O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (10)

3.2. Homilética e homilia

             A palavra “homilética”, é a transliteração do verbo o(mile/w, que significa “conversar com”, “falar”. Este verbo ocorre quatro vezes no Novo Testamento e apenas nos escritos de Lucas (Lc 24.14,15; At 20.11; 24.26). Na Septuaginta, ocorre também 4 vezes Pv 5.19 (“saciar”, no sentido de proximidade); Pv 15.12 (“chegará”, no sentido de “associar-se”); Pv 23.30 (2 vezes).[1]

     Na literatura clássica, vemos que Xenofonte (c. 430-355 a.C.) também empregou esta palavra no sentido de “conversação”.[2]

     O verbo o(mile/w provém de outra palavra grega, o(/miloj (o(mou= = “junto com” & i)/lh = “uma equipe”, “turma”, “companhia”), que significa, “multidão”, “turma”, “companhia”, “assembleia”. O(/miloj ocorre apenas uma vez no NT e mesmo assim, sem grande fundamentação documental (Ap 18.17).[3]

     Na Literatura Clássica, este termo é encontrado em Homero (c. IX séc. a.C.).[4]

     Uma outra palavra relacionada com Homilética, é “Homilia” (gr. o(mili/a), derivada da mesma raiz de “Homilética”, significando: “associação”, “companhia”, “conversação”. Ela é empregada apenas uma vez no NT (1Co 15.33), quando Paulo, provavelmente, cita a comédia do poeta ateniense, Menandro (c. 342 -c. 291 a.C.), intitulada Thais.[5]Xenofonte (c. 430-355 a.C.) também usou “Homilia” no sentido de “companhia”,[6] “palestra”[7]e “conversação”.[8]

     A Igreja Latina traduziu “Homilia” por sermão, passando, então, as duas palavras, num primeiro momento, a serem empregadas de forma intercambiável. Todavia, posteriormente, elas passaram a designar um tipo de discurso; O Sermão,[9] designava um discurso desenvolvido sobre um tema. A Homilia, pressupunha um método de análise, e a explicação de um parágrafo ou verso da Escritura, que era lido durante os cultos.[10]

     O uso do termo “Homilética” referindo-se à pregação, data do século XVII, quando foi usado por Baier (1677) e Krumholf (1699).[11]

     Creio que a definição de Broadus (1827-1895) a respeito de homilética expressa bem o conceito primitivo da pregação entre os Pais da Igreja: “A adaptação da retórica às finalidades especiais e aos reclamos da prédica cristã”.[12]

Maringá, 08 de novembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] ARA não traduz as ocorrências.

[2] Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, IV.3.2. p. 147.

[3]A palavra não aparece no Texto de Nestle-Aland. Ela ocorre em alguns manuscritos menores, sendo empregada no Textus Receptus, podendo ser traduzida por “a companhia em navios” (tw=n ploi/wn o( o(/miloj).

[4]Homero, Ilíada, 18.603; 24.712.

[5]Menandro, Frag. p. 62, n° 218.

[6]Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, I.2.20.

[7]Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, I.2.6.

[8]Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, I.2.15.

[9]A nossa palavra “sermão”, é a transliteração do latim “sermo”, que significa, “conversação”, “conversa”, “maneira de falar”, etc.

[10] Cf. WM. M. Taylor, et. al. Homiletics: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: Or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, Chicago: Funk & Wagnalls, Publishers, (revised edition), 1887, v. 2, p. 1011; Homilética: In: Russel N. Champlin; João Marques Bentes, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v. 2, p. 154. No Dicionário de Antônio Geraldo da Cunha, encontramos a seguinte definição de homilia: “Sermão que tem por objeto explicar assuntos doutrinários” (Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, p. 415).

[11] Cf. WM. M. Taylor, et. al. Homiletics: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: Or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, v. 2, p. 1011b.

[12] J. A. Broadus, O Preparo e Entrega de Sermões, p. 10.

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