Teologia da Evangelização (120)

4.3. O Conteúdo e o significado da proclamação (Continuação)

                   Conforme já indicamos anteriormente, o desejo ardente de toda Cristologia Reformada é a compreensão do Cristo por Ele mesmo. Isso nos leva a indagar a respeito de nossas convicções à luz da Palavra, para que sejamos fiéis à Revelação bíblica.

          Pregar é anunciar o “Evangelho de Deus” (Mc 1.14); o “Evangelho do Reino” (Mt 4.23; 9.35; 24.14) que é o “Evangelho do Reino de Deus” (Lc 4.43; 8.1; At 8.12) e o “Evangelho do Senhor Jesus” (At 11.20/At 8.12), que é o “Evangelho de Jesus Cristo” (Mc 1.1/Rm 15.19; 2Co 2.12).

          Por isso mesmo o Reino de Deus é o coração da mensagem de Cristo bem como dos apóstolos. O crente no Antigo Testamento aguardava a chegada do Reino de Deus que estava associada à figura do Filho do Homem, descrita por Daniel (Dn 7.13-14/Mt 16.27,28; 17.12,22; Lc 9.58; Jo 3.13,14). Jesus Cristo, o Filho do Homem, inaugurou o Reino de Deus (Lc 11.20);[1] por isso, o Reino está indissoluvelmente ligado à Sua Pessoa. Jesus Cristo, a Sua mensagem e atos incorporam a presença do Reino que chegara.

          Orígenes (c. 185-254), corretamente, disse que Jesus Cristo era a “autobasileia” (au)tobasilei/a), o reino em pessoa.[2] “A relação entre o Reino de Deus e a revelação messiânica passa a ser uma correlação de força tal que quase se poderia falar de identificação de Jesus Cristo com o Reino de Deus; Ele não apenas proclama, mas é, na Sua pessoa, o Reino que está entre nós”, escreve Blauw[3] Por isso, é que o Novo Testamento nos ensina que pregar o Reino é o mesmo que pregar a Jesus Cristo:

Todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna. (Mt 19.29).

Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa,  ou irmãos, irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente. (Mc 10.29-30).

Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa,  ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos por causa do reino de Deus. (Lc 18.29).

Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo. (At 8.12).

Pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as cousas referentes ao Senhor  Jesus Cristo. (At 28.31). (Grifos meus).

          Deste modo – insistimos neste ponto -, evangelizar significa pregar o Reino e Senhorio de Jesus. Por isso, é que “o Reino de Deus é o tema central da pregação de Jesus e, por extensão, da pregação e ensino dos apóstolos”.[4]

   Paulo quando se despede dos Presbíteros de Éfeso, declara: “Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto. Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus (At 20.25-27). (grifos meus).

          Este Evangelho também é chamado de “Palavra da verdade” (Cl 1.5; Ef 1.13); “Evangelho da salvação” (Ef 1.13); “Evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8); “Evangelho da promessa” (At 13.32); Evangelho da esperança (Cl 1.23); “Evangelho da paz” (Ef 6.15).

          Portanto, quando evangelizamos, devemos ter em mente o sentido do que estamos proclamando. Não estamos simplesmente vendendo um produto ou, quem sabe, divulgando uma ideia de forma descompromissada, não; evangelizar é proclamar o Reino de Deus e, o Reino de Deus é o Reinado de Cristo, onde se evidencia o triunfo da Sua majestosa justiça, do Seu governo e da Sua Lei.[5] Deste modo, a pregação da Igreja deverá ser caracterizada sempre pelo senso de urgência, conclamando os homens ao arrependimento e fé em Jesus Cristo, o Rei Eterno. O Reino, ainda que não somente, sempre envolve o choro e a tristeza de pecadores arrependidos que foram alcançados pela graça.[6]

          A Igreja não é o Reino; mas, é por meio dela que o Reino se revela e se efetiva; por isso, ambos são inseparáveis.[7]

Maringá, 22 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus sobre vós” (Lc 11.20).

[2]Orígenes, Comentário de Mateus, 14.7. Apud M. Green, Evangelização na Igreja Primitiva, São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 58. Ou, “o reinado de Deus em pessoal” (Walter Kasper, Jesus el Cristo. Obra completa de Walter Kasper- Volumen 3 (Presencia Teológica) (Spanish Edition) (Locais do Kindle 1749). (Edição do Kindle). Veja-se também: K.L. Schmidt, Basilei/a: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1983 (Reprinted), v. 1, p. 593.

[3] J. Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, São Paulo: ASTE., 1966, p. 72.

[4]Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 59. Ladd diz que “a maior parte da escatologia de Jesus, conforme registrada pelos Sinóticos, tem a ver com os eventos relacionados à vinda do Reino de Deus escatológico” (George E. Ladd, Teologia do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, p. 184). De semelhante modo, observa Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1987, v. 1, p. 39; George E. Ladd, “Reino de Deus, Reino dos Céus”: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 3, p. 1385b; R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 87-90.

[5]Vejam-se: Bruce Milne, Conheça a Verdade, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, 1987, p. 259; D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Fiel, 1984, p. 348; John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, 3. ed. São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, 1985, p. 151; A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 63-64; Karl Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 51; George E. Ladd, Reino de Deus: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1985, p. 448; John R.W. Stott, O Cristão em Uma Sociedade Não Cristã, Niterói, RJ.: VINDE, (1989), p. 43.

[6]“Ninguém chega ao reino de Deus sem se entristecer com o seu próprio pecado” (John MacArthur, O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 71).

[7] Vejam-se: Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, v. 2, p. 66-67; Gustaf Aulén, A Fé Cristã, São Paulo: ASTE. 1965, p. 214. John R.W. Stott, afirma: “Ser Igreja significa ser a comunidade do Reino, um modelo daquilo que a comunidade humana deve parecer quando submetida ao domínio divino, uma alternativa desafiadora para a sociedade secular” (O Cristão em Uma Sociedade Não Cristã, Niterói, RJ.: VINDE, (1989), p. 43).

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