Uma fé que investiga e uma ciência que crê (21)

3) Preserva a Criação

Pelo fato de Deus ser o Todo-Poderoso, Ele pode determinar livremente as suas ações, o que de fato faz, manifestando tal poder nos seus decretos.[1]

Deus eternamente tem diante de si uma infinidade de possibilidades de “decisões” sobre todas as coisas. Entretanto, ele “decidiu”[2] fazer do modo como fez por seus próprios motivos, sem que haja a possibilidade de influência de ninguém, nem de anjos, nem de homens, visto que nenhum deles havia sido ainda criado e, também, porque Deus não necessita de conselhos (Is 40.13,14; Rm 11.33-36).[3] O plano de Deus é sempre o melhor, porque foi ele quem sábia e livremente o escolheu!

Desse modo, podemos dizer que as coisas que são, existem por decisão de Deus. Somente Ele como Criador que é, pode também preservar todas as coisas. Bavinck (1854-1921), de forma sumária afirma: “Sem Ele, não há existência nem propriedade. Somente Ele tem autoridade absoluta. Sempre e em toda parte Ele decide”.[4]

Deus não somente criou o universo e, portanto, é o seu dono, mas, também o sustenta. Deus é o Senhor criador e preservador, conduzindo a realidade de forma teleológica de maneira que os fins estabelecidos por Ele mesmo se consumem por meio das causas secundárias conforme as suas propriedades e, no caso do ser humano, de acordo com o uso de sua livre agência.

Portanto, o Senhor não renunciou a sua criação, antes, a mantém sob o seu cuidado. É no exercício contínuo de seu poder, por exemplo, que as leis que regulam o universo foram criadas e são preservadas. 

Desse modo, não há autonomia em nenhuma criatura fora de Deus. Diversos salmos revelam essa compreensão:

Tu, SENHOR, preservas os homens e os animais. (Sl 36.6).

Reina o SENHOR. (…) Firmou o mundo, que não vacila. (Sl 93.1).

Dizei entre as nações: Reina o SENHOR. Ele firmou o mundo para que não se abale e julga os povos com equidade. (Sl 96.10).

No Salmo 65 lemos que Deus mantém a Criação (Sl 65.6) e o controle sobre as estações,[5] a natureza e os povos (Sl 65.7). Duas possíveis ameaças para o homem estão sob o controle de Deus: O mar bravio e o tumulto das gentes:

6 que por tua força consolidas os montes, cingido de poder;    7 que aplacas o rugir dos mares, o ruído das suas ondas e o tumulto das gentes. 8 Os que habitam nos confins da terra temem os teus sinais; os que vêm do Oriente e do Ocidente, tu os fazes exultar de júbilo. 9 Tu visitas a terra e a regas; tu a enriqueces copiosamente; os ribeiros de Deus são abundantes de água; preparas o cereal, porque para isso a dispões, 10 regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas. Tu a amoleces com chuviscos e lhe abençoas a produção.11 Coroas o ano da tua bondade; as tuas pegadas destilam fartura, 12 destilam sobre as pastagens do deserto, e de júbilo se revestem os outeiros. 13 Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de espigas; exultam de alegria e cantam. (Sl 65.6-13). (Destaques meus)

Deus cumpriu a sua promessa que fizera no deserto:

A terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que cuida o SENHOR, vosso Deus; os olhos do SENHOR, vosso Deus, estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano. (Dt 11.11-12).

Além do poder de Deus manifesto, todos esses sinais são entendidos como manifestações da bondade de Deus (Sl 65.11).

Semelhante interpretação é dada por Paulo pregando em Listra: “Não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo os vossos corações de fartura e de alegria”(At 14.17).

Maringá, 13 de abril de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: Confissão de Westminster(1647), Capítulo III.

[2] Reconheço que a palavra decisão não é a melhor, pois, pressupõe a ideia de algo anterior à decisão; no entanto, não disponho de outra melhor. A ideia é que eternamente Deus sempre teve diante de si as escolhas e eternamente as fez livre e soberanamente. (Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 246).

[3]33Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! 34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? 35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? 36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36).

[4] Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 235.

[5]“Cada primavera é como uma visita divina” (F.B. Meyer, Joyas De Los Salmos, 2. ed. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, v. 1, (Sl 65.9), p. 68).

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