Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (22)

8.1. Propósito abençoador (Ef 1.3)

 

Algo surpreendente para nós é perceber que Deus deseja mais nos abençoar do que nós mesmos desejamos ser abençoados. Deus sabe o que tem para nós. Nós temos uma visão apenas pálida e limitada disso ainda que possamos saber que é algo maravilhoso. Deus planejou isto na eternidade; nós aos poucos vamos descobrindo à medida que crescemos em nossa fé o quão fundamentais e intensas são as bênçãos de Deus sobre nós. Começamos a perceber o quanto Deus nos tem abençoado e, ao mesmo tempo, vamos deslocando os nossos olhos apenas dos bens materiais e passamos a fixá-los mais em Deus, entendendo que a maior bênção é o próprio Deus que Se relaciona conosco, entrega-Se por nós em Cristo e habitando em nós de modo definitivo pelo Espírito Santo.

 

Paulo bendiz a Deus com uma expressão de ação de graças, considerando quem é Deus e as Suas bênçãos que recebemos por intermédio de Cristo: que nos tem abençoado (eu)logh/saj) (Ef 1.3).

 

Deus nos tem abençoado continuamente em Cristo. O particípio aoristo (eu)logh/saj) indica dentro deste contexto, um fato consumado e a ação continuada de Deus. Podemos interpretar que Deus na eternidade já nos abençoou definitivamente; a sua bênção é completa; todavia, ela é-nos comunicada continuamente ao longo da história. Essas bênçãos são multifacetadas: “toda sorte” (pa/sh), na realidade, “todas” e “cada” bênção que temos, sem exceção, provém do Senhor.

 

As “regiões celestiais” (e)n toi=j e)pourani/oij = lit. “dos céus”, “celestiais”)[1] indicam a procedência das bênçãos. As bênçãos são espirituais porque originam-se e provêm de Deus – o Pai que habita os céus (Mt 6.9) e, para onde Ele mesmo nos levará (2Tm 4.18) -, sendo-nos comunicadas pelo Espírito. Essas bênçãos relacionam-se diretamente ao ministério de Cristo, que é celestial (2Tm 4.18), tendo um alcance cósmico (Ef 3.10). Isso também denota a nossa nova condição: Deus “nos fez assentar nos lugares celestiais (e)pourani/oij) (Ef 2.6) juntamente com Cristo (Ef 1.20).

 

Considerando essas bênçãos, que ultrapassam em muito a nossa capacidade de pensar, sentir ou imaginar (Ef 3.20), devemos buscar continua e habitualmente o reino de Deus (Mt 6.33); as “coisas lá do alto” onde Cristo está à direita de Deus (Cl 3.1).

 

Tudo que temos é “em Cristo”. “Vê-se então que a fé nos ensina que todo o bem que nos é necessário e que em nós mesmos não existe está em Deus e em Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, em quem o Senhor constituiu toda a plenitude das Suas bênçãos e da Sua liberalidade”, argumenta Calvino.[2] Neste texto, Ef 1.3-14, há pelo menos doze referências diretas a Cristo, indicando a verdade de que, fora de Cristo nada somos e nada temos. Ele é o fundamento da Igreja. Juntamente com os dons celestiais, Cristo dá-se a Si mesmo por nós (Rm 8.32). A eleição tem um sentido escatológico: é da eternidade para a eternidade em santificação: até que a nossa salvação seja consumada na glorificação.[3]

 

Continuaremos no próximo post.

 

 

São Paulo,16 de abril de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.

 


[1]E)poura/nioj: Mt 18.35 (variante textual); Jo 3.12; 1Co 15.40,48,49; Ef 1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12; Fp 2.10; 2Tm 4.18; Hb 3.1; 6.4; 8.5; 9.23; 11.16; 12.22.

[2]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 91.

[3]Veja-se: J. Calvino, As Institutas, III.22.10.

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