Uma oração intercessória pela Igreja (18)

4.1.1. Fé no Senhor Jesus: O Enviado de Deus (Continuação)

                                                         2) No envio do Filho vemos o amor Salvador do Pai

                                    O amor de Deus é a matriz e a possibilidade de nosso amor.[1] O seu amor antecede ao nosso e nos capacita a amar. Há um nexo essencialmente causal entre o amor de Deus e o nosso: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo4.19).

            O Amado nos ama com o amor que é próprio de Deus do qual Ele é o beneficiário. O Seu amor é uma expressão do amor eterno do Deus Pai, sendo o Filho o alvo primeiro e especial. O desafio para nós, como objetos de amor do Amado é aprender a amar como Ele nos ama. No exercício do amor revelamos o amor do Amado em nós.

            O amor é medido a partir do que ele se dispõe a dar. Deus não conhece limites em Seu santo amor (Rm 8.32).[2]O seu único Filho eterno em quem se agrada, sendo Ele o seu prazer (Mt3.17;[3]12.18;17.5;2Pe1.17), o Pai o envia para entregar a sua vida pelos seus inimigos para que estes fossem reconciliados consigo mesmo(Ef2.4).[4]

            Este amor foge, escapa totalmente à nossa compreensão. De fato “o amor de Deus é poderoso para vencer todotipodedificuldadeeinfidelidade.Oamoreleitoré,aomesmotempo,amorcompassivoeamorperdoador”, comentam Günther e Link. [5]

            Como entender, ainda que parcialmente, este amor sacrificial de Deus, capaz de dar o “Amado” pelos inimigos amados (Ef 1.7)?

            Entregar amados menores pelo Amado, conseguimos entender. Afinal, quem já não se desfez de algo importante, porém, de menor valor para adquirir algo mais importante para nós? Contudo, dar o Amado pelos Seus inimigos, sim, amados, porém inimigos, isto não faz sentido em nossa lógica.

            De fato, não temos categorias que nos permitam compreender este mistério. O nosso consolo e alegria consistem em saber que Deus é amor e que Ele nos ama em Cristo Jesus, o Amado.[6]

            JesusCristoéaprovamaisevidentedequeDeusnosama:

Porque Deus amou (a)gapa/w) o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou (a)poste/llw) o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. (Jo3.16-17).[7]

Nisto se manifestou (fanero/w) o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado (a)poste/llw) o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou (a)poste/llw) o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. (1Jo 4.9-10).

E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou (a)poste/llw) o seu Filho como Salvador do mundo. (1Jo 4.14).

            Deus deu o seu Filho não para uma profissão ou um serviço voluntário,masparaperecerpelosseusinimigosafimdequeestesnãopereçam.[8] Daí a sólida confiança de Paulo, extraindo uma lição bastante prática: “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou….” (Rm8.32).

            Ainda que não tenhamos a pretensão de compreender exaustivamente este assunto, no próximo post analisaremos alguns aspectos que poderão ampliar, ainda que modestamente, a nossa compreensão.

Crer na procedência do Filho significa aceitar o amor do Pai.

      

Maringá, 7 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “O amor que Deus nutre por nós é sem paralelo” (João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 90.16), p. 442).

[2] “A medida do amor, humano e divino, é o quanto ele dá. Por este padrão, o amor de Deus é imensurável, porque tanto a grandeza da dádiva quanto o seu custo estão além da nossa compreensão. Todos os paralelos humanos são insuficientes; todas as comparações, inadequadas” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 137).

[3]Eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado (a)gaphto/j), em quem me comprazo” (Mt 3.17).

[4] “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. 4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor (polu/j a)ga/ph) com que nos amou (a)gapa/w), 5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, 6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; 7 para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.1-7).

[5]W. Günther; H.-G. Link, Amor: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 199.

[6] Trato desse assunto com mais detalhes em: Hermisten M.P. Costa, Efésios: O Deus Bendito, São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

[7]“Jo 3.16 fez a espantosa, incompreensível, impenetrável, profunda e quase incrível declaração de que o santo Deus ama soberanamente pecadores que merecem o inferno, e que os ama tanto que quis que o Seu Filho unigênito, a quem Ele ama com todo o amor do Seu coração infinito, sofresse no inferno em lugar deles!” (R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 18).

[8]C.H. Spurgeon, Amor Imensurável,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 7-8. “O custo do sacrifício nos persuade a respeito da grandeza do amor de Deus e garante a doação de todas as demais dádivas de forma gratuita” (Rm 8.32) (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p.19).

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