Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (44)

c) Para servir ao nosso próximo: Servimos ao nosso próximo com a liberdade que Cristo nos deu, no amor de Cristo e do seu Evangelho. A liberdade cristã se exercita em amor:

19 Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 20 Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. 21 Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. 22 Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. 23 Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. (1Co 9.19-23).

Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. (2Co 4.5).

Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. (Gl 5.13).

Martinho Lutero (1483-1546) expressou isto da seguinte maneira: “Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos”.[1]

d) Para a prática da Justiça: A graça não pode nem deve ser banalizada. Fomos libertos para uma vida de justiça: “Carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça” (1Pe 2.24).

Paulo escreve aos romanos:

E, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza, e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo que resultados colhestes? Somente as cousas de que agora vos envergonhais; porque o fim delas é a morte. (Rm 6.18-21).

Paulo desafia os crentes romanos a desenvolverem a sua liberdade no uso constante da prática da justiça. Ele faz um paralelo entre a nossa escravidão anterior à maldade (Rm 6.19) e, agora, livres que somos, devemos oferecer os nossos membros para a justiça. Livres do pecado, nos tornamos incondicionalmente servos da justiça. Se antes, em nossa escravidão espiritual, servíamos ao pecado, agora, libertos por Cristo, devemos obedecer à justiça.

e) Para a santificação e vida eterna: Paulo escreve aos romanos falando da nossa situação atual e do alvo proposto por Deus para nós: “Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna” (Rm 6.22).

O homem justificado por Deus foi liberto da condenação da Lei. Esta libertação implica o início de uma nova fase da sua vida onde a sua prioridade é o crescimento espiritual em obediência à Palavra de Deus. O fruto da obediência ao pecado é a morte (Rm 6.21,23). O resultado da nossa obediência a Deus é a vida eterna.

A justificação e a santificação são obras que Deus opera inseparavelmente. Fomos declarados justos (Rm 5.1) e, agora, em paz com Deus, tem início em nossa vida o processo de santificação. Como bem escreveu F.F. Bruce (1910-1990), “A santificação é o começo da glória e a glória é a santificação completada”.[2]

Usamos corretamente a nossa liberdade quando nos apropriamos de todos os meios que Deus nos fornece para o desenvolvimento de nossa fé.

Hendriksen (1900-1982) expressou corretamente o conceito cristão de liberdade, nestes termos: “Se é livre quando o pecado não nos domina, e quando a Palavra de Cristo domina o coração e a vida. Se é livre, por conseguinte, não quando se pode fazer o que se quer, senão quando se deseja fazer o que se deve fazer”.[3]

Maringá, 20 de março de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]M. Lutero, Da Liberdade Cristã,3. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1979, p. 9. (Esta obra também foi publicada In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas,São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1989, v. 2, p. 437).

[2] F.F. Bruce, La Epistola a los Hebreos, Michigan: Nueva Creacion, 1987, p. 45. Da mesma forma compreende Packer, quando diz: “A santidade será perfeita lá no céu. Estarmos incapacitados de pecar será tanto a nossa liberdade como o nosso gozo” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São Paulo: FIEL, 1994, p. 164). (Veja-se também: C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 68).

[3]G. Hendriksen, El Evangelio según San Juan,Grand Rapids, Michigan: SLC., 1981,(Jo 8.32), p. 317.

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