Teologia da Evangelização (134)

4.3.3.1. Sua suficiência  (Continuação)

Quando Paulo e Barnabé pregam na Sinagoga de Antioquia, os judeus ficam impressionadas com a sua exposição do Antigo Testamento e como este apontava para Jesus Cristo. Convidaram-no para que repetissem a mensagem no sábado seguinte (At 13.42). Certamente alguns creram na mensagem (At 13.43).

          No outro sábado o auditório tornou-se ainda maior; todos queriam ouvir a palavra de Deus: “No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus (lo,goj tou/ qeou)(At 13.44).

          Enfrentando oposição de alguns judeus, Paulo demonstra que a mensagem rejeitada pelos judeus era agora destinada aos gentios. Registra então Lucas: Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor (lo,gon tou/ kuri,ou), e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. E divulgava-se a palavra do Senhor (lo,goj tou/ kuri,ou) por toda aquela região” (At 13.48-49).

          Notemos: Os gentios se alegraram com a mensagem e, por isso, glorificavam a palavra do Senhore, na sequência, a palavra do Senhor é que se divulgou em toda região.

          Deus transforma os corações e faz com que a sua Palavra, pelo testemunho e pelos efeitos dos que por ela foram alcançados, se expanda.

          Algo semelhante vemos na igreja de Tessalônica:

Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor (lo,goj tou/ kuri,ou) não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro. (1Ts 1.8-9).[1]

          Quando Paulo e Barnabé entenderam que tinham que direcionar o seu ministério para outras cidades, saindo de Antioquia, registra o Livro de Atos: “Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor (lo,gon tou/ kuri,ou), para ver como passam” (At 15.36).

          Destaquemos: a Palavra do Senhor era a sua pregação em todas as cidades; não era uma exceção aqui ou acolá. Mais: a Palavra do Senhor havia operado poderosamente. Tanto é assim que agora eles vão visitar “os irmãos”. Ou seja: Muitos de seus ouvintes haviam criado na Palavra do Senhor e, portanto, se agregado à Igreja. De fato, “…. creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).

          A indignação dos judeus não era simplesmente contra Paulo, antes, contra a sua persistente e contínua mensagem: “Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus (lo,goj tou/ qeou/) era anunciada por Paulo também em Beréia, foram lá excitar e perturbar o povo” (At 17.13).

          Note o “também” do texto. Os judeus o perseguiram em Tessalônica por causa desta mensagem; agora, eles tomam conhecimento de que em Beréia (80 kms de Tessalônica) Paulo persiste em sua pregação; eles não resistem: “foram lá excitar e perturbar o povo”.

          A Palavra do Senhor não significa apenas o primeiro anúncio, os primeiros passos do Evangelho, como se dissessem: no primeiro momento anunciamos a Palavra do Senhor; depois “elevamos” o nível, não. Lucas relata que Paulo passou dois anos pregando diariamente na Escola de Tirano em Éfeso. A mensagem era a mesma Palavra do Senhor; não havia o que de fato acrescentar: “Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor (lo,gon tou/ kuri,ou), tanto judeus como gregos” (At 19.10).

          O resultado desta pregação acompanhada de sinais por meio dos quais Deus operou (At 19.11),[2] foi que “Assim, a palavra do Senhor (lo,goj tou/ kuri,ou) crescia e prevalecia poderosamente” (At 19.20).

          Anos mais tarde, Paulo está preso em Roma; já fora julgado e aguardava o veredicto (Fp 2.19,23,24).Analisando os fatos que lhe aconteceram, ele pôde concluir que por meio da sua prisão, englobando todos os elementos decorrentes da sua situação de preso, o Evangelho estava sendo anunciado. Conforme já mencionamos, escreve então aos filipenses: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso[3] do evangelho” (Fp 1.12).

          Paulo compartilhava com uma igreja também sofrida (Fp 1.27-30),que a sua prisão, ao invés de fechar as portas para a proclamação do Evangelho, estava abrindo novas, inimagináveis e estimulantes oportunidades para o seu testemunho. Como diz Hendriksen, “quando o Apóstolo foi para Roma como prisioneiro, na verdade foi o evangelho que entrou em Roma”.[4]

          Ele demonstra a sua tese: “De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana[5] e de todos os demais” (Fp 1.13).

          Paulo estava algemado a um soldado; havia um revezamento entre os guardas que ficavam com ele. Eles acompanhavam o testemunho de Paulo em todas as suas amarguras e sofrimentos; viam-no aconselhar, orientar e orar com e por aqueles que o procuravam; ditar as suas epístolas para um secretário (em alguns casos, mediante o interesse, é possível que Paulo traduzisse para o soldado romano o que tinha dito em grego), conversava com eles, etc. Isso por certo contribuiu para que muitos destes homens recebessem a Cristo ou, mesmo que isso não acontecesse, esses soldados falavam a respeito do testemunho e ensinamentos daquele prisioneiro tão diferente dos demais. A sua fama corria.

          Por isso Paulo acrescenta: e de todos (o(/l%) os demais” (Fp 1.13), isto é: os habitantes de Roma em geral. Sintomaticamente, no final da carta, Paulo escreve: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (Fp 4.22). Certamente referia-se a muitos dos serviçais de César – escravos e ex-escravos, possivelmente, entre eles, alguns da “guarda pretoriana” que teriam se convertido.[6]

          Observem: Paulo estava preso, mas a Palavra de Deus não podia ser aprisionada: Mais tarde ele escreveria a Timóteo, dizendo que por Jesus Cristo, “estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus (logoj tou= qeou=) não está algemada” (2Tm 2.9). Nada nem ninguém pode deter a Palavra de Deus; os homens podem criar armadilhas para impedir a mensagem, contudo, a Palavra de Deus é o poder de Deus!

Maringá, 06 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


[1] Por sua vez, a igreja quando não age coerentemente com a Palavra, torna-se instrumento de sua difamação. Paulo orienta a Tito quanto às diversas instruções que deveria dar à igreja. A certa altura diz: “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus (lo,goj tou/ qeou/) não seja difamada” (Tt 2.5).

[2] “O milagre não é maior que o poder da Palavra, é uma demonstração que a acompanha” (David Martyn Lloyd-Jones, Cristianismo Autêntico: Sermões nos Atos dos Apóstolos, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006, v. 2, p. 258).

[3]A palavra “progresso” quer dizer: “avanço a despeito das obstruções e perigos que bloqueiam o caminho do viandante” (Ralph P. Martin, Filipenses: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova;  Mundo Cristão, 1985, p. 83). O substantivo era empregado para designar o avanço de um exército ou de uma expedição (William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado,Buenos Aires: La Aurora, (v. 11), 1973, p. 23).

[4]William Hendriksen, Exposição de Filipenses,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, p. 96.

[5]A “guarda pretoriana” (praitw//rion) nos tempos de Paulo, era a guarda de elite, a guarda imperial que tinha a responsabilidade de manter a boa ordem. Os seus membros eram privilegiados, chegando a receber três vezes mais do que os outros soldados regulares; serviam apenas durante 16 anos, tendo uma aposentadoria especial. Esta guarda que fora criada no período anterior a Era Cristã, duraria – com alterações –, até o ano 312 quando Constantino a desativou (Veja-se: Guarda Pretoriana: In: R.N. Champlin; João Marques Bentes, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, São Paulo: Editora e Distribuidora Candeia, 1991, v. 5, p. 376-377).

            Todavia, no texto, ao que parece, a ideia é de que o testemunho de Paulo, aquele misterioso prisioneiro, alcançou todo o “Pretório”; uma espécie de palácio do governador (nas províncias), onde também ficava a sua casa; aqui, usado de forma figurada, referindo-se talvez ao palácio do imperador ou à casa das autoridades judiciais. (*Mt 27.27; Mc 15.16; Jo 18.28 (duas vezes); 18.33; 19.9; At 23.35; Fp 1.13). Seja como for, as notícias a respeito de Paulo se espalharam entre as autoridades romanas.

[6]Para um exame de algumas hipóteses, ver: F.F. Bruce, O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Filipenses, São Paulo: Vida, 1992, p. 167-169; Ralph P. Martin, Filipenses: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova;  Mundo Cristão, 1985, p. 185; William Hendriksen, Exposição de Filipenses,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, p. 272-273; R.C.H. Lenski, St Paul’s Epistle The Philippians,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, (Commentary on the New Testament), 1998, p. 899-900.

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