Uma oração intercessória pela Igreja (61)

         6.1. O Deus de Jesus Cristo, nosso Senhor

           16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, 17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.16-17).

            O nosso Deus é o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Não falamos com um estranho. É o Deus conhecido, que espontânea e graciosamente se revelou porque deseja se relacionar conosco.[1] Nós ascendemos a Deus porque Ele primeiro desceu até nós.[2] Podemos nos aproximar dele por intermédio de Cristo, amparados nos méritos de Cristo, sob a intercessão de Cristo e com a sua mesma confiança e submissão.

            Ele é o Deus da Aliança. O Deus que na eternidade nos tornou seus filhos, nos elegendo em Cristo para a vida eterna juntamente com Ele (Ef 1.3-14). Somos o seu povo, por intermédio da obra do Filho, o Amado (Ef 1.6).[3]

            Desse modo, é ao Pai do Senhor Jesus que, por graça, tomou-nos filhos, fazendo-se nosso Pai, a quem oramos.[4]

            Cristo, o nosso intercessor, não é um estranho a Deus. Ele é o seu Filho amado, unigênito e eterno. Nós, por graça, somos filhos em Cristo Jesus: pelos seus méritos e misericórdia. O Filho, nosso irmão mais velho, nos conduz com alegria à gloriosa presença do Pai. O Filho compartilha conosco, por graça, o que lhe é próprio por essência eterna.

            O Pai, quem ressuscitou a seu Filho, o tem à sua direita (Ef 1.20).[5] Esse é o nosso Deus; é o nosso Pai. É o Pai de Jesus Cristo. Por meio do Filho auferimos privilégios concedidos por Cristo, em consonância com a vontade do Pai e do Espírito. Devemos aprender a confiar em Jesus Cristo, a descansar na sua certeza que nos mostra, entre outras coisas, a confiabilidade do Pai: “Não se turbe (tara/ssw = alarmar, aterrar, angustiar, perturbar, agitar) o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1).

            Nas situações mais adversas, como a que em breve lhes sobreviriam, era preciso manter o seu coração firme, sem se perturbar em angústia e agitação ansiosa. Somente crendo em Deus por meio de Cristo poderemos ter uma fé correta e inabalável, não oscilando em meio às tentações.[6] Quando aparentemente seriam deixados sozinhos, não deveriam permanecer em medo e ansiedade. O antídoto para isso é a certeza de que a promessa do Senhor permaneceria de pé (Jo 14.27).[7] Portanto, confiemos no Filho, descansemos no Pai; sejamos guiados pelo Espírito que nos ensina a orar como convém.

            Calvino assim se expressa:

Vemos que Jesus Cristo nos atrai a Deus seu Pai para que cheguemos a este com completa confiança e Ele nos receba. Pois, de outra forma, quem é que ousaria prometer a si próprio que seu pedido seria ouvido? Que graça poderia ser obtida se o portão não estivesse aberto a nós por Jesus Cristo e se esse não provasse ser o que alegasse, a saber, que é o caminho (Jo 14.6)?[8]

            Por meio do Filho nós conhecemos a Deus. Nós conhecemos a Jesus Cristo, o Deus encarnado. O Espírito habita em nós, nos selando como propriedade definitiva de Deus (Ef 1.13-14). Podemos nos aproximar de Deus com alegre confiança por meio de Jesus Cristo que pelo seu sangue nos declarou justos.

            O escritor de Hebreus fala de nosso privilégio e responsabilidade:

19Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, 20 pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, 21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, 22aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. 23Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. 24Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. (Hb 10.19-24).

            Calvino tratando sobre a mediação eficaz de Cristo, nos consola e estimula:

Sempre que orarmos a Deus, se porventura a lembrança de sua sublime e inacessível majestade toldar de medo nosso espírito, lembremo-nos também de que o homem Cristo gentilmente nos convida e nos toma em sua mão, de modo que o Pai, de quem tínhamos medo e tremíamos, se nos tornou favorável e amigável. Eis a única chave capaz de reabrir-nos a porta do reino do céu, de modo que agora podemos comparecer confiantes na presença de Deus.[9]

            O Filho nos introduz na intimidade da relação perfeita dentro da economia da Trindade, nos fazendo participante de uma comunhão íntima e prazerosa que nem os anjos podem desfrutar de forma tão intensa. O Espírito nos leva a Cristo pela Palavra e Cristo, nos leva ao Pai. Nesta harmonia de propósito, conhecemos um pouco mais da relação trinitária que nos conduz à salvação e à gloriosa bênção de sua comunhão.

Maringá, 29 de maio de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“O grande fim de toda revelação é inspirar um louvor humilde e reverente a Deus” (John Stott, Salmos Favoritos, São Paulo: Abba Press, 1997, p. 24).

[2]“Deus não pode ser apreendido pela mente humana. É mister que Ele se revele através de Sua Palavra; e é à medida que Ele desce até nós que podemos, por sua vez, subir até os céus” (João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6,São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 186). “Ele não nos manda que subamos incontinenti aos céus, e, sim, perscrutando nossa debilidade, Ele mesmo desce até nós” (João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 42.1-3), p. 257).

[3]5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7 no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1.5-7).

[4] “Ele é o grande, todo-poderoso e eterno Pai, mas Se fez nosso Pai em Cristo” (D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 23).

[5]“O qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais” (Ef 1.20).

[6] Veja-se: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.1), p. 88-89.

[7] Veja-se: H. Müller, Alvoroçar: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 181.

[8]João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 142-143.

[9] João Calvino, As Pastorais,São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 2.5), p. 63. Vejam-se: Prefácio de Calvino à tradução do Novo Testamento feita por Pierre Olivétan. In: Eduardo Galasso Faria, ed. João Calvino: Textos Escolhidos, São Paulo: Pendão Real, 2008, p. 15; João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 8.1), p. 356; João Calvino, Exposição de 1 Coríntios,São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 1.21), p. 62-63; João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.7), p. 59-60; (Hb 11.3), p. 300-301.

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