Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (27) – Principais Catecismos e Confissões Reformados (3)

Este artigo é continuação do artigo: Introdução ao Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (26) – Principais Catecismos e Confissões Reformados (2)

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Principais Catecismos e Confissões Reformados: subsídios históricos (Continuação)

 

7. Cânones de Dort (1618-1619)

O Sínodo de Dort reuniu-se por autoridade dos Estados Gerais dos Países Baixos, em Dordrecht, Holanda, no período de 13/11/1618 a 9/5/1619, tendo 154 sessões. O Sínodo foi constituído de 35 pastores, um grupo de presbíteros das igrejas holandesas, cinco catedráticos de teologia dos Países Baixos, dezoito deputados dos Estados Gerais e 27 estrangeiros, de diversos países da Europa, tais como: Inglaterra, Alemanha, França e Suíça.

 

Dort rejeitou os cinco pontos apresentados pelos arminianos,[1] conhecidos como os Cinco Pontos do Arminianismo. Seguindo J.I. Packer[2] podemos resumir o sistema arminiano e calvinista, da seguinte forma:

 

CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO

 

1) O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente no evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado.

 

 

 

2) O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo.

 

 

 

 

3) A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da provisão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação.

 

4) A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê.

 

5) Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem.

CINCO PONTOS DO CALVINISMO

 

1) O homem decaído, em seu estado natural, não tem capacidade alguma para crer no evangelho, tal como lhe falta toda a capacidade para dar crédito à lei, a despeito de toda indução externa que sobre ele possa ser exercida.

 

2) A eleição de Deus é uma escolha gratuita, soberana e incondicional de pecadores, como pecadores, para que venham a ser redimidos por Cristo, para que venham a receber fé e para que sejam conduzidos à glória.

 

3) A obra remidora de Cristo teve como sua finalidade e alvo a salvação dos eleitos.

 

 

4) A Obra do Espírito Santo, ao conduzir os homens à fé, nunca deixa de atingir o seu objetivo.

 

 

 

 

5) Os crentes são guardados na fé na graça pelo poder inconquistável de Deus, até que eles cheguem à glória.

 

 

Os Cânones de Dort foram aceitos por todas as Igrejas Reformadas como expressão correta do sistema calvinista.[3]

 

8. Confissão e Catecismos de Westminster (1647-1648)

 

A Confissão de Westminster, bem como os Catecismos Maior (1648) e Menor (1647) foram redigidos na Inglaterra, na Abadia de Westminster, conforme convocação do Parlamento Britânico. A Assembleia foi aberta no sábado, 01/07/1643, pregando o Dr. William Twisse (1575-1646) – que iria ser o moderador da Assembleia até a sua morte em julho de 1646 –, baseando o seu sermão no texto de Jo 14.18, “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós”. A Assembleia funcionou de 01/07/1643 até 22/02/1649, realizando 1163 sessões regulares, sem contar as inúmeras reuniões de comissões e subcomissões.[4] O objetivo primário desta Assembleia, era a revisão dos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra.[5] Trabalharam na elaboração da Confissão, 121 teólogos e 30 leigos nomeados pelo Parlamento, a saber: 20 da Casa dos Comuns e 10 da Casa dos Lordes (nomeação feita em 12/06/1643); e, também oito representantes escoceses, quatro pastores e quatro presbíteros, “os melhores e mais preclaros homens que possuía”[6] – sendo que dois deles nunca tomaram assento[7] –, que, mesmo sem direito a voto, exerceram grande influência. Os principais debates desta Assembleia não foram de ordem teológica, já que praticamente todos eram Calvinistas, mas no que se refere ao governo da Igreja. “Embora houvesse diversidade quanto à Eclesiologia, havia unidade quanto à Soteriologia”.[8]

 

Neste particular havia quatro partidos representados; os Episcopais: James Ussher (1581-1656), Brownrigg, Westfield, Prideaux; Presbiterianos: T. Cartwright (1535-1603), Walter Travers (c. 1548-1635), etc.; Independentes: (Congregacionais), “Os cinco Irmãos Dissidentes”, conforme eram chamados,[9] eram: Thomas Goodwin (1594-1665); Philip Nye (1596-1672); Jeremiah Burroughs (1599-1646), William Bridge (1600-1670), Sidrach Simpson; Erastianos: Assim chamados por seguirem o pensamento do médico de Heidelberg, Thomas Erasto (1524-1583) – que defendia a supremacia do Estado sobre a Igreja[10] –, Thomas Coleman, John Selden (1584-1654), Whitelocke, J. Lightfoot (1602-1675). Estes entendiam que o trabalho do pastor era basicamente o de ensino; o pastor é o mestre. Prevaleceu, no entanto, o sistema Presbiteriano de Governo.

 

O Breve Catecismo foi elaborado para instruir as crianças; O Catecismo Maior, como uma espécie de roteiro do que o ministro deveria ensinar à igreja dominicalmente.[11] Eles substituíram em grande parte os Catecismos e Confissões mais antigos adotados pelas igrejas Reformadas de fala inglesa. Apesar de a teologia dos Catecismos e da Confissão de Westminster ser a mesma, sendo por isso sempre adotados os três, parece que os mais usados são o Catecismo Menor e a Confissão.[12]

 

Resumindo, os documentos elaborados por esta abençoada Assembleia, foram:[13]

 

a) Diretório do Culto Público a Deus.[14] (Aprovado pelo Parlamento em 4 de janeiro de 1645, sendo impresso em março de 1645).

 

b) Forma de Governo Eclesiástico e Ordenação. (Aprovado pelo Parlamento em 1648).

 

c) Confissão de Fé. (Concluída primariamente sem os textos bíblicos em 4 de dezembro de 1646[15] e aprovada pelo Parlamento em março de 1648).

d) Catecismo Maior e Menor. (Aprovados pelo Parlamento em setembro de 1648).

 

e) Saltério. (Aprovado pelo Parlamento em janeiro de 1646). Versão metrificada dos salmos para serem cantados no culto público. Os salmos estabelecem uma conexão viva entre o culto público e o privado.[16]

 

Estes Credos foram logo aprovados pela Assembleia Geral da Igreja da Escócia (Confissão (27/08/1647); Catecismos Maior (20/08/1648) e Menor (28/07/1648)), sendo este ato homologado pelo Parlamento Escocês em 07/02/1649.[17] Eles tiveram e têm uma grande influência no mundo de fala inglesa, máxime entre os Presbiterianos – embora também tenham sido adotados por diversas igrejas batistas e congregacionais.[18] No Brasil, estes Credos são adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente e Presbiteriana Conservadora.

 

 

Florianópolis,15/16 de dezembro de 2018.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


 

[1]Discípulos de James Arminius (1560-1609), antigo aluno de Theodore de Beza (1519-1605), sucessor de Calvino em Genebra.

[2] J.I. Packer, O “Antigo” Evangelho, São Paulo: Fiel, 1986, p. 6.

[3] Sobre Dort, vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 508-517; M.E. Osterhaven, Dort, Sínodo de: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 503-504. Os Cânones de Dort foram traduzidos para o português (Os Cânones de Dort, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1995).

[4]Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 753; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 44; Guilherme Kerr, A Assembléia de Westminster, São Paulo: E.F. Beda – Editor, 1984, p. 18.

[5] Cf. Douglas F. Kelly, The Westminster Shorter Catechism: In: John L. Carson; David W. Hall, eds. To Glory and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1994, p. 107; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 43.

[6]Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 41.

[7]Cf. G. Kerr, A Assembléia de Westminster, p. 12. Os que tomaram assento, foram: Ministros: Alexander Henderson, George Gillespie, Samuel Rutherford e Robert Baillie. Presbíteros: Lord John Maitland e Sir Archibald Johnston (Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 42).

[8]R. T. Kendall, A Modificação Puritana da Teologia de Calvino: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 264.

[9]Cf. Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, p. 42.

[10] Veja-se: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2000, p. 197.

[11] Quanto a este ponto, divergindo de Schaff, e de Torrance, que o segue (Thomas F. Torrance, The Scholl of Faith: the catechisms of the reformed church. London: James Clarke & Co., 1959, p. 183), vejam-se: W. Robert Godfrey, Introdução ao Catecismo Maior de Westminster: In: Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado, São Paulo: Editora Os Puritanos, 2007, p. xiii; Chad B. Van Dixhoorn, Catecismo Maior de Westminster: Origem e Composição, Recife, PE.: Os Puritanos/Clire, 2012, p. 12-13 e Joel R. Beeke; Sinclair B. Ferguson, Harmonia das Confissões de Fé Reformadas, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. xiv.

[12] Godfrey apresenta argumentos em prol da importância de se utilizar com ênfase o Catecismo Maior (Veja-se: W. Robert Godfrey, Introdução ao Catecismo Maior de Westminster: In: Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado, p. xi-xxi).

[13] Vejam-se: John L. Carson; David W. Hall, eds. To Glory and Enjoy God: A Commemoration of the 350th Anniversary of the Westminster Assembly, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1994.

[14] Publicado em português: O Diretório de Culto de Westminster, São Paulo: Os Puritanos, 2000, 66p.

[15]Cf. John Murray, The Theology the Westminster Confession of Faith: In: Collected Writings of John Murray, Edinburgh: The Banner of truth Trust, 1982, v. 4, p. 241; J.M. Frame, Confissão de Fé de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 331.

[16] Ver: Howard L. Rice; James C. Huffstutler, Reformed Worship, Louisville, Kentucky: Geneva Press, 2001, p. 7.

[17]Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 759 e 784.

[18]Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 727ss.; D.F. Wright, Catecismos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 251-252; J.M. Frame, Confissão de Fé de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 331-332; J.M. Frame, Catecismos de Westminster: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 252; Guilherme Kerr, A Assembléia de Westminster, 31 p.; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 111-112; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Comentada por A.A. Hodge, p. 37-47; Chad B. Van Dixhoorn, Catecismo Maior de Westminster: Origem e Composição, Recife, PE.: Os Puritanos; Clire, 2012.

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