Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (21)

2.3. “Diácono” no Novo Testamento

 

No Novo Testamento encontramos uma perspectiva semelhante a do Antigo Testamento, sendo o trabalho visto com naturalidade nas parábolas de Jesus (Mt 20.1,2,8; 21.28; 25.16; Mc 13.34),[1] evidenciando ser o trabalho algo comum em nossa vida cotidiana (Jo 6.27; Jo 9.4),[2] inclusive instando com os seus discípulos no sentido de orarem ao Pai, senhor da seara, por mais trabalhadores (Mt 9.37-38).[3]

 

Os substantivos “Diaconia” (33 vezes)[4] e “Diáconos” (30 vezes)[5] e o verbo “Diaconar”[6] (34 vezes)[7] são traduzidos por serviço, ministério, socorro, assistência, diácono (neste caso, apenas transliterado) etc.

 

A expressão dia/konoj está mais diretamente relacionada ao serviço prestado, diferentemente de dou=loj (escravo) que se refere mais especificamente à relação com o seu senhor ou mestre.[8]

 

Numa acepção mais ampla, escreve Hesse (***):

 

Doulos ressalta quase exclusivamente a sujeição completa do cristão ao Senhor; diakonos diz respeito ao seu serviço em prol da igreja, dos seus irmãos e do seu próximo, em prol da comunhão, quer o serviço se realize ao servir à mesa, com a palavra, ou de alguma outra maneira. O diakonos sempre é aquele que serve em nome de Cristo e que continua o serviço de Cristo para o homem exterior e interior; preocupa-se com a salvação dos homens.[9]

 

Jesus Cristo deu uma grande lição aos seus ouvintes ao verbalizar a sua missão. Ele apresenta um contraste evidente com o conceito grego e, ao mesmo tempo, eleva de forma magnífica o pensamento judeu: “O Filho do homem, que não veio para ser servido (diakone/w), mas para servir (diakone/w)” (Mt 20.28).

 

Mais do que simplesmente servir à mesa, nosso Senhor nos ensina que o diaconato é uma disposição santa e abnegada de servir ao próximo com a sua própria vida:

 

25 Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me serve (diakone/w), siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo (diakoni/a). E, se alguém me servir, o Pai o honrará. (Jo 12.25-26).

 

Paulo demonstra que “o ministério (diakoni/a) do Espírito” (2Co 3.8) que opera de forma eficaz por meio do Evangelho, é glorioso.

 

Terminada a série de tentações satânicas desferidas contra o Senhor Jesus, registra Mateus: “E eis que vieram anjos e o serviram (diakone/w)(Mt 4.11/Hb 1.14).

 

Paulo se declara diácono do Evangelho: “Se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro (dia/konoj)(Cl 1.23).

 

Bem como, diácono da Igreja:

 

24 Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; 25 da qual me tornei ministro (dia/konoj) de acordo com a dispensação da parte de Deus, que me foi confiada a vosso favor, para dar pleno cumprimento à palavra de Deus. (Cl 1.24-25).

 

É, como também Apolo, instrumento de Deus para que os homens creiam no Evangelho: “Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos (dia/konoj) por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um” (1Co 3.5).

 

Como vimos, os dons concedidos à igreja visam ao aperfeiçoamento dos crentes a fim de que estes possam servir, exercer o seu diaconato com maior eficiência:

 

11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço (diakoni/a), para a edificação (oi)kodomh/) do corpo de Cristo. (Ef 4.11-12).

 

Somente deste modo, neste trabalho recíproco, a Igreja de Cristo poderá se desenvolver harmoniosa e solidamente em amor: 

 

15Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, 16 de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação (oi)kodomh/) de si mesmo em amor. (Ef 4.15-16/Rm 15.2; 1Ts 5.11).

 

A Igreja é edifício de Deus. Somos, por graça, cooperadores (1Co 3.9).[10]

 

 

Rio de Janeiro, 25 de junho de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Confira esta série completa aqui


[1]Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.  2 E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. (…)  8 Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros” (Mt 20.1,2,8). E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha” (Mt 21.28). O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco(Mt 25.16). É como um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao porteiro ordena que vigie” (Mc 13.34).

[2] “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo” (Jo 6.27). “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (Jo 9.4).

[3]37 E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos.  38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara(Mt 9.37-38).

[4]Diakoni/a * Lc 10.40; At 1.17,25; 6.1,4; 11.29; 12.25; 20.24; 21.19; Rm 11.13; 12.7; 15.31; 1Co 12.5; 16.15; 2Co 3.7,8,9 (2 vezes); 4.1; 5.18; 6.3; 8.4; 9.1,12,13; 11.8; Ef 4.12; Cl 4.17; 1Tm 1.12; 2Tm 4.5,11; Hb 1.14; Ap 2.19.

[5] Dia/konoj * Mt 20.26; 22.13; 23.11; Mc 9.35; 10.43; Jo 2.5,9; 12.26; Rm 13.4 (2 vezes); 15.8; 16.1; 1Co 3.5; 2Co 3.6; 6.4; 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Fp 1.1; Cl 1.7,23,25; 4.7; 1Ts 3.2; 1Tm 3.8,12; 4.6.

[6] Na realidade não existe este verbo em nossa língua; ele foi apenas transliterado do grego e aportuguesado para dar o mesmo sentido fonético.

[7] Diakone/w *Mt 4.11; 8.15; 20.28; 25.44; 27.55; Mc 1.13,31; 10.45; 15.41; Lc 4.39; 8.3; 10.40; 12.37; 17.8; 22.26,27 (2 vezes); Jo 12.2,26 (2 vezes); At 6.2; 19.22; Rm 15.25; 2Co 3.3; 8.19,20; 1Tm 3.10,13; 2Tm 1.18; Fm 13; Hb 6.10; 1Pe 1.12; 4.10,11.

[8] Cf. Diácono: In: W.E. Vine, et. al., Dicionário Vine, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2001, v. 2, p. 563.

[9] K. Hess, Servir: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 4, p. 452.

[10] Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício (oi)kodomh/) de Deus sois vós (1Co 3.9).

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