Teologia da Evangelização (117)

3.5. A Igreja como proclamadora do Evangelho (Continuação)

  Meu antigo mestre, Rev. Boanerges Ribeiro (1919-2003), escreveu de forma contundente:

A Igreja declara que a relação se restabeleceu entre Deus e o homem pela Palavra criadora de Deus. Eis uma declaração que inquieta o mundo. Eis uma declaração que provoca a fúria homicida do mundo em agonia, contra a Igreja imortal, o que tantas vezes faz da testemunha, mártir, e da Revelação a João, a tela de horrores apocalípticos onde a besta desesperada tenta em vão destruir a Igreja. Mas a Igreja há de dar testemunho: não pode fugir à vocação de seu ser.

A Igreja é a comunidade de seres humanos organizada pela presença permanente do Espírito Santo (…) conservada no         mundo para ser testemunha de Cristo por meio da Palavra de Deus.[1]

          Por isso, a Igreja como testemunha, não tem o direito, nem realmente deseja, optar por testemunhar ou não, nem a quem deve anunciar o Evangelho: Ela de fato, não pode se calar, do mesmo modo que não podemos deixar de respirar. A Igreja não pode deixar de dar testemunho, visto que ela “não pode fugir à vocação do seu próprio ser”.[2] (At 1.8; 4.8-13; 6.10/7.55; 9.17-20; 11.21-25; 13.9-12). 

          Como Igreja, somos levados sob a direção do Espírito, de forma irreversível, a testemunhar sobre a realidade de Cristo e do poder da sua graça. “Viver segundo a direção do Espírito é viver na força do Espírito (…). A única maneira pela qual podemos viver pela força do Espírito é mantendo comunhão com ele”, conclui Hoekema (1913-1988).[3]

  Nós somos o meio ordinário estabelecido por Deus para que o mundo ouça a mensagem do Evangelho. Jesus Cristo confiou à Igreja a tarefa evangelística. A Igreja é, nas palavras de Kuiper, “o agente por excelência para a evangelização”.[4]

 Nenhum homem será salvo fora de Cristo, mas para que isto aconteça ele tem que conhecer o Evangelho da Graça.[5] Como crerão se não houver quem pregue? (Rm 10.13-15).“O evangelismo pelo qual Deus leva os seus eleitos à fé é um elo essencial na corrente dos propósitos divinos”, afirma Packer.[6]

A Igreja não é a mensagem; antes é o meio de proclamação; todavia, neste ato de proclamação das virtudes de Deus, ela torna patente a sua identidade divina, demonstrando o poder daquilo que ela testemunha, visto ser a Igreja o monumento da Graça e Misericórdia de Deus, constituído a partir da Palavra criadora de Deus. É justamente por isso, que a genuína pregação do Evangelho só pode ser realizada pela igreja.

          Ridderbos (1909-2007), diz acertadamente que “A igreja é o povo que Deus separou para Si em sua atividade salvífica, para que mostrasse a imagem de Sua graça e Sua salvação”.[7]

          Portanto, quando levamos o Evangelho a todos os homens, cumprindo prazerosamente parte de nossa missão, estamos de fato demonstrando o nosso amor pelo nosso próximo, desejando que ele conheça a Cristo e, segundo a misericórdia de Deus, se arrependa e creia.[8]

Nós glorificamos a Deus sendo-lhe obediente (Jo 17.4). Conforme já enfatizamos, a glória de Deus é superlativamente maior do que a nossa salvação. Mas, sabemos biblicamente, que Deus é glorificado por meio da salvação de seus escolhidos.[9]

Maringá, 14 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo: O Semeador, 1989, p. 42-43.

[2]Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 43.

[3] A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 59.

[4] R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 220. (Veja-se, todo o capítulo, p. 220-226).

[5]“Deus não pode ser devidamente invocado senão por aqueles aos quais a Sua bondade e a Sua clemência tenham sido proclamadas pela pregação do Evangelho” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 99).

[6]J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São Paulo: FIEL, 1994, p. 146.

[7] Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1987, v. 2, § 53, p. 9.

[8] John Stott observou bem este ponto ao declarar em 1974: “A Grande Comissão não explica ou esgota, nem supera o Grande Mandamento. O que ela faz, na verdade, é acrescentar ao mandamento do amor e serviço ao próximo uma nova e urgente dimensão cristã. Se de fato amamos o nosso próximo, não há dúvida de que lhe diremos as boas novas de Jesus” (John R.W. Stott, A Base Bíblica da Evangelização: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo; Belo Horizonte, MG. ABU; Visão Mundial, 1982, p. 37). De igual modo: John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 34.

[9]Vejam-se: William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 17.6), p. 758; R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 58-59; 90-91; 149; Idem, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 225-226; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 51ss.; John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 13-14,17,18.

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