Teologia da Evangelização (182)

5.2. A Pregação é responsabilidade e privilégio de todo o cristão (Continuação)

                            f) Pregar de boa vontade

A nossa pregação é motivada pelo desejo de glorificar a Deus por intermédio da conversão do seu povo. Qualquer outro motivo que assuma a preponderância em nossa tarefa desvia o sentido da evangelização.

            Paulo, preso, partindo do princípio do senhorio de Deus sobre todas as coisas, admite a existência de dois tipos de pregadores: “Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade (eu)doki/a);[1] estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho” (Fp 1.15-16).

            O nosso amor a Deus se manifesta na proclamação sincera, conscientemente direcionada e prazerosa de Cristo.

                            g) Servir ao Evangelho

Nós somos comissionados a usar os nossos talentos a serviço do evangelho. Não podemos tornar o evangelho um meio para os nossos interesses egoístas. O evangelho é o meio para a glorificação de Deus: “Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador (sugkoinwno/j) com ele” (1Co 9.23).

            A cooperação com o Evangelho não é simplesmente um companheirismo eclesiástico, antes, reflete o fato de que como todos estamos unidos a Cristo pelo evangelho, devemos participar conjuntamente em prol de sua proclamação. Portanto, devemos unir esforços a fim de tornar mais efetiva a nossa tarefa.

            Paulo referindo-se a Timóteo, diz: “E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai” (Fp 2.22).

            Paulo faz menção de outros irmãos que também serviram ao Evangelho:

Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor. A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida. (Fp 4.2-3). (Ver: 2Co 4.5; 1Ts 3.2).

            Preso, o apóstolo se alegrava porque por meio de sua prisão muitos estavam sendo estimulados a pregar o evangelho com mais ousadia e desassombro. Deste modo, a mensagem do evangelho estava se expandindo, progredindo: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1.12).

            Ele mesmo permanecia preso aguardando o veredicto. O apóstolo podia esperar; afinal, o seu poder vinha de Deus (Fp 4.13). No entanto, o evangelho avançava.

                            h) Abnegação e perseverança

O servir ao evangelho exige uma boa dose de renúncia de nossos interesses pessoais, bem como o firme propósito de realizar o serviço que Deus nos confiou.

            Paulo despedindo-se dos presbíteros de Éfeso fala de sua prioridade: “….em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24).

            Recordando aos tessalonicenses como foi a sua chegada em Tessalônica, escreve:

1Porque vós, irmãos,  sabeis, pessoalmente, que a nossa estada entre vós não se tornou infrutífera;  2 mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta. (…) 9 Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus.  10 Vós e Deus sois testemunhas do modo por que piedosa, justa e irrepreensivelmente procedemos em relação a vós outros, que credes.  11 E sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada um de vós,  12 exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glória. (1Ts 2.1,2,9-12) (Ver: 2Tm 1.8; 4.2-5; Fm 13).[2]

                            i) Humildade

                                               Paulo quando pregava em Atenas e contendia com os filósofos epicureus e estoicos, foi agredido verbalmente. Lucas registra que houve quem perguntasse: “Que quer dizer esse tagarela (spermolo/goj)?” (At 17.18). Acredito que Paulo teve ciência deste comentário. “Spermolo/goj”, ao que parece, era uma gíria ateniense, que significava literalmente,   um “catador de sementes”, sendo o termo aplicado aos pássaros comedores de semente.

            A palavra passou a ser aplicada aos homens que procuravam encrencas, depois, a homens que buscavam produtos de segunda mão no mercado, por preços baixos; pedinte. De forma decorrente, metaforicamente, foi utilizada para se referir àquelas pessoas que reúnem retalhos de informação para tagarelar sobre eles, em outras palavras; “fofoqueiro”, “caçador de verbetes”, “plagiador”, “charlatão”.[3] Um “pseudofilósofo”.

            O que nos chama a atenção neste particular é o fato de Paulo não discutir sobre esta maldosa e caluniosa insinuação. Ele procedeu polidamente (At 17.22-23) pregando o evangelho. Ele tinha algo mais importante a fazer naquela cidade do que ficar se defendendo de acusações ou de brincadeiras de mau gosto. O tempo era curto. A sua mensagem era urgente. A relevância de sua pessoa, pouco importava naquele contexto. É preciso ter senso prioridade. Ele teve: Anunciou com intensidade o evangelho.

            Paulo era um intelectual, mas, quando agredido intelectual e moralmente, nem por isso deixou-se ofender tão facilmente. Ele não se desviou da sua rota: a pregação do Evangelho de Cristo. O que de fato lhe revoltava, era a ignorância espiritual do povo (At 17.16).

            Posteriormente, em Mileto, falando aos Presbíteros, relembra diante daqueles que foram testemunhas do seu serviço durante os três anos em que passou em Éfeso: “….Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade (tapeinofrosu/nh), lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.18-19).

            Aliás, este foi o procedimento comum de Paulo por onde passava. Aos coríntios, faz uma pergunta embaraçante: “Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente (tapeino/w), para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?” (2Co 11.7).

            A nossa mensagem é Jesus Cristo conforme é-nos ensinada no Evangelho, não as nossas experiências, teorias ou opiniões. Deus se vale de um jumento e, até de nós. Ele é soberano. Cumpramos a nossa missão com esmero tendo a dimensão correto de servos do Senhor.

Maringá, 04 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Este substantivo (eu)doki/a) indica aquilo ou aquele que é prazeroso, considerando a essência da coisa ou o que se tem em vista. 

[2]Veja-se: J.R.W. Stott, O Perfil do Pregador, p. 27ss.

[3]Vejam-se: The Analytical Greek Lexicon, 12. ed. Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1975; F.W. Gingrich; F.W. Danker, Léxico do Novo Testamento Grego/Português, São Paulo: Vida Nova, 1986 (reimpressão); Liddell and Scott, Greek-English Lexicon, Oxford: Clarendon Press, 1935; Isidro Pereira, Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 7. ed. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1990; William C. Taylor, Dicionário do Novo Testamento Grego, 5. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978; A Greek-English Lexicon to the New Testament, 9. ed. (Edição revisada pelo Rev. Thomas S. Green), London: Samuel Bagster and Sons Limited, [s.d.].

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *