A Pessoa e Obra do Espírito Santo (416)

6.4.10.2.5.2. Paulo como mestre entre os Efésios

Estamos por volta do ano 57 A.D. Encontramos o Apóstolo Paulo viajando com certa urgência da Macedônia, para a Grécia  e depois para Ásia, percorrendo diversas cidades, falando, orientando, confirmando, admoestando e consolando as Igrejas, tendo a noção clara de que aquela seria possivelmente a última vez que veria a maioria daqueles irmãos…

          Seu objetivo era chegar a Jerusalém, onde desejava passar o dia de Pentecoste (At 20.16). Neste afã, consciente de que seria extremamente difícil demorar pouco tempo em Éfeso devido ao carinho dos irmãos e ao desvio de sua rota, quando chega a Mileto – porto que distava uns 48 quilômetros de Éfeso – manda chamar os Presbíteros de Éfeso para passar-lhes as últimas orientações e despedir-se. É nesse contexto que se insere o texto.

Convívio intenso com os efésios

          Os efésios haviam convivido de forma intensiva com Paulo durante três anos (At 20.31); por isso, eles o conheciam bem, sabiam de suas palavras e testemunho… Agora, quando Paulo se despede daqueles presbíteros, relembra aquilo que eles já sabiam (E)pistamai): qual fora o seu comportamento entre os irmãos durante aqueles anos em que ali viveu (At 20.18). O termo grego expressa preliminarmente o conhecimento obtido devido à aproximação com o objeto conhecido, e, então, o conhecimento resultante de uma prática prolongada de percepção.

    Paulo como escolhido de Deus para o apostolado,[1] ministério que se encerrou no Novo Testamento, demonstra por meio do seu procedimento alguns princípios e constatações que deveriam nortear a vida daqueles presbíteros. Nessas instruções finais ele revela alguns aspectos do seu pastorado entre aqueles irmãos durante os três anos em que lá esteve, lançando luz sobre diversos aspectos da educação cristã. Analisemos alguns aspectos do seu ministério.

1)  Planejamento

A) Quanto ao tempo

 “16 Porque Paulo já havia determinado não aportar em Éfeso, não querendo demorar-se na Ásia, porquanto se apressava com o intuito de passar o dia de Pentecostes em Jerusalém, caso lhe fosse possível. 17 De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20.16-17).

          Ainda que não sejamos senhores do tempo, é importante saber trabalhar considerando esta categoria. O tempo é um recurso precioso que Deus nos dá para desenvolver as nossas vocações. Os belos ideais visualizados a partir das Escrituras devem sempre considerar o tempo disponível para sua concretização. Sem dúvida para o apóstolo seria bom reencontrar os irmãos de Éfeso, porém, isso atrapalharia outro objetivo. Chamar os presbíteros da igreja à cidade de Mileto (cerca de 50 km de Éfeso) foi o caminho intermediário considerando as circunstâncias. É necessário que nos organizemos de forma consistente, dentro de nossas possibilidades, rumo à execução do que nos parece correto. Paulo não sabia se daria tempo de passar o Pentecostes em Jerusalém, contudo, foi se organizando de modo que pudesse abreviar o tempo na execução de sua agenda.

B) Quanto ao conteúdo: proveitoso

 “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa (sumfe/rw = conveniente, melhor) e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

          Sem dúvida o apóstolo não ensinou tudo que gostaria, porém, organizou o conteúdo de tal modo que o apresentou de forma sistemática priorizando o que era mais proveitoso biblicamente para a edificação e santificação daquela igreja.

C) Quanto às circunstâncias: oportunidades

 “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

          Durante o seu pastorado em Éfeso, o apóstolo tinha diante de si uma situação concreta: a igreja de Éfeso. Além disso, tinha um tempo limitado e um conteúdo a ser ministrado. Por isso, se valeu de todas as oportunidades para cumprir o seu trabalho ali, ensinando publicamente e, também, nas casas dos fiéis. O currículo deve sempre considerar esses elementos. O currículo ideal tende a pecar por sua falta de contato com a realidade concreta. A eloquência desse lamentável fato mais cedo ou mais tarde tenderá a aparecer por meio de frutos verdes e amargos.

D) Quanto à abrangência ministerial: Urgência

 “24Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. (…) 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.24,31).

Realizar uma atividade com qualidade e de forma urgente é uma arte difícil, porém, pela graça, possível. Paulo tinha uma missão. Em tudo considerou a concretude da igreja (não era uma igreja abstrata), o tempo disponível, se valeu dos meios acessíveis e, organizou tudo isso de tal forma, que jamais perdesse o seu foco ou desperdiçasse energia fora de seu objetivo de instruir e edificar a igreja. O ministério pastoral deve ter sempre esse caráter, rogando a Deus discernimento no uso de nossas energias, sabendo sempre, que o poder é de Deus.

Maringá, 26 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Ninguém pode fazer de si próprio um apóstolo” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1997, (1Tm 1.1), p. 26).

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