A Pessoa e Obra do Espírito Santo (242)

          3) Existem graus de santificação

A santificação é um processo contínuo de aperfeiçoamento. Sabemos que, por vezes, temos a impressão em nossa própria vida, que a sua trajetória  é lenta e o crescimento é quase imperceptível, visto que as falhas, os maus pensamentos, lutas internas e pecados sobreviventes, ainda perduram de forma eloquente. No entanto, podemos ter certeza de que a nossa santificação está sempre se desenvolvendo, enfrentando, em sua caminhada, um combate que traz consigo necessariamente a ideia de graus de santidade. Contudo, com esta declaração, faz-se necessário alguns esclarecimentos.

          Isso não quer dizer, que:

          (a) Haja pessoas mais regeneradas, justificadas ou perdoadas do que outras. A regeneração, a justificação e o perdão ocorrem uma única vez, definitiva e completamente em Cristo.

          (b) Haja na Igreja pessoas melhores do que outras, menos endividadas com a graça. Na realidade, todos nós somos inteiramente dependentes da graça misericordiosa de Deus. A pretensão de erguer, ainda que uma só partícula de merecimento, por menor que seja, como justificativa para a nossa aceitação diante de Deus, significa uma total ignorância da mensagem do Evangelho.

          Isso significa que: “[a santificação] não é igual em todos os crentes, e nesta vida não é perfeita em crente algum, todavia sempre avança para a perfeição”, instrui o Catecismo Maior de Westminster.[1]

          O que ocorre conosco é um processo gradativo de submissão a Deus, de prazer em fazer a sua vontade, em usar dos meios que Ele nos fornece para o nosso aperfeiçoamento.

Por isso, as recomendações bíblicas para que cresçamos, desenvolvamos a nossa fé. Se não houvesse essa possibilidade, ou se a santificação fosse apenas um ato único efetuado por Deus, tais recomendações não teriam razão de ser. Todavia, a Bíblia nos exorta repetidas vezes, como vimos, para que cresçamos espiritualmente, nos submetendo à vontade de Deus, desenvolvendo a nossa salvação, conforme instrui Paulo: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12b-13).

          Neste processo de formação e de crescimento, obviamente haverá lutas, combates, fracassos, arrependimento, confissão, perdão e disciplina: nem tudo é tranquilo e pacífico, visto que Deus, pelo Espírito, está formando um novo homem à sua imagem (Rm 8.29-30/Gl 4.19/Hb 12.4-14).[2]

          Devemos acrescentar que a nossa santidade, por mais elevada que seja, sempre será inadequada diante do escrutínio perfeitamente santo de Deus. Portanto, a nossa confiança nunca deverá estar amparada em nossa “bondade”, “boas obras” ou “alto nível espiritual”, mas, unicamente nos méritos de Cristo, o Deus encarnado, perfeitamente santo.  Por isso, a advertência de Paulo: “Não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.9). É Deus mesmo quem por seu soberano poder nos municia dos meios necessários para a nossa salvação e santificação (2Pe 1.3).[3]

Maringá, 19 de julho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 77.

[2] Veja-se: J.I. Packer,  Na Dinâmica do Espírito,São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 112-117.

[3] Veja-se: John Calvin, Calvin’s Commentaries, v. 22/2, (2Pe 1.3), p. 369.

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