Uma oração intercessória pela Igreja (22)

4.1.2.2. A Sua Divindade demonstrada

A glória de Cristo brilha com todo o seu esplendor porque o conjunto de suas características excelentes e diversificadas se harmoniza perfeitamente com nossa complexidade – John Piper.[1]

          A. Títulos Divinos

            Jesus Cristo recebeu designações aplicáveis somente a Deus, sendo identificado como Deus: 1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (…) 18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.1,18).

            Após a ressurreição, Tomé que ainda não vira o Senhor, duvidou do testemunho dos demais discípulos (Jo 20.24-25). A narrativa prossegue:

26 Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles. Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! 27 E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente. 28 Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu! (Jo 20.26-28).

           B. Perfeições Divinas

              A Palavra atribui a Cristo diversas perfeições que são próprias do ser de Deus:

              1) Onisciência

           2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. 3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema. 4 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal no vosso coração?” (Mt 9.2-4).

            Devemos observar que, à frente, quando Jesus diz que não sabia o dia da sua volta (Mc 13.32), não anula o que afirmamos acima. Entendemos que o Verbo encarnado, durante o seu estado de humilhação não tinha conhecimento disso porque não era da vontade de Seu Pai e, Jesus Cristo limitava-se a fazer e a conhecer aquilo que era do agrado do Pai; todavia, no seu estado de exaltação, a partir da sua ressurreição, isto já era conhecido, entretanto, Ele não quis revelar (At 1.6,7).[2]

            No seu estado de humilhação, ainda que não saibamos compreender adequadamente isso, a sua onisciência foi usada de forma restrita. (Vejam-se: Mc 2.8; 5.32; 9.21, 33-34; 10.33-34; 11.12-13[3]).[4]Agostinho (354-430) explica que, como Filho do Homem, não fazia parte do seu magistério revelar este assunto.[5] 

        2) Onipresença

            “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20).

            “…. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20).

            A encarnação do Verbo, não significa o encarceramento do Logos ao corpo de Jesus; a Segunda Pessoa da Trindade está de fato encarnada, mas, também, continua presente em todos os lugares sustentando todas as coisas com o seu poder.[6] Aqui vemos um dos atributos de Deus revelado: a imensidão. “Ora, ninguém pode estar no céu e na terra ao mesmo tempo, senão aquele que enche céu e terra. (…) Portanto, lemos que Ele desceu do céu por meio da encarnação, Ele que esteve sempre no céu por sua imensidão”, conclui Turretini (1623-1687).[7]

                  3) Onipotência

                Após a ressurreição, antes de enviar seus discípulos a todo o mundo, o Senhor lhes disse:

“Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18).

26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. 27 E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. 28 Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: 29 os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo (Jo 5.26-29).

               4) Eternidade

             “João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: o que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim” (Jo 1.15).

            “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58).

            O tempo presente desta declaração assinala a continuidade de sua existência eterna.[8] E, também, como comenta Boice (1938-2000), “Jesus usou o Nome divino[9] pelo qual Deus se havia revelado a Moisés na sarça ardente”.[10]

            Jesus Cristo reivindica a mesma eternidade divina do Deus Pai. Portanto, ou Ele é de fato Deus ou um louco. As Escrituras demonstram que Ele não usurpou ou pretendeu usurpar o lugar de Deus ou ser igual a Deus, antes, Ele é o próprio Deus (Fp 2.5-11).[11]

            Este é o seu testemunho: “Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16.28).

            Paulo escreve: “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste” (Cl 1.17).

            5) Imutabilidade

           “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13.8).

      

São Paulo, 14 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]John Piper, Um homem chamado Jesus Cristo, São Paulo: Vida, 2005, p. 34.

[2]Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 53.

[3]“E Jesus, percebendo logo por seu espírito que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?” (Mc 2.8). “Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto” (Mc 5.32). “Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu” (Mc 9.21). 33Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho? 34 Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior” (Mc 9.33-34). 33Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e o entregarão aos gentios; 34hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo; mas, depois de três dias, ressuscitará” (Mc 10.33-34). 12No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. 13 E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos” (Mc 11.12-13).

[4]Vejam-se: John Calvin, Commentary of a Harmony of the Evangelists, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries, v. 17),1996, p. 153-154; R.C.H. Lenski, The Interpretation of St. Mark’s Gospel, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, (Commentary on the New Testament), 1998, (Mc 13.32), p. 590-591;Guillermo Hendriksen, El Evangelio Segun San Marcos, Grand Rapids, Michigan: Subcomisión Literatura Cristiana, 1987, (Mc 13.32), p. 552-553.

[5]Veja-se: Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, (Patrística, 9/1), 1997, v. 1, (Sl 36), S. 1.1. p. 510. Para uma discussão mais pormenorizada, veja-se: G.C. Berkouwer, A Pessoa de Cristo, São Paulo: ASTE, 1964, p. 157ss.

[6]Veja-se: Catecismo de Heidelberg, Pergs. 47 e 48; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 462.

[7]Francis Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 375,376.

[8]Cf. Donald Macleod, A Pessoa de Cristo, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 49.

[9]13 Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? 14Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros” (Ex 3.13-14).

[10]James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 237.

[11] Veja-se: John Piper, Um homem chamado Jesus Cristo, São Paulo: Vida, 2005, p. 25-29.

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