A Pessoa e Obra do Espírito Santo (42)

     6.1.7. A Palavra Maravilhosa de um Deus Magnífico  que fala e age

A automanifestação de Deus é o ato pelo qual Deus sai da esfera da sua própria glória e autossuficiência em que o Um que existe apenas para si mesmo se torna o Um que existe para nós. – Emil Brunner (1889-1966).[1]   

                                                           O objetivo de Deus em sua Palavra é se dar a conhecer salvadoramente a nós, partilhando conosco aspectos da percepção de sua majestade, sendo glorificado na salvação de seu povo, a quem Ele redimiu e dirigiu durante toda a história até à consumação de sua gloriosa obra.

     A Escritura demonstra em sua história os efeitos práticos da obediência e as consequências da desobediência à sua Palavra.

     Nas Escrituras, por meio das suas obras na história, de proposições e preceitos, vemos aspectos maravilhosos do Ser de Deus que Ele mesmo se dignou em revelar. Destaquemos alguns deles apenas em forma de esboço:

                                               A. Altíssimo

                                                            Uma expressão usada por vezes para se referir a Deus é Altíssimo. Deus está acima de todas as coisas. Esta é uma forma poética de dizer que Deus é o Senhor soberano sobre tudo. Ele é o Altíssimo eternamente. Ele não se confunde com as outras divindades tribais, locais ou associadas aos elementos da Terra – tal como, montanhas, fogo, mares, etc. – criadas pela imaginação humana.

     Antes, Ele é o Altíssimo sobre todos os poderes e sobre a criação, obras de suas mãos. Ele antecede e se distingue de sua criação. Todos os poderes são por Ele criados e mantidos.

     Este foi o ponto que assustou os marinheiros diante do profeta Jonas que se identifica como alguém que teme ao Senhor, criador de todas as coisas: “Sou hebreu e temo ao SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra” (Jn 1.9/Jn 1.16).[2]

     Nos salmos lemos: “Eu, porém, renderei graças ao SENHOR, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do SENHOR Altíssimo (!Ayl.[,) (elyon)(Sl 7.17). “Pois o SENHOR Altíssimo (!Ayl.[,) (elyon) é tremendo, é o grande rei de toda a terra” (Sl 47.2).

     Nos Salmos 83 e 92 temos a combinação dos nomes: Senhor e Altíssimo, enfatizando a sua realeza sobre todas as coisas e todos os deuses. (Veja-se: Sl 97.9): “E reconhecerão que só tu, cujo nome é SENHOR, és o Altíssimo (!Ayl.[,) (elyon) sobre toda a terra” (Sl 83.18). “Tu, porém, SENHOR, és o Altíssimo (~Arm’) (marom) (= alto, elevado) eternamente” (Sl 92.8).[3]

     Na relação cultual com Deus, é comum a ideia de que o povo deve subir ao templo. A questão não é apenas topográfica, mas, de natureza essencial: Deus é o Senhor altíssimo, perfeito em toda a sua natureza e relações. Nós somos criaturas dependentes de suas misericórdias. Ele habita o alto e o sublime. Davi então ora: “A ti, SENHOR, elevo (af’n”) (nasa’) a minha alma” (Sl 25.1).

     Mesmo sabendo que as armadilhas estão embaixo, o salmista olha continuamente para cima, porque somente o Senhor o pode livrar: “Os meus olhos se elevam continuamente ao SENHOR, pois ele me tirará os pés do laço (tv,r,) (resheth) (rede)[4](Sl 25.15). O salmista tem a certeza de que o cuidado de Deus é mais efetivo do que o seu olhar fixo para as possíveis armadilhas. De fato, a vida cristã vai nos mostrando aos poucos que Deus cuida de nós muito além de nossa percepção ou mesmo da percepção dos perigos.

     É uma tentação comum racionalizar demais a nossa vida, nos esquecendo de que temos um Deus que cuida de nós em todos os momentos e circunstâncias. O nosso Deus não nos é indiferente e, também, não dorme nem cochila (Sl 121.3-4). O “turno” de Deus é ininterrupto: De dia, de noite  e para sempre (Sl 121.5,6,8) e, cuida integralmente de nós (Sl 121.5-7).[5]

     O Altíssimo é onipotente. Ainda que o ímpio não creia, ou até mesmo os servos de Deus em momento de fraqueza diante de circunstâncias adversas, poderem cair em um ateísmo prático, negando o seu poder, o Senhor permanece Altíssimo para sempre.

     Conforme escreveu Calvino:

Fôssemos julgar com base na mera aparência, e os filhos de Deus estariam longe de ser assim amparados sob seu cuidado; amiúde lutam e ofegam com dificuldade, ocasionalmente tropeçando e caindo, e é com muito esforço que avançam em sua trajetória; mas como no meio de toda essa decadência é tão-somente pelo singular auxílio de Deus que são preservados a cada instante de cair e de ser destruídos, não nos surpreende que o salmista fale em termos tão exaltados da assistência que recebiam da administração angelical.[6]

Os arrogantes, em sua visível e decantada prosperidade, motejam de Deus.

Os fiéis, por sua vez, ainda que por um momento, correm o risco de se encantarem com o sucesso de seu caminho sem Deus. Essa foi a experiência do salmista ao se fascinar com o visível progresso do ímpio em meio à sua arrogância e perceptível impunidade:

3 Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. (…) 8 Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez.  9 Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra.  10 Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos.  11E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo (!Ayl.[,) (elyon)? (Sl 73.3.8-11).

No Salmo 97 temos um convite a louvar o Senhor, que é o Altíssimo sobre toda a criação e sobre todos os deuses criados pelos homens:

1Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. 2 Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça e juízo são a base do seu trono. 3 Adiante dele vai um fogo que lhe consome os inimigos em redor. 4 Os seus relâmpagos alumiam o mundo; a terra os vê e estremece. 5 Derretem-se como cera os montes, na presença do SENHOR, na presença do Senhor de toda a terra. 6 Os céus anunciam a sua justiça, e todos os povos veem a sua glória. 7 Sejam confundidos todos os que servem a imagens de escultura, os que se gloriam de ídolos; prostrem-se diante dele todos os deuses. 8 Sião ouve e se alegra, as filhas de Judá se regozijam, por causa da tua justiça, ó SENHOR. 9 Pois tu, SENHOR, és o Altíssimo (!Ayl.[,) (elyon) sobre toda a terra; tu és sobremodo elevado acima de todos os deuses. (Sl 97.1-9).

Maringá, 09 de novembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Emil Brunner,  Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 163-164.

[2]Temeram, pois, estes homens em extremo ao SENHOR; e ofereceram sacrifícios ao SENHOR e fizeram votos” (Jn 1.16).

[3] Vejam-se também: Gn 14.18,19,20,22; Sl 9.2; 18.13; 21.7; 46.4; 50.14; 57.2; 77.11; 78.17,35,56; 91.1,9; 92.1; 107.11.

[4] Sl 10.9; 57.6; 140.5.

[5]Hendriksen (1900-1982) comenta: “Não existe um momento sequer que Cristo deixe de cuidar ternamente de seu corpo – a igreja. Vivemos sob sua constante vigilância. Seus olhos estão constantemente sobre nós, desde o início do ano até ao final do mesmo (cf. Dt 11.12). Portanto, lancemos sobre Ele toda a nossa ansiedade, convencidos de que somos objetos de sua solicitude pessoal (1Pe 5.7), objetos de sua mui especial providência” (William Hendriksen, Efésios,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 5.30), p. 317).

[6]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 91.12), p. 453.

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