Teologia da Evangelização (24)

2.4.3.2. A soberania graciosa de Deus na salvação

Como vimos, a liberdade é um dos atributos da soberania. Deus é soberano e, por isso mesmo, é livre na manifestação da sua graça. Aliás, este conceito é fundamental à ideia bíblica de graça, pois, se a graça não fosse livre, não seria graça. Graça que é obrigatória não é graça, é obrigação. Deus tem misericórdia de quem lhe aprouve (Êx 33.19).[1]

            “A graça é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum”, enfatiza Booth (1734-1806).[2] Deus nos olha com graça porque assim o decidiu. O homem não pode exercer nenhuma influência sobre tal deliberação, todavia, Deus é gracioso para com o homem porque determinou em si mesmo considerar a necessidade do seu povo manifestando esta sua santa perfeição. Nesse contexto, o homem é totalmente passivo. Como morto, está inerte, inerme e em estado de putrefação espiritual.[3]

            Packer corretamente declarou:

A graça é livre, no sentido de ser auto-originada e de proceder de Alguém que podia ou não conceder graça. Somente quando se percebe que o que decide o destino do homem é o fato de Deus resolver ou não salvá-lo de seus pecados – sendo esta uma decisão que Ele não é obrigado a tomar em nenhum caso – é que se começa a apreender a ideia bíblica da graça.[4]

            Se Deus, soberana e livremente estabelecesse a Lei como sendo o caminho da graça – embora saibamos que a doação da Lei é por si só uma manifestação da graça divina – a graça continuaria sendo graça. Todavia, não haveria salvação para o homem, já que o padrão de Deus é a perfeição.

            A graça reina livremente justamente por ser soberana!:

A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. (Rm 5.21).

Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (Hb 4.16). (Vejam-se: 1Rs 8.23; Is 55.3; Jr 9.24; Rm 3.24; 9.15-18[5]).[6] (grifos meus).

2.4.3.2.1. Paralelas: A Graça que se manifesta em Obra 

Na cruz de Cristo, como num magnificente teatro, a inestimável bondade de Deus é exibida diante do mundo inteiro. Em todas as criaturas, de fato, tanto elevadas quanto humildes, a glória de Deus resplandece, porém em parte alguma ela resplandeceu mais gloriosamente do que na cruz, no fato de que ali houve uma extraordinária mudança de coisas, sendo ali manifesta a condenação de todos os homens, o pecado sendo apagado, a salvação sendo restaurada nos homens; e, em suma, o mundo inteiro foi renovado e cada coisa restaurada à boa ordem − João Calvino.[7]

Somente quando a soberania e a graça de Deus são mantidas em equilíbrio adequado, a teologia reformada é fiel ao ensino da Escritura e aos seus melhores instintos. – A. T. B. McGowan.[8]

 Jesus Cristo é a personificação da graça. Ele encarna a graça e a verdade. Nele encontramos o fundamento do que é verdadeiro: Ele é a verdade eterna que valida o que é, desmistificando os nossos padrões equivocados e, por isso mesmo, transitórios de verdade e, também, cumpre as promessas de Deus em graça (Jo 1.17; 14.6).[9] Ele é a causa, o conteúdo e a manifestação da graça de Deus. Falar de Cristo é falar da graça.[10]

            Os profetas do Antigo Testamento falavam de uma salvação futura que ocorreria pela graça (1Pe 1.10).[11] Jesus Cristo, a graça de Deus encarnada, veio na plenitude do tempo (Gl 4.4),[12] na plenitude da graça (2Tm 1.9[13]/Jo 1.16; 1Co 1.4; Ef 1.6,7; 2Tm 2.1). A autoentrega de Jesus pelos pecados dos pecadores eleitos foi um dom da graça que fora profetizada (1Pe 1.10-11/Rm 5.15; Hb 2.9).[14] A pobreza assumida por Cristo revela a riqueza da sua graça (2Co 8.9).[15] Deste modo, ele, somente ele, nos dá acesso à graça (Hb 4.14-16), convidando-nos: “Vinde a mim” (Mt 11.28).

Por isso, como vimos, Jesus Cristo se encarnou a fim de que Deus pudesse ser justo e, ao mesmo tempo, o justificador daqueles que confiam em Jesus para salvação (Rm 3.26).[16] Ele se tornou para os que creem em justiça, santificação e redenção (1Co 1.30).[17] “O Cristianismo se distinguiu unindo justiça e amor na cruz”.[18]

            Calvino resume bem a relação entre o Deus soberano e gracioso revelado de forma plena em seu Filho, Jesus Cristo:

Visto que todo homem é indigno de se dirigir a Deus e de se apresentar diante de Sua face, a fim de nos livrar da vergonha que sentimos ou que deveríamos sentir, o Pai celeste nos deu Seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo, para ser o nosso Mediador e Advogado para com Ele, para que, por meio dele, pudéssemos aproximar-nos livremente dele (1Tm 2.5; 1Jo 2.1; Hb 8.6 e 9.15). Com isso nos certificamos de que, tendo tal Intercessor, o qual não pode ser recusado pelo Pai, também nada nos será negado de tudo o que pedirmos em Seu nome (Hb 4.14-16). Seguros também de que o trono de Deus não é somente trono de majestade, mas também de Sua graça, podendo nós comparecer perante ele com toda a confiança e ousadia, em nome do Mediador e Intercessor, para rogar misericórdia e encontrar graça e ajuda, em toda necessidade que tivermos.[19]

            A graça de Deus não é barata.[20] Nós muitas vezes nos comportamos como filhos que, amados e agraciados com presentes de seus pais, se esquecem de que se aquilo que ganhamos foi “fácil”, “generoso”, sem mérito algum de nossa parte, custou muitas vezes um alto preço para os pais: privação de adquirir outro bem para si, filas, crediários, juros, economias, etc. A graça de Deus tem outro lado, que com frequência nos esquecemos: a obra sacrificial de Cristo.

            É um erro lamentável julgar toda a verdade considerando apenas a parte que nos compete do todo. A nossa visão é bastante seletiva. Quando costumamos analisar a vida apenas a partir do nosso umbigo, geralmente somos injustos e levianos em nossas avaliações.

            A graça de Deus se evidencia nas obras da Trindade. O Pacto da Graça, [21] por meio do qual somos salvos, foi Pacto de Obras para Cristo.[22] A nossa salvação é muito cara, custou o precioso sangue de Cristo (1Pe 1.18-20/At 20.28; 1Co 6.20).[23]Como bem expressou Calvino: “Nós dizemos que [a Redenção] é gratuita para nós, mas não para Cristo, a quem custou altíssimo preço, uma vez que ele pagou o resgate com o seu santo e precioso sangue, porque não existe nenhum outro preço que possa satisfazer à justiça de Deus”.[24]

            Isso longe de apontar para o suposto valor inerente de nossas almas, revela o amor gracioso de Deus que confere valor a nós.

            Deus não quebra a sua justiça por amor, antes, cumpre a justiça em amor. A graça reina pela justiça (Rm 5.21).[25] O amor de Deus não desconsidera o pecado, antes o penaliza em Cristo, o Amado (Ef 1.6-7),[26] em quem temos a plenitude da graça do Deus Triúno. “De fato a graça reina, mas uma graça reinante à parte da justiça não é apenas inverossímil, mas também inconcebível”, enfatiza Murray (1898-1974).[27]

            Booth (1734-1806) escrevendo sobre este assunto, assim se expressou:

A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo.[28]

Ainda que este perdão seja gratuito para os pecadores, nunca devemos nos esquecer de que Cristo pagou um alto preço por ele. Perdão para a menor das nossas ofensas só se tornou possível porque Cristo cumpriu as mais aflitivas condições – Sua encarnação, Sua perfeita obediência à lei divina e Sua morte na cruz. O perdão que é absolutamente gratuito ao pecador teve um alto custo para o Salvador.[29]

A graça de Deus vem a nós não porque Deus revela o fato da Sua lei ser quebrada por nós, mas porque a Sua lei foi plenamente satisfeita pelos atos de justiça que Cristo fez a nosso favor. (…) Ele cumpriu perfeitamente a lei de Deus.[30]

Maringá, 30 de julho de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa



[1] “Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33.19).

[2]A. Booth, Somente pela Graça,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 14. Do mesmo modo, Parker: “Se a graça fosse uma obrigação da parte de Deus, já não seria graça. Porém é em Sua divina liberdade que Deus nos mostra sua graça” (T.H.L. Parker, Gracia: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1985, p. 254b). Veja-se também: John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity,The Collected Writings of: John Gill,(CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 2000), I.13, p. 196.

[3] Veja-se: Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 354-355.

[4] J.I. Packer, O Conhecimento de Deus,São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 119.

[5]“E disse (Salomão): Ó Senhor, Deus de Israel, não há Deus como tu, em cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti (1Rs 8.23). “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi(Is 55.3). “Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor(Jr 9.24). “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz (Rm 9.15-18). (Destaques meus).

[6] Vejam-se também, Confissão de Westminster,III.5; IX.4; XV.3; Catecismo Menor,Pergs. 33,34, 35.

[7] John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, v. 18, (Jo 13.31), p. 73.

[8] A.T.B. McGowan, Uma teologia evangélica reformada e missional para o século 21. In: Samuel T. Logan Jr., Org. reformado quer dizer missional. São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 247.

[9]“Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

[10] “A plenitude do ser de Deus é revelada nele. Ele não apenas nos apresenta o Pai e nos revela Seu nome, mas Ele nos mostra o Pai em Si mesmo e nos dá o Pai. Cristo é a expressão de Deus e a dádiva de Deus. Ele é Deus revelado a Si mesmo e Deus compartilhado a Si mesmo, e portanto Ele é cheio de verdade e também cheio de Graça” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 25-26).

[11] “Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada(1Pe 1.10).

[12] “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).

[13] “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).

[14]10Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam” (1Pe 1.10-11). “Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos” (Rm 5.15). “Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9).

[15] “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2Co 8.9).

[16] “Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).

[17] “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1.30).

[18] Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 179.

[19]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 101-102

[20]Posteriormente li MacArthur comentando a respeito da expressão “graça barata” (Veja-se: John MacArthur, O evangelho Segundo os apóstolos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2011, p. 68-90). Dentro de uma perspectiva complementar, escreveu Bonhoeffer: “A graça barata é inimiga mortal de nossa igreja. A nossa luta trava-se hoje em torno da graça preciosa. Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, sacramento malbaratado; é graça como inesgotável tesouro da Igreja, distribuído diariamente com mãos prontas, sem pensar e sem limites; a graça sem preço, sem custo. (…) A graça barata é, por isso, uma negação da Palavra viva de Deus, negação da encarnação do Verbo de Deus. (…) A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado” (D. Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 9-10). “A graça de Deus não é graça barata; ela custa tudo que somos e que temos” (Helmut Thielicke, Mosaico de Deus, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1968, p. 72).

[21] “Cristo amou a esta linhagem desde antes da fundação do mundo. É um pensamento nobre e glorioso – o mesmo lirismo da doutrina calvinista, a qual nós ensinamos – que antes que a estrela matutina conhecesse seu lugar, antes que do nada Deus criasse o universo, antes que a asa do anjo agitasse os virgens espaços etéreos, e antes que um solitário cântico perturbasse o silêncio no qual Deus reinava supremamente. Ele já havia entrado em conselho consigo mesmo, com Seu Filho e com Seu Espírito, e havia determinado, proposto e predestinado a salvação de Seu povo” (C.H. Spurgeon,  Sermões no Ano do Avivamento, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 47-48).

[22] “Em última análise a justificação é por obras no sentido que somos justificados pelas obras de Cristo” (R.C. Sproul, O Que é teologia Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 61).

[23]18 Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Pe 1.18-20).

[24] João Calvino,As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (II.6), p. 237.

[25] “A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.21).

[26] “Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1.6-7).

[27] John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19. Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 180-181.

[28] A. Booth, Somente pela Graça,p. 15.

[29] A. Booth, Somente pela Graça,p. 31. Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus,p. 121.

[30] A. Booth, Somente pela Graça,p. 56-57.

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