; Ap 21.11). A palavra é proveniente de Fw+j

[4] Em todos esses exemplos, as palavras empregadas são fw=j ou Fwto/j. (Ver: H. C. Hahn; Colin Brown, Luz: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 101-107.

[5] William Hendriksen, Exposição de Filipenses,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Fp 2.14-16), p. 165.

[6] Tanto o verbo (eu)doke/w) quanto o substantivo (eu)doki/a) enfatizam aquilo ou aquele que é prazeroso, considerando a essência da coisa ou o que se tem em vista. Assim, vemos que Deus Se compraz em Jesus Cristo, o Filho amado (Mt 3.17; 12.18; 17.5; 2Pe 1.17), em quem reside, conforme a vontade de Deus, toda a plenitude da divindade (Cl 1.19/2.9). Deus tem prazer em revelar a Sua vontade aos “pequeninos” (Mt 11.25-26; Lc 10.21), concedendo o Seu Reino (Lc 12.32). Ele nos predestinou para adoção conforme o seu “beneplácito” (eu)doki/a) (Ef 1.5,9), assim como vocaciona os Seus servos conforme Sua vontade (Gl 1.15-16). Deus tem prazer em salvar o Seu povo através da pregação da Palavra (1Co 1.21). Deus opera em nós conforme a Sua liberdade soberana e prazerosa (Fp 2.13). Ela revela aspectos do ser Deus, como Aquele que é santo, justo e bondoso; por isso, a Sua vontade reflete a Sua natureza. No entanto, estas palavras não são utilizadas somente para Deus, elas também descrevem atitudes e aspirações humanas, como o desejo de Paulo pela salvação dos judeus (Rm 10.1); a sua oração em favor dos tessalonicenses (2Ts 1.11); a voluntariedade prazerosa da Igreja em socorrer os irmãos necessitados (Rm 15.26-27); o  desejo de deixar o corpo para estar com Cristo (2Co 5.8); a abnegação de Paulo em prol dos tessalonicenses, compartilhando a sua própria vida (1Ts 2.8 “estávamos prontos” (eu)doke/w)/1Ts 3.1-5: Verso 1: pareceu-nos bem (eu)doke/w) ficar sozinhos em Atenas”); sofrer pelo testemunho de Cristo, a quem amava (2Co 12.10). O Evangelho deve ser pregado: “de boa vontade(eu)doki/a) (Fp 1.15).

[7]C.H. Spurgeon, Batalha Espiritual, Paracatú, MG.: Sirgisberto Queiroga da Costa, editor., 1992, p. 56.

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