Teologia da Evangelização (180)

5.2. A Pregação é responsabilidade e privilégio de todo o cristão

                             Conforme já salientamos, a pregação é uma responsabilidade inalienável e essencial de toda a Igreja.[1] Pelo Espírito, todos os salvos se tornam testemunhas.[2] “Estamos salvos, não somente para que estejamos a salvo, mas também para que Deus nos use na salvação de outros”, provoca Lloyd-Jones.[3]

            Paulo escreve de forma contundente:

16 Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17 Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. 18 Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá. (1Co 9.16-18). 14 E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.15Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus,16 para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo. (Rm 15.14-16). (Destaques meus) A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo. (Ef 3.8).

            Considerando, o que temos visto, tendo em foco os textos destacados acima, destaco alguns princípios que devem nos nortear.

a) Não nos envergonhar do Evangelho

Paulo declara com veemência em forma positiva a sua confissão: “Pois não me envergonho paisxu/nomai) do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê….” (Rm 1.16).

No final de seu ministério exorta a Timóteo: “Não te envergonhes (e) paisxu/nomai), portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado,[4] que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8).[5]

Notadamente, o Senhor passou pela humilhação da morte na cruz para nos salvar. Para ele devemos olhar com fé perseverante: “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia (ai)sxu/nh), e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2).

            Sentir vergonha do Evangelho, de sua confissão, significa nos envergonhar de Jesus Cristo, Aquele que é o próprio Evangelho.

Curiosamente, o Senhor, que levou sobre si os nossos pecados, nos vestindo com suas vestes de santidade e, em troca, saiu adornado com os nossos trapos,  não se envergonha de nós, de nos considerar seus irmãos: “Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha (e) paisxu/nomai) de lhes chamar irmãos” (Hb 2.11).

Para estes, o Senhor Jesus preparou lugar no céu (Jo 14.2), a nossa pátria (Fp 3.20-21). A Trindade bendita que nos receberá, não se envergonha de ser o Deus dos crentes: “….Por isso, Deus não se envergonha (e)paisxu/nomai) deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11.16).

            Contudo, o próprio Senhor advertira aos judeus em seu orgulho autônomo:

Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar (e)paisxu/nomai) de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará (e)paisxu/nomai) dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. (Mc 8.38).[6]

Devemos, portanto, permanecer firmados, unidos a Cristo até o fim. No final do primeiro século da Era cristã, sendo a igreja assolada por várias heresias, o apóstolo João exorta os crentes: “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados (ai)sxu/nomai) na sua vinda” (1Jo 2.28).

b) Estar sempre prontos

Devemos estar predispostos a atender ao chamado de Deus. Paulo se declara sucessivamente pronto a levar o Evangelho aonde Deus o mandasse:

À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho. (At 16.9-10). Quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma. (Rm 1.15). Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue. (Gl 1.15-16). (Ver: At 13.1-3).

            O estar pronto não significa esperar por um chamado miraculoso como o de Paulo, antes, a disposição e sensibilidade para aproveitar as oportunidades com as quais nos deparamos. Confesso que a timidez em me aproximar de pessoas estranhas, se configura por vezes em um obstáculo nas possíveis oportunidades que surgem. Contudo, tenho comigo a convicção de que isso não deve servir de desculpas para minha possível omissão. O fato, é que devemos pedir a Deus que abra os nossos olhos para perceber momentos que Ele mesmo prepara e, ao mesmo tempo, que nos dê uma boa palavra, temperada com sal para saber como nos aproximar das pessoas e como iniciar a nossa abordagem.

Precisamos ser sensíveis à missão confiada por Deus. Geralmente esta missão começa com aqueles que estão próximos de nós.

São Francisco do Sul, 26 de fevereiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “A evangelização é a inalienável responsabilidade de toda comunidade cristã, bem como de todo indivíduo crente” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 21).

[2] Veja-se: John Han Hum Oak, Chamado para acordar o Leigo, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 98-104.

[3]D.M. Lloyd-Jones, Santificados Mediante a Verdade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas (Certeza Espiritual, v. 3), 2006, p. 23-24.

[4] A humilhante prisão de Paulo não era motivo de vergonha para ele. Paulo sabia a quem estava servindo: o Senhor que por graça o escolhera na eternidade e o designara pregador deste Evangelho da graça: 8 Não te envergonhes (e)paisxu/nomai), portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus, 9 que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, 10 e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho, 11 para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e mestre 12 e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho (e)paisxu/nomai), porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.8-12). Onesíforo, seu amigo leal, também nunca o abandonou: “Conceda o Senhor misericórdia à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimo e nunca se envergonhou (e)paisxu/nomai) das minhas algemas” (2Tm 1.16). O princípio é instruído por Pedro: 14 Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. 15 Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; 16 mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe (e)paisxu/nomai) disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1Pe 4.14-16).

[5]Veja-se Marcus L. Loane, A Mensagem do Evangelista: In: J.D. Douglas, ed. O Evangelista e o Mundo Atual, São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 48-50.

[6] Os nossos pecados sim, estes devem ser motivo de vergonha (Rm 6.20-21).

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