Uma fé que investiga e uma ciência que crê (20)

2) Tudo pertence a Ele (Continuação)

Enquanto para os ímpios o governo de Cristo é juízo, para os fiéis é motivo de alegria e serviço ao Senhor (Sl 2.3,11).[1] Os súditos voluntários do Reino são felizes (Sl 2.12)[2] e, portanto, podem se alegrar em seu serviço (Sl 2.11).[3]

Domínio partilhado

  Esse domínio de Deus é voluntariamente partilhado com o homem. Foi assim desde o início, conforme descreve o livro de Gênesis. Deus delega a Adão e a Eva poderes para cultivar (db;[‘) (‘abad) (lavrar, servir, trabalhar o solo) e guardar (rm;v’) (shãmar) (proteger, vigiar, manter as coisas)[4] o jardim do Éden (Gn 2.15/Gn 2.5; 3.23), validando a sua relação de domínio, não de exploração e destruição, antes, um cuidado consciente, responsável e preservador da natureza:[5]

6 Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: 7 ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; 8 as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares. (Sl 8.6-8).

Aqui o primeiro casal, atendendo ao mandato cultural (civilizatório), em uma atividade familiar exclusivamente humana, pode desenvolver e aprimorar a sua capacidade e potencialidades, refletindo a sua condição de imagem e semelhança de Deus. “Cabe-lhe desenvolver não somente a agricultura, a horticultura e a criação de animais, mas também, a ciência, a tecnologia e a arte”, interpreta Hoekema (1913-1988).[6]

Na sequência, continua:

Mas o homem ‒ isto é nós mesmos ‒, deve dominar a natureza de tal modo que seja também seu servo. Devemos preservar os recursos naturais e fazer o melhor uso possível deles. Devemos evitar a erosão do solo, a destruição temerária das florestas, o uso irresponsável da energia, a poluição dos rios e dos lagos e a poluição do ar que respiramos. Devemos ser mordomos da terra e de tudo o que há nela e promover tudo o que venha a preservar a sua utilidade e beleza para a glória de Deus.[7]

Todavia, todas essas atividades envolvem o trabalho compartilhado por Deus com o ser humano. O nomear, procriar, dominar, guardar e cultivar refletem a graça providente e capacitante de Deus. É neste particular – domínio – que o homem foi bastante aproximado de Deus pelo poder que lhe foi outorgado.

O salmista escreve: “Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens” (Sl 115.16).

Glorificamos a Deus no uso adequado de nossos talentos

Quando usamos adequadamente dos recursos que Deus nos confiou para dominar a terra, estamos cumprindo o propósito da criação glorificando a Deus. É necessário, portanto, que glorifiquemos a Deus em nosso trabalho pela forma legítima como o executamos. Devemos estar atentos ao fato de que o nosso domínio está sob o domínio de Deus. A Criação pertence a Deus por direito; a nós por delegação de Deus (Sl 24.1; 50.10-11; 115.16).[8] Ele mesmo compartilhou conosco este poder, contudo, não abriu mão dele.[9] Teremos de prestar-lhe contas.

Nesse sentido, ainda que o nosso domínio seja validado, especialmente pelo avanço da ciência, novos desafios surgem. A plenitude desse domínio é encontrada em Cristo Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Algo admirável no salmo 8 é que o salmista em seu hino começa referindo-se a Deus, glorificando o nome de Jeová (hwhy), e conclui tornando a ele, testemunhando com júbilo a magnificência de seu nome em toda a terra: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. (…) 9 Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! (Sl 8.1,9).

A Criação revela de forma majestosa o nome de Deus. No homem, de modo especial, tal majestade é vista de forma ainda mais eloquente.[10]

Esse Deus que nos criou com sabedoria e compartilha conosco o seu poder, que criou e domina sobre todo o universo, porque tudo lhe pertence, é o nosso pastor.

Maringá, 13 de abril de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]3Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. (…) 11 Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Sl 2.3,11).

[2]“Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (Sl 2.12).

[3] “A verdadeira alegria da vida cristã também depende de um correto entendimento da doutrina” (D. Martyn Lloyd-Jones, A vida de paz, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 26).

[4] Vejam-se: Gn 3.24; 30.31; 2Sm 15.16; Sl 12.7; Is 21.11-12.

[5]Vejam-se: Francis A. Schaeffer, Poluição e a Morte do Homem, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 48-50; Gerard van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 90.

[6]Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p. 95.

[7] Anthony A. Hoekema, Criados à Imagem de Deus, p. 96.

[8]Veja-se: John W. R. Stott, O Discípulo Radical, Viçosa, MG.: Ultimato, 2011, p. 45.

[9] Veja-se: Gerard Van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 86-87, especialmente a nota 47.

[10]“O homem, por haver sido criado à imagem de Deus, nos revela muito sobre o ser do Criador” (H.H. Meeter, La Iglesia y Estado,3. ed. Grand Rapids, Michigan: TELL., (s.d), p. 26).

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