A Pessoa e Obra do Espírito Santo (466)

6.5.4.3. O selo do Espírito  

 “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho (eu)agge/lion) da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados (sfragi/zw) com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).

O selo foi realizado definitivamente. A palavra significa também “consignar”, “guardar”, “certificar” e “reconhecer”, indicando:

1) Autenticidade e confirmação: (Jr 32.10-11,44; Jo 3.33; 1Co 9.2). Somos verdadeiramente filhos de Deus;

2) Possessão: Como a grande importância do selo é jurídica, vemos neste em-prego, o fato de pertencermos a Deus, porque fomos comprados com o seu próprio sangue. Somos possessão de Deus;

3) Proteção/privacidade: O selo era empregado para garantir uma boa conservação dos documentos e o sigilo de seu conteúdo (Is 29.11; Dn 12.4). Ninguém poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8.38-39). É Deus mesmo quem nos preserva intocáveis para o dia da redenção. Notemos que o selo normalmente é externo. Em nosso caso, o selo é interno. Fomos selados pelo Espírito que em nós habita.

            O Espírito em nós é o selo de Deus garantindo a autenticidade e preservação de sua propriedade até ao resgate final (2Co 1.22; 5.5; Ef 1.13,14/1Pe 2.9).[1] Somos o Templo do Espírito (1Co 3.16; 6.19). Fomos comprados pelo precioso sangue de Jesus e, agora, pertencemos ao Senhor (At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19).

O Espírito que hoje é a garantia do não mais domínio de Satanás sobre nós, é, ao mesmo tempo, o sinal da nossa total libertação futura da influência conducente de Satanás, do pecado e da carne. “A nossa redenção ainda não se completou, mas está assegurada”, escreveu Conner (1877-1952).[2]

            Comentando o texto de Efésios 1.13, escreveu Calvino:

Os selos imprimem autenticidade tanto aos alvarás como aos testamentos. Além disso, o selo era especialmente usado nas epístolas, para identificar o escritor. Em suma, um selo distingue o que é genuíno e indubitável do que é inautêntico e fraudulento. Tal ofício Paulo atribui ao Espírito Santo, não só aqui, mas também no capítulo 4.30 e em 2 Coríntios 1.22. Nossas mentes jamais se fazem suficientemente firmes, de modo que a verdade prevaleça conosco contra todas as tentações de Satanás, enquanto o Espírito não nos confirme nela. A genuína convicção que os crentes têm da Palavra de Deus, acerca de sua própria salvação e toda religião, não emana das percepções da carne, ou de argumentos humanos e filosóficos, e, sim, da selagem do Espírito, o que faz suas consciências mais seguras e todas as dúvidas removidas. O fundamento da fé seria quebradiço e instável, se porventura ela repousasse na sabedoria humana; portanto, visto que a pregação é o instrumento da fé, por isso o Espírito Santo torna a pregação eficaz”.[3]

            O selo do Espírito nos distingue de tudo o mais. O Espírito é a autenticação[4] definitiva, verdadeira[5] e inviolável de nossa salvação. Ele é o sinal do futuro em nós e a garantia de sua consumação.[6] No selo, vemos exemplificada a autoridade de seu autor e a garantia de que o conteúdo do que foi selado seja preservado em segurança (Vejam-se: Mt 27.66/Dn 6.17; Rm 15.28 [ARA: “Consignado”]).

            Deus nos concedeu o Espírito como um selo de inviolabilidade e preservação. O Espírito mesmo é quem constitui os Presbíteros para pastorearem o rebanho do Sumo Pastor que é Deus, até que Cristo volte (At 20.28/1Pe 5.1-4). Notemos, portanto, que ao mesmo tempo que ele age em nós individualmente, atua por meio de seus servos para a edificação e preservação do povo de Deus.

            O Espírito em nós, é a garantia presente e, maravilhosamente, real de que participaremos da plenitude da sua herança reservada para os seus.[7] Assim, podemos dizer com Berkhof que, “o Novo Testamento nada sabe de uma escatologia futurista ou de uma escatologia realizada, senão de uma escatologia em realização”.[8]

Maringá, 29 de abril de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa




[1] Veja-se: John Owen, Two Discourses Concerning the Holy Spirit and His Work. In: The Works of John Owen, (CD-ROM], (Ages Software, 2000), v. 4, p. 504ss. “A ideia de selar é tirada da prática antiga de selar documentos reais especiais. Documentos eram autenticados apertando o anel com sinete do rei em cera, deixando uma impressão que indica a posse e autorização da realeza. Em certo sentido, o Espírito age como o anel de sinete do rei divino. Ele faz um sinal indelével em nossas almas, indicando ser dono de nós. Um selo também era usado para evitar uma invasão. Assim como o túmulo de Cristo foi selado para evitar violação por ladrões, assim nós somos selados para evitar que o maligno nos arrebate dos braços de Cristo” (R.C. Sproul, O Que é Teologia Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 172).

[2] Walter T. Conner, A Obra do Espírito Santo,Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1961, p. 114.

[3]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.13), p. 36.

[4] Paulo fala que os crentes em Corinto se constituem no “selo”, a legitimação do seu apostolado: “Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo (sfragi/j) do meu apostolado no Senhor” (1Co 9.2/1Co 4.14-15; 2Co 3.1-3; 6.13).

[5] “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo (sfragi/j): O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm 2.19).

[6] Cf. Gordon D. Fee, Paulo, o Espírito e o Povo de Deus, Campinas, SP.: Editora United Press, 1997, p. 59-60.

[7] Veja-se: A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, p. 38.

[8]Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo,Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 118. Do mesmo modo entende Morris: “Uma escatologia puramente ‘realizada’ é calamitosa, tanto por não se ajustar à mensagem do Novo Testamento como por suas trágicas consequências” (Leon Morris, A Doutrina do Julgamento na Bíblia: In: Russel P. Shedd; Alan Pieratt, eds. Imortalidade, São Paulo: Vida Nova, 1992, p. 53).

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