A Pessoa e Obra do Espírito Santo (90)

d) Deve ser um desejo prioritário

                                      Podemos desejar ardentemente alguma coisa. Todavia, mesmo que não tenhamos condições concretas para estabelecer com precisão a intensidade de nosso desejo, é justo que perguntemos: Até que ponto desejamos a justiça de Deus? Jesus nos ensina a dar prioridade ao seu reino de justiça sobre todas as coisas.

     Uma das dificuldades que enfrentamos em nossa finitude está no fato de que muitas vezes as nossas escolhas não estão entre aquilo que nos parece bom e a opção do que nos parece mal; agradável e desagradável, doce e amargo.

     A realidade nem sempre está tão claramente polarizada diante de nós porque, de fato, as coisas nem sempre são assim tão simples em suas manifestações. Se assim fosse, as nossas decisões seriam mais fáceis.

     O problema é que, com frequência, nos deparamos com opções legítimas, justas e necessárias, contudo, temos de escolher. Por certo todos já tiveram e têm de quando em vez a experiência de se deparar com o conflito de desejos. Quando este conflito é entre um que nos parece, já à primeira vista, preponderante, não há problema; é fácil de decidir.

     A questão se torna grave quando nos encontramos diante de desejos irreconciliáveis e, ao mesmo tempo, “prioritários”. Como decidir? No caso, temos que escolher o mais importante entre os importantes.

     Todavia, esta escolha pode ser apenas circunstancial; ou seja: hoje, neste momento, podemos optar por um deles, amanhã, em situação análoga, talvez a nossa escolha fosse diferente. Com isto quero dizer que as nossas prioridades variam muitas vezes, conforme as circunstâncias que envolvem aspectos externos e internos.

     Deus deve ser a nossa prioridade absoluta, não em determinadas situações, mas sempre. Com demasiada frequência, o “bom” pode ser o maior inimigo do “melhor”.

     Jesus nos instrui: Buscai (zhte/w = buscar ardorosa e constantemente), pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça (dikaiosu/nh), e todas estas cousas vos serão acrescentadas”(Mt 6.33). Deste modo, a busca da justiça de Deus deve ser prioritária entre as nossas prioridades. As demais coisas, não são necessariamente irrelevantes, contudo, diante do Reino elas se tornam naturalmente secundárias. Portanto, o Reino de justiça é que deve normatizar o que de fato é “essencial” para nós, não as nossas supostas necessidades prementes. A obediência a Deus é sempre instrutiva e essencial.

     Como vimos, Deus ama quem segue o caminho da justiça (Pv 15.9). A prática da justiça é mais aceitável a Deus do que o culto destituído deste sentimento e de ações concretas: “Exercitar justiça (hq’d’c..)(tsedaqah) e juízo é mais aceitável ao SENHOR do que sacrifício” (Pv 21.3).

     Um culto que vise apenas cumprir externamente a lei de Deus ou, obter favores de Deus, é profundamente desolador para o Senhor (Is 1.10-17; 29.13; Ml 1.10). Deus é justo; não é subornável. “Precisamos enfatizar que orar não é um substituto pra a obediência”, exorta-nos Murray.[1]

O Deus a quem supostamente oferecemos o nosso culto, conhece nossos corações a ações. Sendo Ele justo, sonda com justiça as nossas intenções, daí dizer o salmista: “Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo (qyDIc;) (tsadiyq); pois sondas a mente e o coração, ó justo (qyDIc;) (tsadiyq) Deus” (Sl 7.9).

No oitavo século a.C., antes do cativeiro Assírio (722 a.C.), por intermédio do profeta Amós, Deus adverte explicitamente ao povo que cada vez mais distante Dele, corrompia o juízo, transformando a justiça de Deus em algo amargo (Am 5.7,15; 6.12):

21Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembleias solenes não tenho nenhum prazer. 22E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. 23Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. 24Antes, corra o juízo como as águas; e a justiça (hq’d’c..)(tsedaqah), como ribeiro perene” (Am 5.21-24).

     Praticar a justiça é, em última instância, servir a Deus. Por meio de Malaquias. o Senhor diz que no final, diante do juízo de Deus será evidenciado que o justo – sem dúvida declarado justo pela graça –, é o que serve, obedece a Deus: “Então, vereis outra vez a diferença entre o justo (qyDIc;) (tsadiyq) e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve”(Ml 3.18).

     Portanto, bem-aventurados são aqueles que servem a Deus na prática da justiça: “Bem-aventurados os que guardam a retidão e o que pratica a justiça (hq’d’c..)(tsedaqah) em todo tempo” (Sl 106.3).

Maringá, 21 de janeiro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa.


[1] Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 26.

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