A Pessoa e Obra do Espírito Santo (212)

Introdução: Recapitulação e direcionamento (Continuação)

Como vimos, a regeneração  dá início à santificação;  a um novo caminho de vida.  A justificação é o fundamento forense da santificação.

          Pela graça nos apropriamos desses privilégios pela fé; fé na justiça de Cristo, o Justo e justificador. 

          Há um hino antigo muito apreciado nas igrejas, que reflete esta compreensão bíblica, Firmeza na Fé,[1] cuja primeira estrofe e coro, dizem assim:

            Somente ponho a minha fé
Na graça excelsa de Jesus,
No sacrifício remidor,
No sangue do bom Redentor.


A minha fé e o meu amor
Estão firmados no Senhor,
Estão firmados no Senhor.

          Por sua vez, deve ser acentuado que a justificação subjetiva marca o nosso novo itinerário de vida, já selado em nossa eleição eterna, rumo à glorificação com o Senhor. Assim, devemos viver conforme o propósito de Deus, na prática de boas obras, frutos da fé,[2] preparadas pelo próprio Deus para o seu povo (Ef 2.10).

          A justificação é frutuosa. Kuyper comenta: “Quando o ato jurídico do Deus triúno, a justificação, é anunciado à consciência, a fé se torna ativa e se expressa em obras”.[3]

          A graça justificadora jamais é estéril. A justificação implica necessariamente em santificação. A santificação pressupõe essencialmente a justificação. Não ousemos dividir o indivisível. A separação destas duas verdades de nossa salvação, propicia cair no equívoco da anomia, declarando que já não há mais lei. Assim sendo, não precisaríamos de santificação visto que, considerados salvos, podemos fazer o que bem entendermos. No entanto, a verdade bíblica é outra: somos declarados justos para vivermos em santidade.[4]

          Portanto, insisto, a nossa real justificação tem implicações éticas. A santificação é a grande evidência de nossa nova relação com Deus. A nossa justificação (subjetiva) nos dá o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14).[5] O desafio para nós hoje é viver em harmonia com a nossa nova natureza e condição, andando, conforme vimos, nas obras preparadas por Deus para nós (justificação demonstrativa)(Ef 2.8-10).[6]

    Paulo, diante do rei Agripa, testemunhando a sua conversão e o seu chamado ministerial para trabalhar entre os gentios, relata as palavras de Cristo a ele dirigidas: “Para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim”(At 26.18).

          O mesmo Espírito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que somos.

A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque Ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito não somente testifica que somos filhos de Deus, mas, também, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14),[7] desenvolvendo em nós, ou seja, em todos os cristãos, o caráter de Cristo que consiste no fruto do Espírito.[8]

O propósito de Deus é reunir ao longo da história o seu povo a fim de constituir na eternidade, de forma definitiva a sua igreja, remida em Cristo, santificada em Cristo e que se assemelhe ao Seu Senhor.

Shedd (1929-2016), um missionário e teólogo Batista, que se tornou conhecido entre nós por sua profunda fidelidade bíblica e piedade, escreveu com propriedade: “O maior desejo de Deus é ter santos no céu que sejam semelhantes ao seu próprio Filho”.[9]

          A boa obra do Espírito em nós nos acompanhará por toda a vida. A salvação é o início da santificação cujo objetivo final é a glória de Deus por meio da purificação de seu povo. A santificação é o caminhar para a glória. A glória é a santificação consumada.[10] O Espírito levará a bom termo o propósito trinitário (Fp 1.6).

O Espírito atua poderosamente em nós nos levando à conformação de Cristo, o nosso modelo de santidade (Rm 8.29-30).

Maringá, 14 de junho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Hino do pastor e compositor britânico, Edward Mote (1797-1874), traduzido pelo pastor gaúcho, Francisco Caetano Borges da Silva (1863-1963?). A letra utilizada foi extraída do Hinário Presbiteriano Novo Cântico, Hino nº 93.

[2] Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confissão Belga, Art. 24; Segunda Confissão Helvética, XVI.2; Confissão de Westminster, XVI.2.

[3] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 391.

[4]“…. nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificação e a santificação. (…) Você não pode, você não deve tentar dividir Cristo. É falsa a doutrina que diz que você pode ser justificado sem ser santificado. É impossível; você é ‘santo’ antes de ser ‘fiel’. Você foi separado. É por isso que você crê. Estas coisas estão entrelaçadas indissoluvelmente. Não permita Deus que as separemos ou que as dividamos, jamais!” (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 33).

[5]5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, (…) 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.5,13-14).

[6]8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).

[7] Veja-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo,p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,p. 37.

[8] Veja-se: James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 330-333.

[9]Russell P. Shedd,  Alegrai-vos no Senhor”: uma exposição de Filipenses, São Paulo: Vida Nova, © 1984 (Reimpressão: 1993), p. 19.

[10] Vejam-se: F.F.  Bruce, La Epistola a Los Hebreos, Michigan: Nueva Creacion, 1987, p. 45; John Piper, Prelúdio para a operação do milagre: In: John Piper; David Mathis, orgs., O mistério da santificação,São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 32.


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