A Pessoa e Obra do Espírito Santo (319)

4) Ser cheio do Espírito Santo

                                                                                            “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito….” (At 6.3).

            É o Espírito quem nos capacita. Somente pelo Espírito poderemos usar adequadamente – de forma correta e intensa – do que Ele mesmo tem nos concedido. O Espírito não nos aliena, antes, nos conduz à percepção mais aprimorada e intensa da Palavra de Cristo que habita ricamente em nós. O Espírito nos estimula e capacita espiritual e intelectualmente a entender e obedecer a Palavra de Deus.  

            Os diáconos precisavam ser cheios do Espírito – como todo o cristão, Ef 5.18 – para poderem, de modo especial, desempenhar as suas atividades dignamente, com discernimento, demonstrando amor, alegria, paz, longanimidade, mansidão etc. que são subprodutos do amor, que é o fruto do Espírito (Gl 5.22,23). “O Espírito Santo nos coloca em um relacionamento correto com Deus e as pessoas”, comenta Stott.[1] O Espírito cria pontes nos conduzindo às pessoas com discernimento e compaixão.

            O enchimento do Espírito pressupõe o selo e o batismo definitivos do Espírito. Por isso mesmo, não se confunde com eles (Ef 1.13; 4.30; 1Co 12.13).[2] O batismo e o selo do Espírito são realidades efetivas para todos os crentes em Cristo.[3] Já o enchimento é um dever de cada cristão que reconhece a sua eleição eterna para a salvação em santificação (Ef 1.4/2Ts 2.13).

            A ideia expressa em Ef 5.18, é a de ter o Espírito em todas as áreas da nossa vida, de forma plena e abundante. Aqui, quatro observações devem ser feitas:[4]

            a) O Verbo “encher” (plhro/w) está no modo imperativo. Portanto, o enchimento” não é algo facultativo ao crente – podendo ou não realizá-lo – antes, é uma ordem expressa de Deus, consistindo em desobediência voluntária o não esforçar-se por fazê-lo.

            b) O verbo está no tempo presente, expressando uma ordem imperativa e, também, indicando uma experiência que se renova num processo permanente, contínuo, por meio do qual vamos, cada vez mais, sendo dominados por Ele, passando a ter a nossa mente, o nosso coração e a nossa vontade – o homem integral – submetidos ao Espírito.[5] Por isso, podemos interpretar o texto de Ef 5.18, como que Paulo dizendo: “Sede constantemente, momento após momento, controlados pelo Espírito”.

            Hoekema (1913-1988) observa que, “o imperativo presente ensina-nos que ninguém pode, jamais, reivindicar ter sido cheio do Espírito de uma vez por todas. Estar sendo continuamente cheio do Espírito é, de fato, o desafio de uma vida toda e o desafio de cada dia”.[6]

            c) O verbo está no plural. Logo, esta ordem é para todos os cristãos, não apenas para os líderes. Todos nós sem exceção devemos ser enchidos do Espírito. Aqui temos um mandamento explícito para toda a Igreja – “enchei-vos do Espírito!”– não uma opção de vida cristã para alguns, que pode ser seguida ou não. A ordem bíblica é categórica e para todos os crentes em Cristo.[7]

            d) O verbo está na voz passiva, indicando que o sujeito da ação é passivo. Deus é o autor do enchimento. Notemos, contudo, que nesta progressividade espiritual, haverá sempre a participação voluntária do crente que, consciente de suas necessidades espirituais, procurará cada vez mais intensamente submeter-se à influência do Espírito, recorrendo aos recursos fornecidos pelo próprio Deus para o nosso aperfeiçoamento piedoso (2Pe 1.3-4).[8]

            A sequência do texto de Efésios nos mostra os frutos práticos e concretos desse “enchimento”.  Paulo, portanto, nos diz que a solução para qualquer dificuldade em nossa vida, seja em que âmbito for, passa pelo enchimento do Espírito. Aqui temos um princípio universal para todo e qualquer problema particular: Enchei-vos do Espírito![9]

            Este enchimento nunca será definitivo nesta existência, por isso a ordem contínua para todos os crentes, que deve ser uma experiência renovada: Enchei-vos do Espírito! A vida cristã tem algo a dizer sobre qualquer área de nossa existência. O Cristianismo não é uma religião de brechas, de compartimentos estanques de nossa existência, antes, de todas as facetas da vida. A mensagem do Evangelho é para todos os homens e para o homem todo em sua inteireza e integralidade.

            Uma vida autenticamente cristã produz seus reflexos em todas as áreas da nossa existência e da sociedade. Esse aspecto é destacado como um fator de relevância na escolha dos diáconos feita pela igreja.

Maringá,18 de outubro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] John R.W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo, 2. ed. ampl. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 44.

[2]“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13). “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12.13).

[3]“A essência do cristianismo é que o Espírito Santo nos é dado, está em nós, quer tenhamos consciência dele quer não” (D. Martyn Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 123).

[4] Vejam-se: Kenneth S. Wuest, Joias do Novo Testamento Grego, São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1979, p. 29-32; A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 58-59; John R.W. Stott, Batismo e Plenitude do Espírito Santo, 2. ed. ampl. São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 44-45; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 650.

[5] “O Espírito Santo preenche a vida controlada por Sua Palavra. Isso dá ênfase ao fato de que o preenchimento do Espírito não é algo estático ou uma experiência emocional, mas um firme controle de vida por meio da obediência à verdade da Palavra de Deus” (John F. MacArthur, Colossenses e Filemon, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 56).

[6] A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, p. 58.

[7] Veja-se: A.A. Hoekema, Salvos pela Graça, p. 58.

[8]3 Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, 4 pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo” (2Pe 1.3-4).

[9]D.M. Lloyd-Jones, Vida no Espírito: no casamento, no lar e no trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 22.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *