A Pessoa e Obra do Espírito Santo (503)

11. Preservar a unidade

“Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós” (Jo 17.11).

             “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).Já tratamos mais detidamente deste assunto quando meditamos sobre o Espírito como aquele que unifica a Igreja. Aqui cabem apenas algumas palavras mais, direcionadas para este ponto.

Notemos que a unidade a ser preservada, não é produto, nem é gerada artificialmente; ela é resultado da ação do Espírito que nos uniu a Cristo confessando-O como Senhor (1Co 12.3).

A unidade cristã é, portanto, decorrente do fato de estarmos em Cristo, todos unidos no mesmo corpo: “Há somente um corpo e um Espírito, como fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”(Ef 4.4-6/Ef 2.18).

É importante que nos lembremos, que a nossa unidade está fundamentada na Verdade. Não podemos sacrificar a verdade em nome de uma suposta unidade; a unidade da Igreja Primitiva era decorrente da mesma fundamentação doutrinária (At 2.42). O cristão sincero está comprometido com a unidade essencial daqueles que estão em Cristo.

Lloyd-Jones comenta:

A única unidade que o Novo Testamento conhece é a das pessoas que creem nessa verdade. É um elemento essencial da definição da unidade. Reconhecemos um único Senhor e ninguém mais além dele. É o Primeiro e o Último, o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim; é tudo em todos. ‘Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor’. – Um Só Senhor!.[1]

            Schaeffer (1912-1984) observa que o que tem mantido separados grupos e também, indivíduos cristãos verdadeiros, não é a questão doutrinária, mas sim a falta de amor; as palavras ásperas que são ditas nos momentos mais calorosos das divergências.

Schaeffer ainda comenta que depois de algum tempo, as divergências doutrinárias são muitas vezes atenuadas, todavia, as palavras amargas que dissemos, permanecem.[2]

Ainda que seja pertinente a observação de Schaeffer quanto às palavras amargas, temos observado que as diferenças doutrinárias tendem a se tornar cada vez mais acentuadas, exceção feita quando uma das denominações abandona a Palavra como regra de fé e prática.

            Estamos comprometidos com a Verdade; o Espírito mesmo é quem nos guia a ela. Todavia, a verdade não justifica a agressão contra os nossos irmãos que pensam diferente de nós. A nossa atitude deve ser sempre de humildade, mansidão, longanimidade e de amor em prol da unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.2,3).

No entanto, não devemos nem podemos confundir esta brandura com falta de firmeza doutrinária e apego irrestrito à Palavra. Fora da fidelidade à Palavra, não há unidade cristã possível nem no “essencial”, nem no “secundário”. A verdade revelada é crucial para a unidade.

Unidade pressupõe uma fé comum determinada pelo próprio Evangelho, não por nossas sínteses casuísticas e, por isso, estranhas às Escrituras.[3]

***

             “O Espírito é a Terceira Pessoa da Trindade, procedente do Pai e do Filho, da mesma substância e igual em poder e glória, e deve-se crer nele, amá-lo, obedecê-lo e adorá-lo, juntamente com o Pai e o Filho, por todos os séculos”.[4]

            A presença do Espírito é real na direção da História, nos rumos da Igreja e, na nossa vida cotidiana; Ele opera eficazmente em nós, preservando-nos para o Dia de Cristo, conduzindo-nos à toda verdade, testificando em nós a nossa filiação divina, auxiliando-nos em nossas fraquezas, fortalecendo-nos e nos conduzindo à oração segundo a vontade de Deus.

            A nossa profissão de fé e consequente progresso espiritual em submissão a Deus, têm implicações em todas as áreas de nossa existência. Deste modo, à luz de Efésios 5 e 6, podemos falar que o crente cheio do Espírito é aquele que esforça-se por ser um marido amoroso, cuidadoso e preservador; uma esposa submissa e respeitosa; ambos são pais zelosos na educação de seus filhos; os filhos são obedientes e honram aos seus pais, os empregados cumprem as suas obrigações com dignidade, os patrões valorizam os seus empregados.

Ao mesmo tempo, segundo nos parece, este percurso de comportamento do crente, é um guia seguro para o nosso aperfeiçoamento espiritual, para a plenitude do Espírito. Em Efésios, de modo especial, temos a rota, o itinerário fornecido pelo próprio Espírito para enchermo-nos continuamente dele.

Contudo, devemos estar sempre alerta ao fato de que o Evangelho é de nosso Senhor Jesus Cristo; ele é completo em si. O Espírito aponta nessa direção; quando o Evangelho de Cristo é crido; de fato o Espírito atuou de forma decisória;[5] O Evangelho de Jesus Cristo é levado a efeito pelo Espírito Santo.[6]

            O Espírito é o próprio Deus em nós! Portanto, “não apagueis o Espírito”(1Ts 5.19), “não entristeçais o Espírito de Deus”(Ef 4.30) mas, orai no Espírito (Ef 6.18; Jd 20), vivei, andai, sede guiados e enchei-vos do Espírito (Gl 5.16,18,25; Ef 5.18). “Se andarmos continuamente no Espírito, estaremos continuamente abundando no fruto do Espírito”.[7] Que o Espírito do Trino Deus nos ilumine e nos guie! Amém.

Maringá, 14 de junho de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa



[1] D.M. Lloyd-Jones, A Base da Unidade Cristã,São Paulo: Casa da Bíblia, (s.d.), p. 38.

[2] F.A. Schaeffer, O Sinal do Cristão,Goiânia, GO.: ABUB; APLIC., 1975, p. 36

[3] Vejam-se:  François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 19; Kevin J. Vanhoozer, Autoridade bíblica pós-Reforma: resgatando os solas segundo a essência do Cristianismo puro e simples, São Paulo: Vida Nova, 2017, p. 275.

[4] Confissão de Westminster,34.1.

[5] Veja-se: Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 238.

[6] Veja-se: Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 125, 228.

[7] A.A. Hoekema, O Cristão Toma Consciência do Seu Valor,Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1987, p. 53.

One thought on “A Pessoa e Obra do Espírito Santo (503)

  • 26 de junho de 2023 em 21:37
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    É maravilhosa a compreensão da pessoa do Espírito Santo, e de sua ação em nós, para a glorificação da Trindade. Textos esclarecedores, obrigada!

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