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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (322) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (322)

7) Ter uma só palavra

Relacionando o texto de Atos quando o ofício de diácono foi instituído, com as prescrições de Paulo feitas mais tarde para o diaconato, encontramos novos preceitos.

“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra (mh\ di/logoj)(1Tm 3.8).

A construção é negativa mh\ di/logoj, só ocorrendo aqui. A ideia é de que o diácono não deve ter “duas palavras”.

            A expressão pode ser entendida de três formas não excludentes:

            a) O diácono não deve ser um difamador, levando e trazendo casos dos lares onde visita (não deve ser mexeriqueiro).

            b) Não deve ser alguém que pense uma coisa e diga outra: não deve ser falso.

            c) Não deve ser alguém que diz uma coisa para uma pessoa e algo diferente para outra, falando de acordo com o interesse do seu interlocutor conforme as circunstâncias.

            A respeitabilidade dos diáconos se evidenciaria de modo especial em sua palavra digna, correta, de acordo com a Escritura, sabendo também manter discrição a respeito dos problemas aos quais teve acesso.

            O seu ofício propiciaria ocasião de tomar conhecimento de problemas delicados de famílias: crises financeiras, pecados encobertos, frieza espiritual, desavenças matrimoniais, familiares, carências, etc. Sem dúvida, ele poderia ajudar  a essas famílias diretamente (socorrendo materialmente, buscando recursos, aconselhando, orando) ou, indiretamente por meio de uma conversa com o pastor ou presbíteros da igreja, os atualizando quanto à necessidades percebidas  que ultrapassavam às suas competências ou possibilidades, bem como relatando qual foi o seu procedimento.

            O fato, é que conforme o diácono se tornasse mais efetivo em seu ofício, angariaria maior confiança por parte dos membros da igreja, o que o levaria a conhecer particularidades de muitas famílias. Por isso mesmo, precisaria ter bastante prudência no falar e se conduzir, não se tornando, por vezes, até involuntariamente, um socializador de informações privadas.

8) Não deve ser inclinado a muito vinho    

“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho (1Tm 3.8).

            Aqui devem ser observadas algumas particularidades: a) A questão cultural; b) A provisão inadequada de água; c) A atenuação do vinho com água no período romano, até mesmo por uma questão de paladar[1] (Cf. 2Mac 15.39);[2] d) Essa orientação de Paulo indica o perigo da embriaguez, ao que parece, existente mesmo entre os crentes (1Co 11.21).

            Sobre o diácono pesava grande responsabilidade. Conforme mencionamos, ele teria acesso aos lares, tomaria conhecimento de problemas íntimos e, também teria de administrar os bens da Igreja dedicados aos necessitados. Como confiar num bêbado? Ou, aliando ao requisito anterior, como ter respeitabilidade se corresse entre os fiéis a fama de que dito diácono “é ótima pessoa quando está sóbrio, porém, quando bebe, é um problema…”. Os casos seriam inúmeros a respeito de pessoas que em determinada situação contaram algo para ele e tiveram uma má experiência porque perceberam que naquele dia ele estaria de “fogo”. As situações adversas são por demais óbvias para que gastemos mais tempo com isso.

            Notemos que Paulo não exige total abstinência. Ele fala de moderação (1Tm 3.3; Tt 1.7). Todavia, cremos que a abstinência seja recomendável (Rm 14.21/1Ts 5.22).

            A bebedice é uma das características do modo gentio de viver (1Pe 4.3) como obra da carne (Gl 5.21). Os cristãos não podem ser confundidos com os pagãos em seu comportamento.

Maringá, 19, de outubro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Cf. A.C. Schultz, Vinho e Bebida forte: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 5, p. 1140.

[2] Como bem sabemos, os livros de Macabeus não são “canônicos”; isto é, não fazem parte dos 66 Livros considerados inspirados por Deus. No entanto, eles têm um valor histórico-informativo, nos ajudando a entender melhor aspectos da história dos judeus no segundo século a.C. O autor conclui assim o livro: “De fato, como é nocivo beber somente vinho, ou somente água, ao passo que o vinho misturado à água é agradável e causa um prazer delicioso” (2Mac 15.39).

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