Uma oração intercessória pela Igreja (136)

         8.5.3. Paulo como mestre entre os Efésios

             Paulo como escolhido de Deus para o apostolado,[1] ministério que se encerrou no Novo Testamento, demonstra por meio do seu procedimento alguns princípios e constatações que deveriam nortear a vida daqueles presbíteros.

            Nessas instruções finais ele revela alguns aspectos do seu pastorado entre aqueles irmãos durante os três anos em que lá esteve.

            Analisemos alguns aspectos do seu ministério.

         8.5.3.1. Planejamento

         1) Quanto ao tempo

            “16 Porque Paulo já havia determinado não aportar em Éfeso, não querendo demorar-se na Ásia, porquanto se apressava com o intuito de passar o dia de Pentecostes em Jerusalém, caso lhe fosse possível. 17 De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20.16-17).

            Ainda que não sejamos senhores do tempo, é importante saber trabalhar considerando essa categoria. O tempo é um recurso precioso que Deus nos dá para desenvolver as nossas vocações. Os belos ideais visualizados a partir das Escrituras devem sempre considerar o tempo disponível para sua concretização.

            Sem dúvida para o apóstolo seria bom reencontrar os irmãos de Éfeso, porém, isso atrapalharia outro objetivo. Chamar os presbíteros da igreja à cidade de Mileto (cerca de 50 km de Éfeso) foi o caminho intermediário considerando as circunstâncias.

            É necessário que nos organizemos de forma consistente, dentro de nossas possibilidades, rumo à execução do que nos parece correto. Paulo não sabia se daria tempo de passar o Pentecostes em Jerusalém, contudo, foi se organizando de modo que pudesse abreviar o tempo na execução de sua agenda.

         2) Quanto ao conteúdo: proveitoso

                 “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa (sumfe/rw = conveniente, melhor) e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20). Sem dúvida o apóstolo não ensinou tudo que gostaria, porém, organizou o conteúdo de tal modo que o apresentou de forma sistemática priorizando o que era mais proveitoso biblicamente para a edificação e santificação daquela igreja.

          3) Quanto às circunstâncias: oportunidades

                  “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

            Durante o seu pastorado em Éfeso, o apóstolo tinha diante de si uma situação concreta: a igreja de Éfeso. Além disso, tinha um tempo limitado e um conteúdo a ser ministrado. Por isso, se valeu de todas as oportunidades para cumprir o seu trabalho ali, ensinando publicamente e, também, nas casas dos fiéis. O currículo deve sempre considerar esses elementos. O currículo ideal tende a pecar por sua falta de contato com a realidade concreta. A eloquência desse lamentável fato mais cedo ou mais tarde tenderá a aparecer por meio de frutos verdes e amargos.

              4) Quanto à abrangência ministerial: Urgência

            24Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. (…) 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.24,31).

           Realizar uma atividade com qualidade e de forma urgente é uma arte difícil, porém, pela graça, possível. Paulo tinha uma missão. Em tudo considerou a concretude da igreja (não era uma igreja abstrata), o tempo disponível, se valeu dos meios acessíveis e, organizou tudo isso de tal forma, que jamais perdesse o seu foco ou desperdiçasse energia fora de seu objetivo de instruir e edificar a igreja. O ministério pastoral deve ter sempre esse caráter, rogando a Deus discernimento no uso de nossas energias, sabendo sempre, que o poder é de Deus.

            8.5.3.2. Integralidade de conteúdo e propósito

            25 Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. 26 Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; 27 porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus.(…)31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.25-27,31).

            O apóstolo havia concluído o seu ministério presencial entre os efésios. Ele se esforçou por apresentar todo o desígnio de Deus. Conforme vimos, isso envolveu um processo metodológico (uso do tempo e demais recursos) imenso. Porém, mais do que isso significa um ensino equilibrado de toda a Escritura. É sempre perigoso nos tornar cativos de nossas predileções doutrinárias ou de determinadas ênfases relacionadas aos usos e costumes. Creio que a pregação expositiva das Escrituras, entre outras virtudes, nos previne de algumas dessas armadilhas.

            Destaquemos alguns pontos:

         1) Suficiência das Escrituras para conduzir e preservar a igreja

            “Agora, pois, encomendo-vos (parati/qhmi) ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados” (At 20.32).

            A igreja foi instruída com base nas Escrituras. Os presbíteros sabem disso. Agora ele os confia ao Senhor e à sua Palavra que é poderosa para lhes salvar, instruir e guardar (Rm 1.16). O apóstolo diz então, que eles não precisam de mais nada para cuidarem de si mesmos e da igreja. A Palavra tem todos os ensinamentos necessários para nos conduzir em segurança.

De fato, a Palavra é suficiente para todas as nossas necessidades em todas as circunstâncias e fases de nossa vida.  Escreve o apóstolo: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, (didaskali/a)[2] para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16).[3]

São Paulo, 30 de agosto de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Ninguém pode fazer de si próprio um apóstolo” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1997, (1Tm 1.1), p. 26).

[2] A palavra significa “ato de ensino”, “instrução”, “treinamento”, podendo ser também empregada na forma passiva, indicando “aquilo que é ensinado”, “instrução”, “doutrina” (* Mt 15.9; Mc 7.7; Rm 12.7; 15.4; Ef 4.14; Cl 2.22; 1Tm 1.10; 4.1,6,13,16; 5.17; 6.1,3; 2Tm 3.10,16; 4.3; Tt 1.9; 2.1,7,10).

[3]Para uma análise mais detalhada desse texto, veja-se: Hermisten M.P. Costa, Introdução à Educação cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2012.

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