Teologia da Evangelização (46)

2.4.3.2.2.6.4. Um perdão legal: um novo status

A justificação é o fundamento judicial ou forense da santificação.[1] Na justificação pressupomos uma relação entre duas partes considerando o seu direito. Nesta doutrina, temos a regulamentação das relações entre as partes.[2] Há uma mudança na nossa condição legal: Deus declara ao homem culpado que já não há mais culpa em nós. Aqui de fato passamos a ter vida.[3] Mudamos da situação de um condenado que aguardava tristemente a terrível sentença condenatória para a condição de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herança (Rm 8.14-18)[4].[5]

          É importante enfatizar que na justificação “Deus não declara que o ímpio é santo; ele declara que, não obstante sua pecaminosidade e indignidade pessoal, ele é aceito como justo com base no que Cristo fez por ele”, destaca Hodge.[6]

          Segundo escreveu Calvino: “Quando Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, ele nos absolve não pela prova de justiça pessoal, mas pela imputação de justiça, de sorte que somos tidos por justos em Cristo, nós que inerentemente não o somos”.[7]

          A justificação – que ocorre fora de nós – não produz nenhuma transformação espiritual em nosso ser. Contudo, significa que Deus já a fez pela regeneração e continuará fazendo pela santificação.[8] Na regeneração fomos recriados em Cristo. Na justificação, Deus, Senhor e Rei, nos declara justos,  e perdoa todos os nossos pecados os quais foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós. Estamos em paz com Deus resultante da justiça de Cristo imputada a nós (Rm 5.1; 8.1,31-33).[9]

          Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos de Cristo que são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor, no legítimo uso de seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados justos.

Maringá, 21 de agosto de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Vejam-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 209; L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 540.

[2] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 371-372.

[3]“Justificação forense significa que somos declarados justos por Deus em um sentido legal. A base dessa declaração legal é a imputação da justiça de Cristo a nosso favor” (R.C. Sproul, O que é teologia reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 51. Do mesmo modo: R.C. Sproul, A natureza forense da justificação: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 27ss. Veja-se: George Whitefield, Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 8.

[4] 14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. 16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. 18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.14-18).

[5]Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980,p. 121.

[6]Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 1115. “A justificação é um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 517).

[7] João Calvino, As Institutas, III.11.3.

[8] “Não há justificação sem regeneração, assim como não há regeneração sem justificação” (James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 369).

[9]“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). 31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8. 31-33).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *