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A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (18) - Hermisten Maia

A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (18)

5. Necessidade da fé salvadora

 

 5.1. À salvação

 

A fé, como vimos, é a causa instrumental da salvação. Ela é “a mão pela qual o pecador recebe a salvação oferecida por Deus”.[1] É por isso que é chamada de fé salvadora (Jo 3.16; At 16.31; Ef 2.8; 1Pe 1.9).

 

5.2. À oração

 

“Palavras sem pensamentos, nunca para o céu vão”.[2] A oração deve ser sempre acompanhada de fé. Como confiar os nossos desejos mais íntimos a alguém que não conhecemos? A oração sincera é um atestado de carência e de total confiança em Deus. A certeza de que seremos atendidos repousa na Palavra de Deus. (Mt 21.22; Tg 1.5-8).[3]

 

Hodge (1797-1878) resume:

 

A oração é a conversa da alma com Deus. (…) Um homem sem oração é necessária e totalmente irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim como o corpo está morto quando cessa sua atividade, assim a alma que não se dirige em suas ações a Deus, que vive como se não houvesse Deus, está espiritualmente morta.[4]

 

 5.3. Ao culto[5]

Ninguém é verdadeiro adorador de Deus senão aqueles que reverentemente obedecem a Sua Palavra. – João Calvino.[6]

 

O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e, que deseja dialogar com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista num monólogo edificante no qual Deus nos fale por meio da Palavra.

 

A seguinte definição, expressa bem esta realidade:

 

Em essência o culto é um encontro de Deus com Seu povo no qual se estabelece um diálogo: Deus fala à Sua Igreja através de Sua Palavra e a Congregação expressa sua adoração ao Senhor mediante as orações, oferendas e hinos.[7]

 

O culto cristão não é uma ação humana, mas sim, uma resposta; uma atitude responsiva à ação de Deus que primeiro veio ao homem, revelando-Se e capacitando-o a responder-Lhe. A essencialidade desta atividade é apontada pelo fato de que é Deus mesmo Quem procura constantemente[8] Seus adoradores:[9] “….vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura (zhte/w)[10] para seus adoradores” (Jo 4.23).[11]  Deus não procura líderes, “facilitadores”, mestres ou discípulos, mas sim, adoradores. “A finalidade ou o propósito do evangelismo e de missões é criar um povo para adorar a Deus”.[12] A adoração é a nossa mais importante e permanente atividade, tanto aqui como na eternidade. Portanto, nós cultuamos a Deus não para simplesmente “evangelizar” os incrédulos, antes, para expressar em fé a nossa adoração, louvor e gratidão.[13]

 

O Culto a Deus deve ser a atitude natural do povo de Deus em reconhecimento prazeroso de Seu senhorio sobre a nossa existência e de ser Ele o originador e provedor de todas as bênçãos celestiais que temos recebido em Cristo Jesus: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).[14]

 

A adoração correta ao verdadeiro Deus, é uma atitude de fé, gratidão e obediência na qual, o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a Sua graça irresistível.[15] Neste ato de culto, o homem confessa sua dependência de Deus, professando a sua fé em resposta à Palavra criadora de Deus (Jo 1.1-3; Rm 1.16; 10.17; Tg 1.18,21; 1Pe 1.23).[16]

 

A Palavra de Deus é criadora porque gera a fé e, todas as vezes que Deus fala ao homem, algo de novo acontece, o homem não pode ser mais o mesmo, ele não pode mais ignorar este acontecimento (At 4.20). E isto, se expressa em culto. Deus fala e o homem adora; Deus Se mostra, o homem contempla; Deus abençoa, o homem louva… “De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí” (Jr 31.3).

 

Culto sem fé é uma contradição de termos (Hb 10.22; 11.4,17,28).

 

 5.4. Em nosso relacionamento com Deus

A nossa aproximação de Deus por meio da oração, leitura e meditação na Palavra, deve ser sempre norteada pela fé.  5 Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.  6 De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb 11.5-6).

 

 

Maringá, 04 de março de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Este post faz parte de uma série. Acesse aqui a série completa

 


 

[1] R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 20.

[2] W. Shakespeare, Hamlet, São Paulo: Abril Cultural, 1978, III.3. p. 272.

[3] “A genuína oração provém, antes de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em seguida, da fé nas promessas de Deus” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, p. 34). “Para que nossa fé repouse verdadeira e firmemente em Deus, devemos levar em consideração, ao mesmo tempo, estas duas partes de seu caráter – seu imensurável poder, pelo qual ele pode manter o mundo inteiro sob seus pés; e seu amor paternal, o qual manifestou em sua Palavra” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 46.7), p. 335-336).

[4] Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1976 (Reprinted), v. 3, p. 692.  

[5] Para um estudo mais detalhado sobre o significado do culto, veja-se: Hermisten M.P. Costa, Princípios Bíblicos de adoração cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

[6]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 103.18), p. 603.

[7] Víctor M.S. Garcia, Musica y Alabanza: In: Revista Teológica, México, v. 9, nº 31-32, 1978, p. 47.

[8] O verbo zhte/w na sua forma indicativa, conforme aparece em Jo 4.23, aponta para a atividade contínua e habitual de Deus.

[9]Ver: Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, São Paulo: O Semeador, 1989, p. 46-47.

[10]Este verbo (92 vezes no NT), quando empregado referindo-se à ação do Pai e do Filho, em suas poucas aparições, tem um sentido altamente significativo. a) Jesus, o Filho, busca não a sua glória, mas a do Pai: “Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. Quem fala por si mesmo está procurando (zhte/w) a sua própria glória; mas o que procura (zhte/w) a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça” (Jo 7.16-18);  “Replicou Jesus: Eu não tenho demônio; pelo contrário, honro a meu Pai, e vós me desonrais. Eu não procuro (zhte/w) a minha própria glória; há quem a busque  (zhte/w) e julgue” (Jo 8.49-50).   b) O Filho busca fazer a vontade do Pai: “Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro (zhte/w) a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou” (Jo 5.30). c) O Filho veio buscar o perdido: “Porque o Filho do Homem veio buscar  (zhte/w) e salvar o perdido” (Lc 19.10). Esta passagem faz eco à promessa de Deus que, através de Ezequiel, dissera: “Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; livrá-las-ei de todos os lugares para onde foram espalhadas no dia de nuvens e de escuridão. Tirá-las-ei dos povos, e as congregarei dos diversos países, e as introduzirei na sua terra; apascentá-las-ei nos montes de Israel, junto às correntes e em todos os lugares habitados da terra. Apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes de Israel será a sua pastagem; deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão pastos bons nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o SENHOR Deus. A perdida buscarei, a desgarrada tornarei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-las-ei com justiça” (Ez 34.12-16). Na Parábola da “Ovelha Perdida”, temos figura semelhante: “Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar (zhte/w) a que se extraviou?” (Mt 18.12).

No Antigo Testamento ao povo rebelde, distante de Deus, alheio à Aliança, Deus o conclama a voltar-se para Ele com integridade de coração. Deus se deixaria achar: “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13/Dt 4.29; Is 55.6). Na reforma levada a efeito por Asa –  o terceiro Rei de Judá após a divisão das tribos de Israel. Asa governou durante 41 anos (c. 910-869) –, houve esta busca sincera por Deus: “Israel esteve por muito tempo sem o verdadeiro Deus, sem sacerdote que o ensinasse e sem lei. Mas, quando, na sua angústia, eles voltaram ao SENHOR, Deus de Israel, e o buscaram, foi por eles achado(2Cr 15.3-4). O Cronista fala de várias pessoas das tribos de Israel que se juntaram a Judá com o propósito de buscar a Deus: “Entraram em aliança de buscarem ao SENHOR, Deus de seus pais, de todo o coração e de toda a alma” (2Cr 15.12). No Novo Testamento, Jesus Cristo ratifica o ensino do Antigo Testamento, estabelecendo a prioridade do Reino e de sua justiça: Buscai (zhte/w), pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Temos também a promessa de encontrar Aquele a quem buscamos: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai (zhte/w) e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca (zhte/w) encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á.” (Mt 7.7-8). No entanto, Jesus não se deixa enganar: Ele sabe da sinceridade de nosso coração e de nossos verdadeiros desejos: “Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, (zhte/w) não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” (Jo 6.24-26).

Paulo, considerando a liberdade cristã em relação aos “rudimentos do mundo”, exorta: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai (zhte/w) as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Cl 3.1). De fato, como somos peregrinos neste mundo, buscamos intensamente a cidade eterna: “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos (e)pizhte/w) a que há de vir” (Hb 13.14).

Lucas relata que o procônsul Sérgio Paulo, que ouvia a Paulo e a Barnabé, tinha grande avidez pela Palavra: “…. o procônsul Sérgio Paulo, que era homem inteligente. Este, tendo chamado Barnabé e Saulo, diligenciava  (e)pizhte/w) para ouvir a palavra de Deus” (At 13.7).

[11]Veja-se: Confissão de Fé de Westminster, IX.3,4.

[12] Terry L. Johnson, Adoração Reformada: A adoração que é de acordo com as Escrituras, São Paulo: Puritanos, 2001, p. 23. “Deus salva os homens para fazê-los adoradores” (A.W. Tozer, O Poder de Deus, 2. ed. São Paulo:  Mundo Cristão, 1986, p. 113).

[13] Vd. Michael S. Horton, O Cristão e a Cultura, São Paulo:  Editora Cultura Cristã, 1998, p. 84.

[14]Deus nos tem abençoado continuamente em Cristo. O particípio aoristo, “Bendito” (eu)logh/saj), indica dentro deste contexto, um fato consumado e a ação continuada de Deus. Podemos interpretar que Deus na eternidade já nos abençoou definitivamente; a sua bênção é completa; todavia, ela é-nos comunicada constantemente ao longo da história. Essas bênçãos são multifacetadas: “toda sorte” (pa/sh), na realidade, “todas” e “cada” bênção que temos, sem exceção, provém do Senhor. As “regiões celestiais” (e)n toi=j e)pourani/oij = lit. “dos céus”, “celestiais”) indicam a procedência das bênçãos. As bênçãos são espirituais porque se originam e provêm de Deus – o Pai que habita os céus (Mt 6.9) e, para onde Ele mesmo nos levará (2Tm 4.18) -, sendo-nos comunicadas pelo Espírito. Essas bênçãos relacionam-se diretamente ao ministério de Cristo, que é celestial (2Tm 4.18),  tendo um alcance cósmico (Ef 3.10).  Isso também denota a nossa nova condição: Deus “nos fez assentar nos lugares celestiais (e)pourani/oij) (Ef 2.6) juntamente com Cristo (Ef 1.20).

Considerando essas bênçãos, que ultrapassam em muito a nossa capacidade de pensar, sentir ou imaginar (Ef 3.20), devemos buscar continua e habitualmente o reino de Deus (Mt 6.33); as “coisas lá do alto” onde Cristo está à direita de Deus (Cl 3.1).

[15]Veja-se: Confissão de Fé de Westminster, X.1,2.

[16] “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3).“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). “…. a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).  “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma” (Tg 1.21). “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23).

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