Uma oração intercessória pela Igreja (40)

          4.1.5.3. Manifestações do Senhorio Pastoral de Cristo (Continuação)

K. Faz a Igreja crescer abençoando providencialmente o nosso trabalho

            Lucas descrevendo a vida cotidiana da incipiente igreja em Jerusalém, resume: “Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor (ku/rioj), dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47/At 9.31/1Ts 3.11-13).

            O Senhor cuida de sua Igreja de modo surpreendente. Por vezes o nosso aparente fracasso se manifesta em grandes vitórias sob o cuidado soberano e pastoral de Deus. Outras vezes, o nosso trabalho e testemunho cotidianos, que parecem ser tão rotineiros, se mostram, por graça, poderosos no crescimento e amadurecimento da Igreja.

            O contexto de Atos nos diz que enquanto a igreja pregava a Palavra, vivia em comunhão, participava publicamente do culto, da Ceia, orava e louvava a Deus, “acrescentava-lhes (prosti/qhmi) o Senhor (ku/rioj), dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.47). O verbo, no modo imperfeito ativo apresenta a ideia de que a obra de Deus vinha sendo feita e continuava pelo poder de Deus (Vejam-se: At 2.41; 5.14; 11.24).

            É o Senhor quem faz a sua Igreja crescer por meio das conversões que Ele mesmo opera. Todavia Ele o faz, ordinariamente, pela instrumentalidade dos que foram transformados e congregados à igreja e que pregam a Palavra, evidenciando os frutos do Espírito tão presentes na vida destes cristãos descritos em Atos.

            Destaco um acontecimento e seu desdobramento:

            Após o eloquente e desafiante sermão de Estevão e, a sua consequente morte por apedrejamento (At 7.1-60) – a forma judaica de executar os culpados de blasfêmia (Lv 24.16; Jo 10.33) – o grupo inquisidor estimulado por esta atitude assassina, promoveu “…. grande perseguição contra a igreja de Jerusalém”(At 8.1), com a permissão do sumo sacerdote (At 8.3; 9.1,2).

            Consequentemente, narra Lucas, “….e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria” (At 8.1).

            O termo usado em At 8.1 para descrever a “perseguição” apresenta a ideia de uma caça violenta e sem trégua.[1] Lucas, inspirado por Deus, pinta este quadro de forma mais forte, adjetivando “grande”, indicando assim, a severidade da perseguição. Saulo foi o grande líder desta ação contra os cristãos (At 8.1; 9.1,2; 22.4,5; 26.9-12).

            O verbo usado para descrever a “dispersão” – diaspei/rw – (At 8.1,4), está ligado à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Testamento e somente para descrever os fatos relacionados a esse episódio (*At 8.1,4; 11.19). Assim, por meio da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do Evangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).

            Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converteram (At 8.5-8). Posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At 8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse semelhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa – que se converteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “…. Filipe veio a achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a Cesaréia”(At 8.40).

            Outro fato que evidencia a ação providencial de Deus na perseguição de Jerusalém, está registrado em At 11.19-21, onde lemos no verso 19: “…. Os que foram dispersos, por causa da tribulação que sobreveio a Estevão, se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia….”. Nos versos 20 e 21 temos ainda a proclamação expandindo-se: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”.

            Vemos, desta forma, que o Evangelho do Senhor estava sendo disseminado, tendo como elemento gerador uma perseguição que parecia ser fatal para a Igreja de Cristo; entretanto Deus a redundou em bênçãos para o seu povo (Gn 50.20/Rm 8.28). (Analisaremos este assunto posteriormente de forma mais detalhada).

            Desse modo, devemos aprender a confiar no Senhor, realizando a obra que Ele nos confiou a fazer, deixando o resultado com Deus. Ele é o Senhor da Igreja. Ele abençoa o nosso trabalho feito em seu nome. No Senhor, o nosso trabalho nunca será em vão (1Co 15.58).

Maringá, 07 de maio de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]O substantivo “perseguição” (Diwgmo/j = “caça”, “pôr em fuga”) dá a entender a figura simbólica de um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia. Esta palavra denota mais especificamente as perseguições promovidas pelos inimigos do Evangelho; ela se refere sempre à perseguição por motivos religiosos (Vejam-se: Mc 4.17; At 8.1; 13.50; Rm 8.35; 2Tm 3.11). O verbo Diw/kw é utilizado sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc 21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para descrever a perseguição que Paulo efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp 3.6), sendo também a palavra utilizada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de sua perseguição (At 9.4-5/At 22.7-8/At 26.14-15). Paulo diz que antes perseguia a igreja (Fp 3.6), mas, agora, prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14).

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