Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (35)

b) Positivamente

1) Devemos pedir ao Senhor que nos ensine a Temê-Lo

 Por mais paradoxal que possa parecer, o temor do Senhor é um aprendizado de amor. Por isso, diante de tantos poderes que nos angustiam e ameaçam, o servo de Deus deve pedir ao Senhor que nos ensine a só temê-lo. Este santo temor é um aprendizado da fé resultante do maior conhecimento de Deus. O nosso caminhar e as veredas que seguimos revelam a nossa lealdade ao Senhor a quem tememos em amor. Assim ora o salmista: “Ensina-me (hr’y”) (yarah)[1] SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração (לבב) (lêbâb) para só temer (arey) (yare’) o teu nome” (Sl 86.11).

    Quando tememos a Deus, por encontrarmos nele o sentido da vida e da eternidade, aprendemos a vencer todos os outros temores irrelevantes (Jo 6.20/Mt 10.26,28,31; 14.27,30).[2]

    Diante de tantas opções que se mostram querendo nos tornar cativos de suas percepções e ações, aprendemos que na realidade, o único caminho viável para aqueles que amam ao Senhor e confiam nos Seus preceitos,  é seguir as Suas instruções. “Ao homem que teme (arey) (yare’) ao SENHOR, ele o instruirá (hr’y”) (yârâh) no caminho que deve escolher” (Sl 25.12).

    “O temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR é límpido (rAhj’) (tahor)(puro,[3] limpo) e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos” (Sl 19.9). A Palavra de Deus é absolutamente clara no que Deus requer de nós. Ela é direta em suas orientações. Não há obscuridade no mandamento de Deus, impedimentos à nossa compreensão.

    O nosso temor a Deus é totalmente confiante nas Suas promessas, convictos de Sua santidade e majestade. Por isso podemos sincera e confiantemente atentar para a sua Palavra considerando a veracidade e objetividade de seus mandamentos. Não há contradição em Deus nem nos seus mandamentos. Há uma perfeita harmonia essencial em todos os seus preceitos.

2) É um princípio orientador de nossa vida

No temor de Deus encontramos clareza de propósito e sabedoria de ensino. Nos seus princípios temos a origem da sabedoria e uma condução segura para a nossa vida. O fundamento de todo conhecimento verdadeiro está no temor do Senhor. Aqui temos a essência da sabedoria.

          Diversos textos das Escrituras nos mostram esses aspectos:

O temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR conduz à vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e mal nenhum o visitará. (Pv 19.23).

O temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR é a instrução da sabedoria. (Pv 15.33).

O temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos (אֱוִיל) (‘eviyl)  desprezam a sabedoria e o ensino. (Pv 1.7/Pv 15.5).

          Estes “loucos” desprezam a instrução do Senhor porque têm prazer em suas loucuras. São sábios aos seus próprios olhos: “O caminho do insensato (אֱוִיל) (‘eviyl) aos seus próprios olhos parece reto” (Pv 12.15/Pv 14.3). Acham graça de seus próprios pecados: “Os loucos (אֱוִיל) (‘eviyl) zombam do pecado” (Pv 14.9). Contudo, eles sofrerão as consequências de seus atos: “Os estultos (אֱוִיל) (‘eviyl), por causa do seu caminho de transgressão e por causa das suas iniquidades, serão afligidos” (Sl 107.17/Pv 10.8,10,14,21).

          “O temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre” (Sl 111.10). As Escrituras referem-se a Cornélio deste modo: “Piedoso e temente (fobe/w) a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (At 10.2/At 10.22). A Escritura ensina também a importância deste temor diante de Deus entre todos os povos: “Em qualquer nação, aquele que o teme (fobe/w) e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10.35). Ou seja: a questão da satisfação de Deus não é étnica ou cultural, antes, é de obediência sincera.

          Somos informados por Lucas que a Igreja em Atos crescia e se desenvolvia com este estimulante e confortador sentimento: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor (fo/boj) do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31).

São Paulo, 09 de dezembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

     


[1]Figuradamente tem o sentido de mostrar, indicar, “apontar o dedo”. Encaminhar (Gn 46.28); disparar (Sl 11.2; 64.4); apontar (Sl 25.8); atingir (Sl 64.4); desferir (Sl 64.7). No hifil, conforme o texto citado, tem o sentido de “ensinar”.

[2]19 Tendo navegado uns vinte e cinco a trinta estádios, eis que viram Jesus andando por sobre o mar, aproximando-se do barco; e ficaram possuídos de temor (fobe/w). 20 Mas Jesus lhes disse: Sou eu. Não temais (fobe/w)! 21 Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino” (Jo 6.19-21). 5 Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais (fobe/w); porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. 6 Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. 7 Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. É como vos digo! 8 E, retirando-se elas apressadamente do sepulcro, tomadas de medo (fo/boj) e grande alegria, correram a anunciá-lo aos discípulos. 9 E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. 10 Então, Jesus lhes disse: Não temais (fobe/w)! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão” (Mt 28.5-10). “Ao temermos a Deus, os outros temores desvanecem” (William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 38).

[3] Jó 14.4; 17.9; 28.19; Sl 12.6; Ml 1.11.

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