Teologia da Evangelização (189)

5.5. Devemos estar preparados para defender e confirmar o Evangelho (Continuação)

                   A apologética além de defesa da fé, tem também um sentido de proclamação, de testemunho de sua fé e esperança. Devemos nos preparar para apresentar com consistência o Evangelho, demonstrando com firmeza, submissão e humildade, a razão de nossa fé.

            Paulo, na prisão, diz aos filipenses: “Vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa (a)pologi/a)[1] e confirmação (bebai/wsij)[2] do evangelho” (Fp 1.7/Fp 1.16).

            Pedro escreve aos irmãos das igrejas da Dispersão dizendo que eles deveriam estar “sempre preparados (e)/toimoj) [3] para responder (a)pologi/a) a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15).

Pregação apologética

            A pregação, portanto, será sempre apologética, como nos instrui Frame:

Apologética e pregação não são duas coisas diferentes. Ambas são tentativas para alcançar os descrentes para Cristo. Pregação é apologética porque objetiva a persuasão. A apologética é pregação porque apresenta o evangelho para a conversão e a santificação. Entretanto, as duas atividades têm diferentes perspectivas ou ênfases. A apologética enfatiza o aspecto da persuasão racional, enquanto a pregação enfatiza a busca de mudanças piedosas na vida das pessoas.[4]

            Paulo no final de sua vida não deu um salto no escuro, antes, declarou a sua inabalável confiança no Deus que conhecia, e pelo qual dedicou a sua vida:

Porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia (2Tm 1.12). 6 Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. 7 Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. 8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda (2Tm 4.6-8).

Paulo não fala de hipóteses ou teorias, afirma, sim, a sua firme certeza na verdade de Deus.

Como nos lembra Edgar, “conhecer a Deus pela fé, portanto, é o alvo da apologética”.[5] E esse genuíno conhecimento que confere sentido à nossa vida e ministério.

A suposta inacessibilidade da verdade e a defesa da verdade

            Dentro da perspectiva “pós-moderna” há uma crise epistemológica forjada – este forjar é resultante da verdadeira crise epistemológica ocorrida com a queda –[6] que gera a concepção de que a verdade, se existe, é inacessível.[7] Por isso o abandono da procura pela verdade e, consequentemente, a carência de ensino sobre a importância da verdade e sobre valores considerados verdadeiros. Dessa forma, há a compreensão explicitada ou não, de que a verdade, é que não há verdade. [8]

            Desse modo, procurando evitar o perigo de um agnosticismo absoluto – que seria um suicídio intelectual e da própria tese –, admite-se a verdade dentro do universo singular de cada indivíduo. Assim sendo, a sua verdade é sua e não tem nenhum valor objetivo. Portanto, não há nada nela de universalizante. Consequentemente, de posse de minha verdade procuro vivê-la – ou não − dentro das dimensões de minha subjetividade e nada mais.

            Spears observa que “o treinamento de alunos sobre como chegar à verdade pela razão é algo que já foi abandonado porque, a ideia de que alguém pode ter realmente acesso à verdade absoluta parece tolice”.[9]

Cada um, cada um

            Assim compreendendo, quando a verdade é considerada, tem apenas um sentido local e circunstancial: “minha verdade”, “sua verdade”, “verdade de cada um”, “verdade para aquela época”, “verdade para aquele povo”, etc. Apelo para o relativismo e/ou subjetivismo para explicar os fatos.

            Já observaram como no campo das ciências sociais evita-se emitir juízo de valor? Fala-se de “fenômeno”; desse modo, foge-se da questão do certo e errado; verdade e mentira.  Nesse caso, apenas “descrevo” o “fenômeno”, palavra mágica, que faz-me dizer o “fato” como se manifesta dentro de minha percepção e mais nada. Atitude ingênua! Como se fosse possível ter percepção sem uma gama enorme de valores que a referenciam e a nomeiam dentro de meu universo epistemológico.[10]

            Partindo dessa perspectiva, a verdade passou a ser simplesmente construída. Assim, não há lugar para absolutos. “Os pós-modernistas rejeitam totalmente a verdade objetiva. A verdade não é uma descoberta feita a partir do mundo externo. Antes, a verdade é uma construção”, comenta Veith.[11]

Maringá, 11 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]*At 22.1; 25.16; 1Co 9.3; 2Co 7.11; Fp 1.7,16; 2Tm 4.16; 1Pe.3.15. O verbo a)pologe/omai é empregado da mesma forma, sendo utilizado somente por Lucas e Paulo (* Lc 12.11; 21.14; At 19.33; 24.10; 25.8; 26.1,2,24; Rm 2.15; 2Co 12.19. As palavras tinham um emprego jurídico (2Tm 4.16). É célebre a passagem na qual Sócrates (469-399 a.C.), alega não ter apresentado uma apologia (a)pologi/a) em sua defesa diante dos juízes porque o seu demônio se opôs (Veja-se: Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, São Paulo: Abril Cultural, 1972, (Os Pensadores, v. 2), IV.8.5, p. 163). Compare a declaração de Sócrates com outra que faz a respeito da influência do demônio em sua vida (Platão, Defesa de Sócrates, São Paulo: Abril Cultural, 1972, (Os Pensadores, v. 2), 31 c-d, p. 22).

[2]A ideia da palavra é de solidez, indicando um firme fundamento. Ela tem o sentido aqui de apresentar as evidências confirmadoras do Evangelho. Bebai/wsij (*Fp 1.7; Hb 6.16). Ver também: Be/baioj (*Rm 4.16; 2Co 1.7; Hb 2.2; 3.6,14; 6.19; 9.17; 2Pe 1.10,19) e Bebaio/w (*Mc 16.20; Rm 15.8; 1Co 1.6,8; 2Co 1.21; Cl 2.7; Hb 2.3; 13.9).

[3]Tendo o sentido de pronto, apercebido, atento. A igreja deve estar pronta, preparada para toda boa obra (Tt 3.1). A nossa salvação está pronta, preparada para manifestar-se no último dia (1Pe 1.5).

[4]John Frame, Apologética para a Glória de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 21-22.

[5]William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 131.

[6] Veja-se o instrutivo texto de Mohler. R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 44-61.

[7]  “Entramos numa era pós-moderna que rejeita a própria ideia da verdade. Não existindo a verdade, as declarações do cristianismo são intrinsecamente ofensivas e até preconceituosas contra os outros” (Charles Olson; Harold Fickett,  A fé em tempos pós-modernos, São Paulo: Vida, 2009, p. 31).

[8] Sobre a questão da verdade, veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Tua Palavra é a Verdade, Brasília, DF.: Monergismo, 2010.

[9]Paul Spears, Introdução à Filosofia. In: Paul Spears, et. al. Fundamentos Bíblicos e Filosóficos da Educação, São Paulo: Associação Internacional de Escolas Cristãs-Brasil, 2004, p. 13. “Ao criar uma crise epistemológica, os questionamentos pós-modernistas rejeitam até a possibilidade da verdade, histórica ou qualquer outra” (Clyde P. Greer, Jr., Refletindo Honestamente sobre a História: In: John F. MacArthur, Jr. ed. ger. Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 411).

[10]Ver Hermisten M.P. Costa, Raízes da Teologia Contemporânea, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018.

[11]Gene Edward Veith, Jr., De Todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 55-56.

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