A Pessoa e Obra do Espírito Santo (211)

6.3.9. O Espírito e a nossa santificação

Toda fé adulta teve outrora seu período de infância; nem ela é tão perfeita em alguém que não haja mais qualquer necessidade de progresso. Portanto, aqueles que já eram crentes, passam a crer ainda mais, enquanto fazem progresso diariamente rumo ao alvo. E, assim, aqueles que já alcançaram os primórdios da fé, que então se esforcem continuamente para obter progresso. – João Calvino.[1]

Quem tem uma visão superficial da salvação deprecia a doutrina da santificação. – John F. MacArthur, Jr.[2]  

Deus escolhe o Seu povo para que seja crente e santo. (…) Você pode aproximar-se de Jesus Cristo como um pecador, mas não pode aproximar-se dele como uma pessoa eleita enquanto sua santidade não for visível. – C.H. Spurgeon (1834-1892).[3]

Introdução: Recapitulação e direcionamento

A Palavra de Deus demonstra enfaticamente que a nossa salvação não é um fim em si mesma; antes, é o início da vida cristã, por meio da qual, como filhos de Deus, progredimos em santificação até a consumação de todo propósito de Deus em nossa vida.

          Aqueles a quem Deus elegeu na eternidade – chamou no tempo e os justificou –, o fez a fim de viverem santamente. O chamado de Deus, portanto, não é virtual ou apenas teatral, antes, é real, tendo implicações óbvias no nosso pensar, sentir, decidir e agir.

A santificação consiste em Deus nos fazer viver de acordo com a nossa nova natureza e status. A santificação é o caminho natural da justificação. “Na justificação, Deus nos declara justos; na santificação, ele nos faz justos”, afirma Frame.[4]

          A doutrina da santificação tem como fundamento uma série de atos do Espírito Santo em nossa vida, resultantes da obra vicária de Cristo. Assim, quando falamos de santificação, iniciando pela eficácia da obra de Cristo, pressupomos – sem importar a ordem aqui: a vocação eficaz, fé, arrependimento, regeneração, adoção, justificação e a união com Cristo. Relacionaremos aqui, a título de conexão, com apenas alguns pontos já estudados:

          A santificação pressupõe que não somos perfeitos. Ela está relacionada com o homem pecador, cônscio de seus pecados, mas que, ao mesmo tempo, insatisfeito com a sua prática, deseja não mais praticá-los, se aperfeiçoar espiritualmente, obedecendo aos mandamentos de Deus.

          O ponto relevante aqui é que esta insatisfação com o pecado, acompanhada pelo desejo de santificar-se, pertence ao homem que foi gerado de novo pelo Espírito que agora nele habita, despertando em seu coração desejos santos de crescimento e amadurecimento espiritual.[5]

 “Santidade é a naturalidade do homem espiritualmente ressurreto”, destaca Packer.[6] É o Espírito, como “santificador Espírito de Cristo” que é,[7] quem infunde em nós este novo desejo, levando-nos a usar os recursos concedidos por Deus para este mister.

Portanto, o fato é que, ou buscamos a santidade ou, na verdade, nunca fomos eleitos por Deus. Esta é a verdade bíblica pura e simples: Não há eleição e consequentemente vida cristã, sem santificação.

          O novo nascimento é condição fundamental para que possamos falar de santificação. “A regeneração está para a santificação, como o nascimento para o crescimento. A nova vida da alma começa com a regeneração”, explica Patton (1843-1932).[8]

A regeneração é a marca distintiva de todos os filhos de Deus. Sem regeneração não há adoção. Os filhos foram regenerados. Os regenerados são os filhos de Deus.[9] Deste modo, este assunto pertence à esfera daqueles que creem em Cristo, aceitando os seus méritos salvadores como suficientes para a sua salvação, tendo, assim, o coração regenerado pelo Espírito.

A santificação é um processo que tem início em nossa conversão, e a santificação a pressupõe. Portanto, não existe regeneração sem santificação; ou seja: a regeneração se torna real na santificação.[10]

São Paulo, 14 de junho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.11), p. 95.

[2] John F. MacArthur, Jr., Cómo Enfrentar a Satanas,Barcelona: CLIE., 1994, p. 95. 

[3] C.H. Spurgeon, Eleição,São Paulo: Fiel, 1984, p. 25.

[4] John Frame, Teologia Sistemática,  São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 2, p. 318.

[5] Veja-se: L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 560.

[6] J.I. Packer, Na Dinâmica do Espírito,São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 104. Em outro lugar, Packer detalha: “Santidade é o objeto de nossa nova criação. Nascemos de novo para que possamos crescer até a semelhança de Cristo. Santidade, é na realidade, a saúde verdadeira de uma pessoa” (J.I. Packer, O que é santidade e por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação,2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 35). John Murray (1898-1974) coloca este ponto da seguinte maneira: “O Espírito Santo é o Agente controlador e diretor em cada pessoa regenerada. Por conseguinte, o princípio fundamental, a disposição governante, o caráter prevalecente de cada pessoa regenerada é a santidade – ela é ‘espiritual’ e se deleita na lei do Senhor segundo o homem interior” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada,p. 158). Do mesmo modo, Charles Hodge (1797-1878), havia escrito: “Um estado de salvação é um estado de santidade. As duas cousas são inseparáveis; porque a salvação não é só a redenção da pena do pecado, mas também livramento do seu poder” (Charles Hodge, O Caminho da Vida,p. 275). (Veja-se: também, A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,p. 51).

[7]Confissão de Fé de Wetminster,X.3.

[8]Francisco L. Patton, Compendio de Doutrina e a Egreja,Lisboa: Typ. A Vapor de Eduardo Rosa, 1909, p. 96.

[9]“A marca mais garantida pela qual os filhos de Deus devem distinguir-se dos filhos deste mundo é a regeneração operada neles pelo Espírito de Deus para sua inocência e santidade” (J. Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.9), p. 269).

[10]Veja-se: J.C. Ryle, Santificação, São José dos Campos, SP.: FIEL, 1987, p. 40.

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