Uma oração intercessória pela Igreja (32)

              B) Características do Senhorio de Cristo

              1) É o único Senhor

              Em última instância, todos temos apenas um único Senhor. Jesus Cristo é o Senhor dos senhores. Os senhores humanos, por mais poderosos que sejam em relação a seus bens e subordinados, na sua relação com Deus são apenas servos. Paulo escreve aos coríntios:

4 No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus. 5 Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores (ku/rioj), 6 todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor (ku/rioj), Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele. (1Co 8.4-6).

            Este conceito é repetido em outros lugares:

            Há um só Senhor (ku/rioj), uma só fé, um só batismo. (Ef 4.5).

Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano (despo/thj)[1] e Senhor (ku/rioj), Jesus. Cristo (Jd 4).

            Esta convicção não deve nos conduzir à rebeldia ou ao desprestígio pecaminoso dos senhores terrenos, os quais, sendo legítimos, tem sua esfera e importância dentro da ordem social, produto da graça comum de Deus. Antes, deve nos conduzir à consciência de nossa lealdade e prioridade na submissão ao nosso Senhor.

            No Apocalipse, lemos:

Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor (ku/rioj) dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele. (Ap 17.14). Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR (ku/rioj) DOS SENHORES (ku/rioj) (Ap 19.16).

            Esta certeza traz consigo implicações sociais. Em uma sociedade escravagista,[2] onde o escravo só tinha deveres, nenhum direito, não passando de uma ferramenta humana que o senhor poderia usar como lhe aprouvesse e, da mesma forma, descartá-lo,[3] o apóstolo, em atitude que seria inusitada fora do Cristianismo, instrui os senhores: Senhores (ku/rioj), tratai os servos com justiça e com equidade, certos de que também vós tendes Senhor (ku/rioj) no céu” (Cl 4.1).

           2) É o Senhor Todo-Poderoso

           O Senhorio de Cristo não é apenas de honra, ou quem sabe, simbólico, aludindo à uma tradição que nos tornaria diferentes de outros povos, não. Jesus Cristo é o Senhor Todo-Poderoso. O seu poder provém Dele mesmo, não estando amparado e dependente de nada fora de Si mesmo.

            O apóstolo João quando escreve às sete igrejas da Ásia, se apresenta como tendo sido enviado pelo Senhor, aquele que é Onipotente, cujo majestoso poder se estende sobre todas as coisas e pessoas:

5 E da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano (a)/rxwn) dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, (…) 8 Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor (ku/rioj) Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso (pantokra/twr) (= Onipotente).[4] (Ap 1.5,8).

São Paulo, 29 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] *Lc 2.29; At 4.24; 1Tm 6.1,2; 2Tm 2.21; Tt 2.9; 1Pe 2.18; 2Pe 2.1; Jd 4; Ap 6.10. A palavra “denota o senhor como dono e amo nas esferas da vida pública e familiar” (H. Bietenhard, Senhor: In: Colin Brown, ed. ger., O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 4, p. 421). Veja-se também: K.H. Rengstorf, despo/thj: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds.Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 2, p. 44-49.

[2]“A Igreja nasceu numa sociedade em que a escravidão humana era uma instituição aceita, sancionada pela lei e parte do arcabouço da civilização greco-romana” (Ralph P. Martin, Colossenses e Filemon: introdução e comentário,São Paulo: Mundo Cristão; Vida Nova, 1984, p. 132).

[3]“Ante os olhos da lei o escravo era uma coisa. Não existia algo assim como um código de condições de trabalho. Quando um escravo não era apto para o trabalho podia ser despedido, ainda que viesse a morrer. O escravo não tinha o direito de casar-se e se chegava a ter um filho este pertencia ao amo, como os cabritos de um rebanho ao pastor. O amo podia açoitá-lo, marcá-lo a fogo e matá-lo sem que ninguém o impedisse. Novamente todos os direitos pertenciam ao amor e os deveres ao escravo” (William Barclay, Filipenses, Colossenses, I y II Tesalonicenses,Buenos Aires: La Aurora (El Nuevo Testamento Comentado, v. 11), 1973, (Cl 3.18-4.1), p. 172). “No primeiro século não se pensava em deveres dos senhores, porque os escravos não gozavam de qualquer direito” (Russel Shedd, Andai Nele: Exposição bíblica de Colossenses,São Paulo: ABU Editora, 1979, p. 82).

[4]*2Co 6.18; Ap 4.8; 11.17; 15.3; 16.7,14; 19.6,15; 21.22.

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