Uma oração intercessória pela Igreja (84)

         7.4.1.2. O privilégio e a responsabilidade dos que pregam

A Palavra de Deus, exclusivamente, deve ser pregada, em sua perfeição e consistência intrínseca. A Escritura é objeto exclusivo de pregação, o único campo onde o pregador deve laborar. – William Perkins (1592).[1]

A preparação da pregação deve ser o dever primordial do pastor. – Karl Barth.[2]

O declínio da vida e da atividade espiritual nas igrejas é geralmente acompanhada por um tipo de pregação formal, sem vida e infrutífera, e isso parcialmente como causa e parcialmente como efeito. Por outro lado, os grandes reavivamentos da história cristã usualmente remontam à obra do púlpito, e, no decurso do seu progresso, têm desenvolvido e tornado possível um alto nível de pregação. – Edwin C. Dargan.[3]

O segredo essencial não é dominar certas técnicas, mas ser dominados por determinadas convicções. A teologia é mais importante do que a metodologia. – John Stott.[4]

             Tenho por hábito, em geral sem me dar conta durante o processo, de me entusiasmar com ideias de familiares, editores, amigos, colegas e alunos. Quando pedem a minha opinião sobre determinada pesquisa ou alguma sugestão bibliográfica, quando percebo, já estou me vendo planejando, executando, apresentando sugestões.

            Dependendo do que me foi solicitado, só avalio o grau de envolvimento na hora de pagar o cartão, adicionado de “compras no exterior” de livros e, consequentemente, de quanto tempo disponibilizei para o tal projeto.

            Não raras vezes, fico mais entusiasmado com as ideias do que os proponentes que, talvez tenham apenas pensado alto comigo e eu, por conta e risco, como se diz, “viajei”.

            Não vou nem falar de orientandos ou mesmo alunos que pedem ajuda para o incipiente trabalho de Monografia, mesmo Dissertação e, até Tese, mas, que, na próxima semana já estão com outro tema, por vezes, bastante distinto do primeiro.

            Mas, não me arrependo disso. A paixão pelo pesquisar, saber e o descortinar de novas ignorâncias dentro desse equilíbrio dinâmico de saber-ignorância-saber, é fascinante. Além disso, poder ajudar em algo que julgo ter alguma condição, oferece um colorido especial à pesquisa.

            Lembro-me de que quando tinha 11 anos trabalhava no balcão de uma padaria num subúrbio do antigo Estado do Rio de Janeiro que divisava com o então Estado da Guanabara. Gostava de atender e servir às pessoas. Descobri que apreciava mais ainda aprender a fazer pão. No entanto, as coisas não eram tão simples e, também a máquina de cilindrar a massa era muito perigosa.

            Tudo para mim era um fascínio; um mundo encantado. Mas, o que mais me encantava, era quando o entregador de pão – para os pequenos bares e “vendinhas” –,  faltava. Minutos antes de esgotar o tempo de o entregador chegar, já me candidatava para o serviço, torcendo para que ele não viesse. Afinal, poder levar sacos de farinha de trigo cheios de pão (O cesto oval [de vime?]  cheio de pães, eu não tinha condições de levar no guidão da bicicleta), por aqueles morros, formando um alforge no guidão era incomensuravelmente melhor do que estudar matemática com Ary Quintella (1906-1968) e português com Paschoal Segalla (1920-2013). Contudo, apreciava ler no Tesouro da Juventude as Fábulas do Esopo. O prazeroso era depois de empurrar a bicicleta, aro 28 morro acima, poder descer tendo cumprido a missão. Andar de bicicleta, mesmo sem conseguir alcançar adequadamente o pedal e com freio danificado, era maravilhoso.

            O dono da ”Panificadora” era um jovem português, trabalhador e empreendedor. Um dia minha irmã conversou com ele (eram noivos) a respeito de me pagar uma certa quantia pelo meu trabalho de meio expediente, já que estava no ginásio e estudava à tarde.

            Fiquei extasiado com o meu primeiro “pagamento”. Mas, não entendi muito bem. Poder fazer aquilo tudo e ainda receber dinheiro? Isso era demais.

            Já não bastava a Fanta laranja que de quando em quando levava de graça para casa? (o que me alegrava muito na época, quando não sabia de sua origem alemã com trabalho escravo e difundindo o nazismo…).

            O meu pagamento era o prazer dessas aventuras… Vá entender os adultos.

            Alonguei-me demais. Viajei. Voltemos ao nosso tema.

            Agora, imagine poder participar ativamente no grande projeto de Deus estabelecido na eternidade?

            Deus de que e de quem nada precisa, nos envolve alegremente nos constituindo em seu povo e, como tal, nos envia a anunciar o Evangelho que também nos alcançou, a outras pessoas porque foi assim que Ele determinou constituir a sua Igreja. Isso é incomensurável.

A graça de poder pregar o Evangelho

            Paulo fala aos efésios: A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8). Que maravilhosa graça Deus nos concede. O que poderíamos desejar mais do que sermos envolvidos nesse plano glorioso e majestoso de Deus?

            Mesmo Deus sendo soberano no uso de seus meios para atingir o coração do homem, o chamando eficazmente, Ele opera ordinariamente por intermédio da pregação da Palavra, se valendo de pessoas pecadoras como nós.

Maringá, 03 de julho de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] William Perkins, The Art of Prophesying, Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1996, p. 9.

[2]Karl Barth, A Proclamacion del Evangelio, Salamanca: Ediciones Sigueme, 1969, p. 83.

[3]Edwin C. Dargan, A History of Preaching, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1954, v. 1, p. 13.

[4]John Stott, Eu Creio na Pregação, São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 97.

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