Teologia da Evangelização (190)

5.5. Devemos estar preparados para defender e confirmar o Evangelho (Continuação)

Aeroporto, celular e culto

            Imaginemos uma cena: Você está em um aeroporto, os voos estão atrasados. Devido à instabilidade meteorológica  alguns voos foram cancelados… O aeroporto está lotado. O sistema de som está um tanto inaudível devido ao barulho ambiente e muitas e truncadas informações de várias companhias…

            Uma coisa eu sei: todas as vezes que o sistema de som for acessado, em geral precedido por um ruído grave, você interrompe o que está fazendo, faz uma certa careta para ajudar a sua audição; talvez até coloque uma das mãos atrás da orelha desejando fazer uma espécie de concha acústica para ouvir possivelmente a respeito de seu voo… Nada mais natural. Essas informações podem ser vitais. A partir delas você se dirige a um portão para embarque, a um balcão para cancelamento, remarcação, voucher para lanche, hotel, ou simplesmente voltar para casa. Ciente dessas  informações, algumas atitudes deverão ser tomadas, em geral, envolvendo o nosso celular….

            Imaginemos outra cena: Você está na igreja participando do culto público e não consegue entender o que está sendo dito. O sistema de pensamento é um tanto complexo. Quando é de seu interesse você gosta de se sentir um “coitado”. Por sua vez, você deseja ouvir o que já sabe e, lá no fundo, carrega o pressuposto que vem ao culto para relaxar um pouco e rever alguns amigos…

            O que você faz? Se desliga, mexe no celular, talvez faça um carinho no filho ou na esposa. Por que isso? Porque você simplesmente julga irrelevante o que não entendeu. Talvez possa até se orgulhar de sua ignorância. Afinal, se não entendi a culpa é do outro e, também, nada de importante foi dito, diz para si mesmo com um lamento autojustificador pouco convincente.

A Palavra e a seriedade da verdade

            Essa possível compreensão é porque não levamos a Palavra de Deus a sério. Por isso, a compreensão a respeito de seus ensinamentos é irrelevante. Não estamos interessados em suas verdades porque, talvez, não creiamos mais em verdades absolutas, exceto, talvez, aquelas que já sei e que nada significam, porque nunca pensei sobre elas e, em nada interferem na condução de minha vida.

            No entanto, as Escrituras nos falam de verdade absoluta, acessível, verificável, demonstrável e vivenciável. A Palavra de Deus nos desafia a conhecer a verdade e a praticá-la como testemunho de fé, certos de que o propósito de Deus para o homem é sempre perfeito, a sua vontade é boa, perfeita e agradável: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).

            Devemos estar profundamente comprometidos com a verdade. Ela deve ser defendida, e proclamada de forma amorosa e humilde,[1] quer pela palavra, quer, principalmente, pela nossa perspectiva do mundo que se materialize em nossas ações.           Portanto, não podemos simplesmente ignorar as influências de nosso meio, como sabiamente nos alerta MacArthur:

A igreja jamais manifestará seu poder na sociedade, se não recuperar um amor ardente pela verdade e aversão à mentira. O verdadeiro crente não pode fechar os olhos ou negligenciar as influências anticristãs em seu meio, esperando desfrutar das bênçãos de Deus.[2]

            Nós cremos num Deus verdadeiro, em quem temos vida; este é o testemunho da Igreja conforme a oração de Jesus Cristo: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro (a)lhqino/j), e a Jesus Cristo, a quem enviaste”(Jo 17.3).

            Jesus Cristo é a verdade e o verdadeiro Deus a quem reconhecemos pela graça. Ele mesmo afirma: “Eu sou o caminho, e a verdade (a)lh/qeia), e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).João dá testemunho da veracidade do Pai e do Filho: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro (a)lhqino/j); e estamos no verdadeiro (a)lhqino/j), em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro (a)lhqino/j) Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).

            O Espírito é a verdade, dando testemunho e nos conduzindo à verdade: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade (a)lh/qeia), ele vos guiará a toda a verdade (a)lh/qeia); porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir”(Jo 16.13). “…. E o Espírito é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade (a)lh/qeia) (1Jo 5.6).

 Os caminhos de Deus são verdadeiros em si mesmos, não havendo injustiça. No Apocalipse lemos o cântico dos santos libertos por Deus: “E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros (a)lhqino/j) são os teus caminhos, ó Rei das nações!”(Ap 15.3).

            Portanto, como há outras vozes querendo nos afastar da verdade, apresentando um caminho que, à primeira vista, pode nos parecer mais convidativo e tentador, devemos perseverar no caminho da verdade. Paulo recrimina o esmorecimento dos gálatas que começando a crer corretamente na graça de Deus, agora, passam a viver, como se fosse possível, pelas obras. O legalismo judaico se constituía num impedimento aos judeus cristãos: “Vós corríeis bem; quem vos impediu (e)gko/ptw)[3] de continuardes a obedecer à verdade (a)lh/qeia)?” (Gl 5.7).

Maringá, 11 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: Joshua Harris, Ortodoxia humilde: defendendo verdades bíblicas sem ferir as pessoas, São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 21.

[2]John F. MacArthur Jr. Introdução do Editor: In: John F. MacArthur Jr. ed. Ouro de Tolo? Discernindo a Verdade em uma Época de Erro, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2006, p. 11.

[3]No seu emprego militar a palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedimento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”. 

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