“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (131)

7.5.2.4. É uma unidade de propósito (Continuação)

Se pudéssemos imaginar na eternidade alguém perguntando sobre os frutos da obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo, encontraríamos a resposta na indicação jubilosa da Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue e preservou até o fim (At 20.28/Is 43.7/Ef 1.3-14; 2.6,7). “A Igreja é o brilho mais esplendente da sabedoria de Deus (…). A Igreja é a expressão final da sabedoria de Deus, a realidade que, acima de todas as demais, capacita até os anjos a compreenderem a sabedoria de Deus”, exulta Lloyd-Jones.[1]

     O Evangelho deve ser anunciado em sua inteireza a todos os homens e ao homem todo. A Teologia oferece solidez na transmissão desta verdade, mostrando quem é Deus e a real necessidade do homem.

     Van Til (1895-1987) comenta:

Tudo o que as Escrituras dizem a respeito do homem, e particularmente tudo o que elas dizem sobre a salvação do homem, é afinal de contas para glória de Deus. Nossa teologia está centralizada em Deus porque nossa vida está centrada em Deus.[2]

            Quando a evangelização se transforma apenas em questão de estatística ― número de membros, tamanho do edifício, arrecadação, relevância social das pessoas que frequentam os cultos etc. ―, há muito deixamos de compreender o genuíno significado do Evangelho bíblico. A grandeza e importância da Igreja está em seu Senhor; as demais coisas são periféricas. A mensagem do Evangelho propõe-se a anunciar a Deus na beleza de sua santidade, sabendo que Deus será glorificado por meio de nossa fidelidade à sua Palavra.

            O livro de Atos se constitui no maior relato da glorificação de Cristo pelo Espírito: A expansão missionária e a edificação dos crentes em santidade. Quando cristãos sinceros pregavam o Evangelho e, homens e mulheres eram transformados pelo seu poder, sendo conduzidos a uma vida santa, Cristo estava sendo glorificado. Este continua sendo o modo efetivo de glorificar a Deus: Obedecer aos seus mandamentos em fé e amor.

            Nas páginas do Novo Testamento vemos que quando a liderança da Igreja de Jerusalém foi convencida por Pedro ― como este também o fora pelo Senhor ―, de que a mensagem do Evangelho era para todos, sem exceção; com alegria glorificaram a Deus: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram (doca/zw) a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At 11.18).

            Posteriormente, quando os gentios entenderam a mensagem do Evangelho após a pregação de Paulo inspirada no profeta Isaías, relata Lucas: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam (doca/zw) a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).

            Quando Paulo relata aos presbíteros de Jerusalém como Deus operara entre os gentios por intermédio do seu ministério, “Ouvindo-o, deram eles glória (doca/zw) a Deus e lhe disseram: Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (At 21.20). Notemos que em todas estas manifestações, Deus e a sua mensagem é que eram engrandecidos: a glória pertence unicamente a Deus!

            Paulo no final da segunda carta aos tessalonicenses, roga àqueles irmãos que conheciam o poder e glória do Evangelho: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada (doca/zw), como também está acontecendo entre vós” (2Ts 3.1). A Igreja prega o Evangelho e ora para que Deus, somente Deus seja glorificado por meio de sua missão. De fato, Deus o será todas as vezes que a Igreja for fiel ao seu Senhor.

            Kuiper (1886-1966) é contundente e certeiro em sua afirmação:

A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E não é a salvação de almas. Nem o crescimento da Igreja de Cristo. Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos estes objetivos da evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas são apenas meios para a consecução do fim para o qual todas as coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a glória de Deus. Em resumo, de todos os cristãos, o calvinista tem de ser o mais zeloso pela evangelização. É o que ele será, se for verdadeiramente calvinista – e não só de nome.[3] 

            O objetivo final da evangelização, bem como da salvação do seu povo, é que Deus seja glorificado. A Igreja, como bela expressão da sabedoria e glória de Deus, é por natureza agente dessa glória. Por isso, a Igreja não pode ter outro objetivo além de glorificar a Deus. Nisso, as demais coisas necessárias, serão acrescentadas. Glorifiquemos ao Senhor em nossa unidade obediente.

Maringá, 20 de agosto de 2020.

            Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 77.

[2]Cornelius Van Til, An Introduction to Systematic Theology, Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Co. 1974, p. 1.

[3]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 149. Vejam-se também: R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 58-59; 90-91; Idem, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 225-226; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 51ss.; John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 13-14,17,18.

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