Uma oração intercessória pela Igreja (137)

           2) O Deus Trino: Transcendente e que se revela – fala e age

           21testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. (…) 23 senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. (…) 28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue (At 20.21,23,28).

            Paulo apresentou a mensagem de um Deus vivo que se deu a conhecer fidedignamente como o Deus Trino e, que se compromete total e pessoalmente com a salvação de seu povo.

            A doutrina da Trindade é uma das marcas características do Cristianismo, sendo fundamentalmente dependente da revelação bíblica.[1] Ela sofreu ao longo da história diversos ataques, muitos dos quais resultantes de uma compreensão limitada e errada dos ensinamentos bíblicos.

            Bavinck (1854-1921) acentua a importância dessa doutrina para a Igreja ao longo da história:

           O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a marca registrada de nossa religião, e o prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente creem em Cristo.

          Essa confissão foi a âncora na guerra de tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã.[2]

            Essa doutrina  não é decorrente – como alguns equivocadamente pensam –, de especulação humana. Antes, a nossa dependência na formulação e compreensão desta doutrina é unicamente proveniente da iluminação do Espírito por intermédio da Palavra. As Escrituras Sagradas contém elementos suficientes para a formulação desse ensino. Essa doutrina é tão surpreendente que jamais poderia ter sido inventada pelo homem; ela é resultado da Revelação Especial de Deus que nos foi concedida para que conheçamos o Trino Deus e o adoremos.

         3) A Pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo

                19servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram, (…) 21 testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. (…) 25 Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. (…) 28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue(At 20.19,21,25, 28).

            A divindade de Cristo e a sua humanidade faziam parte de seus ensinamentos. A sua mensagem envolvia a realidade de que Jesus Cristo é o Senhor e reina sobre todas as coisas. 

        4) Universalidade do pecado

             19servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas (e)piboulh\)(= plano, conspiração)[3] dos judeus, me sobrevieram, (…) 21 testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.19,21).

            A mensagem de salvação é para todos os homens: judeus e gentios. A perseguição que o Apóstolo sofreu por parte dos judeus e que se repetia em seu ministério ilustra esse fato. (At 9.24; 20.3,19; 23.30).

            Todos pecaram. O homem além de não querer, nada pode fazer para deixar de pecar. Após a queda, a natureza humana se corrompeu total e intensamente, e estendeu essa contaminação a todas as áreas da sua vida. A transgressão trouxe um quadro de irreversibilidade pecaminosa que se perpetuou em todos os seres humanos. Ou seja: o homem continuou nesta prática (Gn 6.5; 8.21; Is 64.6; Rm 3.9-12). A Escritura nos fala que o pecado, comum a todos nós (Rm 3.23), nos fez cativos (Jo 8.34; Rm 6.20; 7.23[4]), habitando em nós (Rm 7.17,20),[5] mantendo-nos sob o seu domínio.

            Negar a nossa condição de pecador é negar a própria Palavra do Deus que é luz (1Jo 1.5): “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1.10). A insensibilidade pecaminosa não nos santifica nem nos inocenta. “Não ser consciente de pecado algum é o pior pecado de todos”, interpreta Barclay.[6]

            O pecado é o grande nivelador de toda a humanidade: todos pecaram. Logo, não há lugar para arrogância ou supostas boas obras justificadoras (Rm 3.19-20).[7] Se todos pecaram, isso significa que nós também pecamos; se todos precisam de salvação, significa que nós também precisamos. “Pecado não é algo peculiar a uns poucos, senão que permeia o mundo inteiro”, comenta Calvino.[8] O pecado nos condena e, ao mesmo tempo, nos impossibilita totalmente de nos salvar a nós mesmos.

            Na Oração do Senhor temos um indicativo da universalidade do pecado. “O fato de Jesus ensinar a todas as pessoas a fazerem esta oração demonstra a universalidade do pecado; e para repetir esta oração se requer um sentido de pecado”, conclui Barclay (1907-1978).[9]

            Por isso mesmo, o Evangelho deve ser anunciado a todos indistintamente. Todos nós precisamos nos arrepender e crer em Jesus Cristo. Esta foi a mensagem de Paulo em Éfeso.

São Paulo, 30 de agosto de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Cf. Augustus H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Hagnos, 2003, v. 1, p. 452.

[2]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 145.

[3] * At 9.24; 20.3,19; 23.30.

[4]“….Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). “Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça” (Rm 6.20). “Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23).

[5]“Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. (…) Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim” (Rm 7.17,20).

[6] W. Barclay, El Padrenuestro,Buenos Aires: La Aurora; ABAP, 1985, p. 118.

[7]“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.19-20).

[8]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 2.2), p. 52.

[9]W. Barclay, El Padrenuestro,Buenos Aires: La Aurora; ABAP., 1985, p. 118.

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