Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (16)

3.1. O Senhor que vocaciona e confere autoridade aos seus servos

 

É somente pela vocação divina que os ministros da Igreja se tornam legalmente efetivados. Quem quer que se apresente sem ser convidado, seja qual for a erudição ou eloquência que o mesmo possua, esse não recebe autoridade alguma, porquanto não veio da parte de Deus. −João Calvino.[1]

 

Quando escolhemos os líderes de nossa igreja, estamos simplesmente reconhecendo o chamado e dos dons do Senhor. − Timothy Keller.[2]

 

Seja qual for a autoridade que eu possa ter como pregador, não é resultado de qualquer decisão da minha parte. Foi a mão de Deus que me tomou, me tirou e me separou para esta obra. Sou o que sou pela graça de Deus; e a Ele dou toda a glória − D.M. Lloyd-Jones.[3]

 

Uma das formas pelas quais Deus se vale para cuidar de sua Igreja, é vocacionando e habilitando seus servos para, por meio deles, alimentar e cuidar de seu rebanho. A vocação ministerial, por exemplo, é para o serviço, não para o domínio (1Pe 5.1-2). Lucas descreve de forma sucinta e reverente a vocação do Apóstolo Paulo e a comissão de Ananias:

 

15 Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; 16 pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome. 17 Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs sobre ele as mãos, dizendo: Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. (At 9.15-17).

 

Mais tarde, Paulo pôde escrever a Timóteo: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1.12).

 

No seu chamado, Paulo reconhecia a autoridade apostólica conferida pelo Senhor para a edificação da Igreja: “Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa, não me envergonharei” (2Co 10.8/2Co 13.10;1Co 5.1-5).

 

Calvino acentuou a responsabilidade do presbítero. Entende que Deus se dignou em consagrar a si mesmo “as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar própria voz”.[4] Deste modo, os pastores não estão a seu próprio serviço, mas de Cristo; “são ministros de Cristo que servem à sua igreja”.[5] A igreja é a razão da existência desses ofícios (1Co 3.22; Ef 4.12). Eles buscam discípulos para Cristo, não seguidores para suas ideias e concepções pessoais.

 

Calvino mais uma vez nos instrui:

 

A fé não admite glorificação senão exclusivamente em Cristo. Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens, os privam de sua genuína grandeza. Pois a coisa mais importante de todas é que eles são ministros da fé, ou seja: conquistam seguidores, sim, mas não para eles mesmos, e, sim, para Cristo.[6]

 

É preciso que tenhamos esta consciência derivada do ensino bíblico. Deus é o Senhor da Igreja. É Ele quem constitui seus oficiais.

 

Deus manifesta a sua vontade por intermédio da eleição realizada pela assembleia da igreja conforme a sua forma de governo. Deus sabe sempre o que é melhor para a sua igreja ainda que nem sempre tenhamos a visão imediata do seu propósito, o que, diga-se de passagem, é mais do que natural.

 

Deus na condução de sua Igreja utiliza-se de seus servos a quem Ele mesmo escolhe e chama, sendo a Igreja o instrumento de Deus para a execução de parte desse processo.

 

Maringá, 21 de junho de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Confira esta série completa aqui

 


[1] João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.31), p. 71.

[2] Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 409.

[3] D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 90.

[4]João Calvino, As Institutas, IV.1.5.

[5] Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 332.

[6]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.5), p. 101-102.

3 thoughts on “Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (16)

  • 26 de junho de 2019 em 22:08
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    Deus vocaciona os que comiciona para toda boa obra na Igreja e fora dela.

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  • 27 de junho de 2019 em 10:34
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    Olá, muito bom o texto. O senhor tem a obra publicada?

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  • 14 de agosto de 2019 em 15:07
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    A Igreja reconhece o chamado e a vocação divina de um membro para ser diácono ou presbítero.
    E este membro também terá a mesma convicção da sua vocação para o cargo?

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