Teologia da Evangelização (191)

5.5. Devemos estar preparados para defender e confirmar o Evangelho (Continuação)

Ministros bem preparados

À Igreja foi confiada a Palavra de Deus, a qual deve preservar em seus ensinamentos e prática (Rm 3.2; 1Tm 3.15). Calvino entendia que “a verdade, porém, só é preservada no mundo através do ministério da Igreja. Daí, que peso de responsabilidade repousa sobre os pastores, a quem se tem confiado o encargo de um tesouro tão inestimável!”.[1]

Os ministros necessitam de habilidade para o ensino. Calvino é enfático quanto a isso. Pregando sobre 1Tm 3.1-4, disse:

Não é dado a todos o dom de pregar e de discursar sobre a doutrina de Deus. Um homem pode ser fiel, pode levar uma vida santa, e ainda assim ele pode não ter essa capacidade de discursar a Palavra de Deus de modo que ela seja bem recebida. A verdadeira doutrina, portanto, não está em todos, e quando essa está ainda assim deve ser aplicada. (…) Temos muitos que, apesar de serem sábios, ainda assim não têm essa graça de conseguir aplicar a doutrina de modo que outros tirem proveito e sejam edificados.[2]

            Comentando a mesma passagem, apresenta semelhante ênfase:

Não é suficiente que uma pessoa seja eminente no conhecimento profundo, se não é acompanhada do talento para ensinar. Há muitos, seja por causa da pronúncia defeituosa, ou devido à habilidade mental insuficiente, ou porque não estejam suficientemente em contato com as pessoas comuns, o fato é que guardam seu conhecimento fechado em seu íntimo. (…) Os que são incumbidos de governar o povo devem ser qualificados para a docência. E o que se exige aqui não é propriamente uma língua leviana, porquanto nos deparamos com muitos cuja livre fluência nada contém que sirva para edificar. Paulo está, antes, recomendando sabedoria no traquejo de aplicar a Palavra de Deus visando à edificação de seu povo.[3]

            Deus comissionou seus ministros para cuidarem de suas ovelhas, de sua igreja. Como fazê-lo se estivermos despreparados? Precisamos nos equipar para esta nobre, urgente e vital tarefa.[4] A graça não elimina nem diminui a nossa responsabilidade (1Co 15.10).

            Escrevendo a Thomas Cranmer (1489-1556)[5] (jul/1552?) diz: “A sã doutrina certamente jamais prevalecerá, até que as igrejas sejam melhor providas de pastores qualificados que possam desempenhar com seriedade o ofício de pastor”.[6]

Considerando isso, a igreja deve se deixar dirigir pelo seu pastor:

[Visto] que foi aos pastores incumbida a pregação da doutrina celeste; vemos que todos, a uma, estão sujeitos à mesma disposição, de sorte que se permitam ser dirigidos, com espírito brando e dócil, pelos mestres criados para esta função.[7]

            De passagem, pelo enunciado de Paulo como critério para o presbiterato, podemos observar a relevância da pregação na edificação da igreja. O princípio de Paulo nos parece simples: se um membro da igreja não tivesse evidenciado habilidade no manuseio da Palavra não estaria apto para o presbiterato.

            A igreja sempre necessitou de líderes que soubessem manusear bem as Escrituras. Sabemos, contudo, que é Deus mesmo quem os chama e os capacita.

A Igreja responsável pela preservação da verdade

Calvino interpreta:

A Igreja é chamada coluna da verdade pela mesma razão, pois o ofício de ministrar a doutrina que Deus pôs em suas mãos é o único meio para a preservação da verdade, a qual não pode desaparecer da memória dos homens. Em consequência, essa recomendação se aplica ao ministério da Palavra, pois se ela for removida, a verdade de Deus desvanecerá. (…) Portanto, em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade. Se não houver ensino público do evangelho, se não houver ministros piedosos que, por sua pregação, resgatem a verdade das trevas e do olvido, as falsidades, os erros, as imposturas, as superstições e a corrupção de toda sorte assumirão imediatamente o controle. Em suma, o silêncio da Igreja significa o afastamento e a supressão da verdade.[8]

A Igreja é responsável pela preservação verdade sobre a qual ela está fundamentada: a Revelação de Deus.

            Bavinck (1854-1921) aplica o conceito paulino:

A Igreja deve ser o pilar e o terreno da verdade (1Tm 3.15), ou seja, deve ser um pedestal e uma fundação sobre a qual a verdade seja apresentada, mantida e estabelecida contra o mundo. Quando a Igreja negligencia e se esquece do seu dever com relação à Escritura ele se torna remissa em seu dever e mina sua própria existência.[9]

Maringá, 11 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]João Calvino, As Pastorais,(1Tm 3.15), p. 97.Veja-se também, AsInstitutas, IV.1.5.

[2]John Calvin, Sermon 1Tm 3.1-4 (Sermão 22): In: Herman J. Selderhuis, ed. Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, v. 53), p. 261.

[3]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.2), p. 87.

[4]“Somos pastores, cuidamos de ovelhas, e devemos saber cuidar e proteger essa gente que foi entregue aos nossos cuidados. Nossa tarefa, por conseguinte, é equiparmo-nos para essa grande empresa” (David M. Lloyd-Jones, Pregação & Pregadores, São Paulo: Fiel, 1984, p. 129).

[5]Arcebispo de Canterbury, que em 1549 havia elaborado o Livro de Oração Comum, no qual dava ênfase ao culto em inglês, à leitura da Palavra de Deus e, ao aspecto congregacional da adoração cristã.

[6]Calvin to Cranmer, “Letter,” John Calvin Collection,[CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), 18. Do mesmo modo, Letters of John Calvin,Selected from the Bonnet Edition, p. 141-142.

[7] João Calvino, AsInstitutas, IV.1.5.

[8]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.5), p. 98.

[9]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 129.

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