Uma oração intercessória pela Igreja (16)

4.1.1. Fé no Senhor Jesus: O Enviado de Deus

             Na Oração Sacerdotal,[1] pronunciada pelo Senhor Jesus antes de ser preso, lemos:

Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. (…) Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram (pisteu/w) que tu me enviaste. (Jo 17.6,8).

            O sentido do verbo crer, é o de estar totalmente persuadido, convencido. Esta persuasão é resultado do conhecimento experimental. Os discípulos receberam e conheceram a Palavra encarnada (Jesus Cristo) e a palavra por Ele transmitida. Por isso creem; estão totalmente convencidos de que Jesus Cristo é o enviado de Deus.

            Sem dúvida, o testemunho de Cristo revela o seu conhecimento intenso e real do Pai. Em outro contexto dissera: “Eu o conheço (oi)=da) porque venho da parte dele e fui por ele enviado (a)poste/llw)[2] (Jo 7.29).

Os discípulos creram na procedência do Filho partindo da Palavra que eles receberam do Senhor. Na realidade, eles foram convencidos pelo testemunho de Cristo; não foi algo mágico, antes, foram persuadidos.

Notemos que Jesus Cristo manifestou o nome do Pai transmitindo as palavras que Ele lhe dera. A partir daí, seus discípulos receberam (Jo 17.8) o testemunho de Cristo, reconheceram/conheceram (Jo 17.7-8) no Pai a fonte de tudo que recebem e a procedência de Jesus Cristo. Creram(Jo 17.8) que Jesus Cristo foi enviado pelo Pai, e, por fim, guardaram (Jo 17.6) a Palavra.

Portanto, podemos concluir que o caminho do discipulado começa pela Palavra que, sendo recebida, guardada e crida, conduz-nos a Deus.

       João registra que depois de Jesus pregar à mulher samaritana e aos demais samaritanos trazidos por ela, “Muitos outros creram (pisteu/w) nele, por causa da sua palavra” (Jo 4.41).

Em outro contexto vemos que quando Jesus testemunhava a respeito do Pai, muitos creram nele:

28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. 29 E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. 30 Ditas estas coisas, muitos creram (pisteu/w)nele. (Jo 8.28-30).

Não existe vida cristã sem a convicção de quem é Jesus Cristo e de sua procedência. O mundo por não conhecer o Pai não reconheceu no Filho o seu enviado. Os discípulos, por graça, tiveram uma percepção especial: “Pai justo, o mundo não te conheceu (ou)k e)/gnw); eu, porém, te conheci (ginw/skw), e também estes compreenderam (pisteu/w)que tu me enviaste (a)poste/llw) (Jo 17.25).

             Jesus Cristo enfatiza a importância da fé alicerçada na certeza de que o Pai enviou o Filho. A questão então é: por que é necessário crer que o Filho é enviado do Pai?

Jesus ressalta a importância desta convicção durante a sua oração antes de ressuscitar a Lázaro:

Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste (a)poste/llw). (Jo 11.41-42).

Em uma única identificação direta, Jesus Cristo é chamado de forma definida de Apóstolo, o Enviado de forma única e singular, e, conforme o contexto, superior a Moisés e a Arão: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo (to\n a)po/stolon)[3] e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (Hb 3.1).[4]

      

Maringá, 7 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Para um estudo desta oração, veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Tua Palavra é a Verdade, Brasília, DF.: Monergismo, 2010.

[2]O verbo a)poste/llw, significa “enviar’, “mandar” (Mt 2.16; 11.10; Jo 1.6; At 3.20). Primariamente, no grego secular, a palavra com emprego náutico, tinha o sentido de enviar um navio de carga ou uma frota em expedição militar. Somente mais tarde é que a palavra passou a indicar uma pessoa enviada, um emissário. (Vejam-se: K.H. Rengstorf, a)poste/llw: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1983 (Reprinted), v. 1, p. 398-447 (especialmente, a página 407); E. von Eucken, et. al. Apóstolo: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 234-239 (especialmente, a página 234).

[3]Posteriormente, Justino Mártir (c. 100-c.165 AD), também usaria esta expressão para Jesus Cristo (Veja-se: Justino de Roma, I Apologia, São Paulo: Paulus, 1995, 12.9; 63.5, p. 28 e 79).

[4]Em outro lugar (Hermisten M.P. da Costa, A Tua Palavra é a Verdade, Brasília, DF.: Monergismo, 2010) detalho esse tema, tratando de alguns motivos que caracterizam a importância do reconhecimento do Filho como enviado do Pai.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *